quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O Cigarro e a Boca

(Por Dr. Dráuzio Varella*)

Orlando Parise é médico cirurgião do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, especialista em cabeça e pescoço.



Alguns psiquiatras elaboraram longos estudos a respeito da sensualidade associada ao ato de fumar e estabeleceram uma relação entre o gestual de levar o cigarro à boca, o jogo dos lábios e as fases mais precoces da sexualidade.

Muitos são os motivos que podem levar uma pessoa ao hábito de fumar. No entanto, ninguém discute que a fumaça do cigarro e seus componentes – são mais de 4 mil substâncias nocivas – provocam ação deletéria não só na cavidade oral, mas em todo o organismo.


Agressividade da Fumaça do Cigarro

Drauzio – Quais os danos causados pela fumaça carregada de agentes químicos que o fumante joga na boca dezenas ou mesmo centenas de vezes ao dia?

Orlando Parisi – A primeira coisa a considerar é que na fumaça do cigarro não há apenas nicotina e alcatrão. Testes laboratoriais demonstram nela existirem centenas de compostos comprovadamente cancerígenos que agridem a mucosa da boca. Além disso, ela sai do cigarro muito quente. Portanto, os danos à mucosa não advêm apenas dos agentes químicos, mas também da agressão térmica resultante da alta temperatura em que a fumaça é absorvida.

Há, ainda, outra agravante. Associar tabaco a bebidas alcoólicas implica consequências dramáticas, porque o álcool ajuda a dissolver tanto a nicotina quanto as demais substâncias nocivas presentes no cigarro, aumentando sua concentração. Mais concentrados, esses compostos irritam a mucosa e favorecem o aparecimento de lesões na boca que, com o passar do tempo, podem tornar-se malignas. Quem já não viu um fumante, numa roda social, dar uma tragada, pegar um copo de uísque ou de outra bebida qualquer, levá-lo à boca, beber um gole, descansar o copo sobre a mesa e dar nova tragada sem dar-se conta do mal que está causando ao próprio organismo.

Drauzio – O cigarro é uma droga compulsiva, que provoca repetidas, intensas e desagradáveis crises de abstinência. Como ex-fumante, com toda a sinceridade, não acredito existir, hoje em dia, dependente de nicotina que não queira abandonar de vez o cigarro. Como orientar essas pessoas?

Orlando Parisi — De fato, deixar de fumar não é fácil. Já assisti a todos os tipos de tentativas e de fracassos. Por isso, encaminhamos essas pessoas para grupos de apoio nos quais encontrarão profissionais especializados para ajudá-las. Se já houver uma lesão pré-neoplásica, esse recurso assume valor inestimável, porque parar de fumar é questão de sobrevivência.

Lesões Predisponentes Para o Câncer de Boca

Drauzio – Você poderia começar falando das lesões pré-malignas que aparecem na boca?

Orlando Parisi – O câncer da boca basicamente incide sobre a população masculina, na proporção de três homens para cada mulher. Por isso, o cuidado maior deve recair sobre os homens na quarta década de vida e tabagistas. Neles, toda a lesão branca ou vermelha que surgir na boca precisa ser vista e acompanhada por um médico. O termo científico para tais lesões é leucoplasias com eritoplasias. São placas brancas, bem delimitadas, com aspecto mais ou menos característico.

Drauzio — Elas aparecem mais frequentemente em que lugar da boca?

Orlando ParisiAparecem na mucosa da bochecha, na língua ou no assoalho da boca e todo o fumante que notar sua presença deve procurar auxílio médico o mais depressa possível.

Gostaria de ressaltar, porém, que se atribui maior importância a essas lesões predisponentes para a gênese do câncer nos Estados Unidos e na Europa do que nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Aqui, talvez por falta de rastreamento populacional, em 85% dos casos, quando a doença é diagnosticada, o tumor está em fase avançada localmente na boca ou já atingiu os gânglios do pescoço. A terapia indicada nesse estágio da evolução pressupõe cirurgias mais radicais com impacto negativo no resultado final, no alto custo e no comprometimento da aparência física.

Drauzio – Essas lesões sangram necessariamente?

Orlando Parisi – Elas não sangram necessariamente. Na verdade, são muito heterogêneas na apresentação. Algumas formam um tumor na boca; outras, uma ferida ulcerada ou uma placa completamente assintomática. O aspecto é bastante variável. Por isso, qualquer coisa anormal que se note na boca, em especial na borda da língua, é motivo de preocupação e um médico deve avaliar o problema.

Drauzio – Os tumores de boca começam sempre por essas lesões ou eles podem instalar-se sem que elas surjam antes?

Orlando Parisi – Às vezes, eles se instalam diretamente sem que o doente perceba a presença de uma lesão pré-existente.

Exames Periódicos com Especialistas

Drauzio – O fumante, mesmo que não tenha nada, de quanto em quanto tempo precisa ir a um especialista para examinar a boca?

Orlando ParisiNo mínimo, uma vez por ano, de preferência a cada seis meses, o fumante deve submeter-se a exame rigoroso da cavidade oral. No Brasil, quem examina a boca quase sempre é o dentista. Infelizmente, nem todas as faculdades de odontologia preparam esses profissionais para identificar lesões que predispõem ao câncer. Por outro lado, quantas vezes a pessoa vai a um clínico geral que a examina com cuidado, mas não usa o abaixador de língua para olhar a boca o que é uma pena, pois talvez esse fosse o rastreamento populacional mais barato e simples de fazer, já que requer apenas uma lanterninha, o abaixador de língua e o olhar atento de um profissional.

Desse modo, não são raros os pacientes que, pouco tempo depois de uma consulta médica, perceberam alguma coisa estranha na boca durante a higiene oral, ou, pior, pessoas com lesões embaixo da dentadura que procuraram o dentista e tiveram a prótese desbastada para acomodar melhor o tumor que crescia.

Drauzio – Já vi casos de doentes com tumor embaixo da língua, acompanhados por otorrinolaringologistas, que nunca a tinham levantado para verificar se havia algo diferente naquele lugar.

Orlando Parisi – Porque isso pode acontecer, é sempre bom repetir que qualquer coisa estranha que apareça na boca, principalmente na dos fumantes, deve ser vista com muita seriedade.

Incidência do Câncer de Boca

Drauzio – No Brasil, o álcool é barato e muita gente bebe demais. É interessante notar, porém, que nem todos os fumantes têm o hábito de beber. No entanto, quem bebe, normalmente fuma muito. Qual o reflexo desse comportamento na ocorrência do câncer de boca?

Orlando Parisi – De modo geral, estima-se que aproximadamente 90% dos portadores de tumores malignos de cabeça e pescoço ligados ao consumo de tabaco e álcool sejam tabagistas e 70% ingiram álcool com frequência. Na verdade, existem três fatores de risco principais para essa doença: tabaco, álcool e má higiene oral.

Não sei se existem dados confiáveis no Brasil inteiro, mas, na região metropolitana da cidade de São Paulo, ocorre a segunda maior incidência de câncer de boca do mundo. Só perdemos para a Índia. Em termos estatísticos, isso significa que em cada cem mil pessoas, cerca de dezenove desenvolvem câncer de boca.

Outro dado interessante baseia-se nas lesões predisponentes para o câncer de boca. No Estado de São Paulo, a estimativa é que haja cinco mil novos casos de câncer de boca por ano. Se considerarmos que a cada caso correspondem outros cinco de lesões predisponentes que podem demorar 20 anos para transformar-se num câncer, é possível imaginar que, em algum momento dessa etapa evolutiva da carcinogênese no Estado, haverá seiscentas mil pessoas com risco de desenvolver câncer ou com a doença já instalada.

Drauzio – Haverá especialistas em número suficiente para atender tal demanda?

Orlando Parisi – Em termos estaduais, não sei avaliar, mas na cidade de São Paulo é grande o número de cirurgiões de cabeça e pescoço. O grande problema, porém, é que a população de risco pertence, em regra, a um extrato social economicamente mais desfavorecido, que enfrenta enormes obstáculos para receber um serviço de saúde de qualidade. Muitas vezes, quando esses pacientes são atendidos, as lesões já estão em fase bem avançada. Para se ter uma ideia, há números que evidenciam a gravidade da situação.

No norte da Europa e nos Estados Unidos, os programas de rastreamento populacional não obtiveram resultados significativos na redução da curva de mortalidade ou da incidência do câncer de boca, mas conseguiram diagnosticar 85% das lesões ainda na fase pré-maligna, evitando que muitas evoluíssem mal. Aqui, ao contrário, os mesmos 85% representam as lesões malignas que chegam para começar o tratamento em estágio avançado. Por isso, defendo que uma política firme e determinada de rastreamento alcançaria resultados importantes na prevenção do câncer de boca.

Autoexame e População de Risco

Drauzio – Você acha que o autoexame, isto é, a pessoa examinar a própria boca diante do espelho, abaixando a língua com uma colher e erguendo-a em seguida, ajudaria na prevenção da doença?

Orlando ParisiAcho útil, mas é pouco provável que o autoexame ajude a pessoa a diferenciar as lesões benignas das malignas por causa da heterogeneidade de aspecto dessas lesões. Em relação ao câncer de mama, por exemplo, é fácil explicar à mulher a importância de apalpar o próprio seio e, notando algum caroço, procurar imediatamente o médico. Na boca, entretanto, não existe um único sinal característico de lesão maligna. Por isso, insisto: percebendo alguma coisa anormal na boca, a pessoa deve procurar um médico.

Acredito, também, em campanhas de esclarecimento cujo objetivo seja convencer os fumantes acima de 40 anos e as pessoas com história de parentes próximos que tiveram câncer de cabeça, pescoço ou de boca, da necessidade de exames periódicos, uma vez que há certa propensão familiar para essa espécie de tumor.

Outra população particularmente de risco é a que já teve algum tipo de câncer de cabeça ou pescoço e está curada. A recidiva costuma ocorrer em mais ou menos 5% dos pacientes a cada ano que passa. Por isso, o acompanhamento médico tem de ser permanente nesses casos.

Drauzio – É importante frisar que Dr. Parisi está se referindo exclusivamente ao câncer nesse local. Isso não vale para outros tumores. Por exemplo, quem se curou de um tumor de estômago e está curado, dificilmente terá outro câncer gástrico. Nos tumores de cabeça e pescoço, em 5% dos casos ao ano, existe a possibilidade de um segundo tumor primário desenvolver-se nas proximidades do lugar que já foi tratado. Por isso, mesmo os pacientes já curados não podem descuidar-se.

Erradicação do Câncer de Boca

Drauzio O que aconteceria se, num passe de mágica, o cigarro desaparecesse da face da Terra?

Orlando Parisi – Na área médica, o desemprego seria muito grande, porque haveria menos doentes para atender, já que o cigarro responde pelo surgimento de inúmeras doenças.

No caso específico dos tumores de boca, sem dúvida, eles seriam muito raros. E isso é apenas parte da equação. Diminuiria, também, a incidência de câncer de pulmão e de doenças do aparelho cardiorrespiratório, para não mencionar as outras patologias decorrentes da adição do fumo.

Se todos levassem a sério os danos que causa à saúde, o cigarro estaria proibido no mundo inteiro. Mas há quem defenda a não intervenção sobre o tabagismo. O argumento está nos impostos que sobre ele incidem, uma fonte de arrecadação nada desprezível. A mais otimista das análises, porém, indica que para cada real gerado pelo tabaco, o governo gasta R$1,60 com a saúde dos fumantes. São cifras cruas que consideram tão-somente as despesas com saúde sem levar em conta outros gastos maiores. Por exemplo, quanto despendeu a sociedade para formar o indivíduo que morre de câncer no apogeu profissional, aos 50 e poucos anos? Quanto vale o tempo que os doentes perdem de trabalho produtivo?

Aparência da Boca do Fumante

Drauzio – Só de olhar a boca de uma pessoa, você é capaz de dizer se ela é fumante ou não?

Orlando Parisi Sempre há alterações significativas na boca do fumante. A primeira é a halitose. O mau hálito dos fumantes tem características muito peculiares. Depois existem os problemas dos dentes e das gengivas.

Basicamente, o cigarro provoca uma inflamação crônica na mucosa que, irritada, favorece o aparecimento de lesões predisponentes. Constatado o problema, a pessoa deve ser avisada do risco que está correndo se continuar fumando.

Drauzio – Você nota essas alterações mesmo em fumantes jovens de 18 ou 20 anos?

Orlando Parisi — É claro que as alterações são menores em quem fuma há pouco tempo. No entanto, quanto mais longa a exposição ao tabaco, mais evidentes elas serão. Cada indivíduo tem uma capacidade diferente para desenvolver ou não um câncer ligado à dependência de nicotina. Na realidade, já se tentou correlacionar linearmente tempo e exposição ao tabaco para justificar o surgimento de um tumor, mas não se chegou a nenhum resultado preciso, porque o metabolismo dos agentes carcinogênicos do cigarro difere de pessoa para pessoa. Sabe-se que certos indivíduos herdaram características genéticas que os tornam menos vulneráveis aos efeitos do cigarro. Todo doente, aconselhado a parar de fumar, conta a história de um tio que viveu até os 90 anos fumando dois maços por dia. Esse privilégio de alguns está longe de transformar-se numa regra e não garante, em hipótese alguma, que o risco não exista para os outros membros da família.



Uso de Próteses Dentárias

Drauzio – Além do cigarro e das concentrações de casos em certas famílias, há outras causas do câncer de boca? As próteses, que ferem repetidamente a boca, por exemplo, podem provocar o aparecimento de um tumor?

Orlando Parisi – Esse é um dado polêmico. Antigamente se acreditava que havia uma correlação linear entre o mau ajuste das próteses dentárias e o câncer de boca. Todavia, recentemente, foram divulgados estudos criteriosos que não conseguiram comprovar essa hipótese. Pessoalmente não acredito nela, uma vez que, suspendendo o atrito traumatizante, a ferida muitas vezes cicatriza. O problema está no fato de que, em geral, convive com prótese mal ajustada o indivíduo sem condições de usufruir assistência dentária adequada. Além disso, seu uso pode estar associado ao tabagismo e ao alcoolismo, estes, sim, fatores de risco para o câncer em geral e o câncer da boca em particular. A prótese defeituosa pode causar ferimentos que, continuamente expostos às agressões químicas e térmicas provocadas pelo cigarro, transformam-se em lesões predisponentes. Esse é um perigo real a que se expõem inúmeras pessoas.


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*Fonte: Esta matéria foi publicada no site do Dr. Dráuzio Varella


Tabagismo: A Indústria do Fumo e Suas Consequências

(Por Dr. Dráuzio Varella*)

José Rosemberg, professor de Pneumologia e um dos fundadores da Faculdade de Medicina da PUC (SP), tem-se destacado no combate à tuberculose e ao tabagismo.


O cigarro industrializado se disseminou feito praga pela Europa e pelas Américas, especialmente a partir da Primeira Guerra Mundial. A publicidade associava-o a um hábito elegante e sofisticado de viver e, dependendo do contexto, a uma forma de inserção social. Em “Casablanca”, clássico do cinema romântico americano, rodado em 1943, em plena Segunda Grande Guerra, são inesquecíveis as cenas em que o carismático e talentoso Humphrey Bogart dá longas tragadas ao som de “As time goes by”.

Entretanto, nos anos de 1950, alguns trabalhos começaram a demonstrar que o cigarro era capaz de provocar câncer em animais, constatação que as companhias tabaqueiras lutaram por desqualificar. Investindo maciçamente em tal propósito, durante muitos e muitos anos, atingiram seu objetivo. No início da década de 1970, porém, vozes se levantaram contra tamanho absurdo e chamaram atenção para os males que o cigarro provoca. No Brasil, o professor José Rosemberg foi o primeiro a veicular esse conhecimento e a engajar os médicos na luta contra o tabagismo.


Cruzada Antitabagista

Drauzio – O senhor começou essa cruzada antitabagista nos anos 1970. O que o levou a perceber que o cigarro era um problema gravíssimo de saúde pública?

José Rosemberg – Como médico, sabia que o cigarro era mortal, mas não dedicava tanto tempo a divulgar essa informação, porque minha especialidade é a tuberculose. Todavia, em 1970, um amigo dinamarquês, que era presidente e diretor da Organização Mundial de Saúde, me pediu para divulgar na classe médica a importância do combate ao tabagismo, uma vez que a OMS pretendia lançar o primeiro Dia Mundial de Combate ao Tabagismo (31 de maio). Atendendo ao seu pedido, consegui aprovar a primeira Semana Universitária Antitabágica na PUC/SP, que se transformou num grande fórum de discussão a respeito desse tema.

Nessa ocasião, escrevi um artigo de mais ou menos vinte páginas sobre tabagismo e coloquei numa gaveta. Quando o reli, vi que ele não convenceria nem mesmo os médicos interessados no assunto. Redigi, então, uma monografia que foi publicada no primeiro número especial da revista da PUC/SP. A essa publicação seguiu-se “Tabagismo: Sério Problema de Saúde Pública”,laureado pela Academia Nacional de Medicina, o primeiro livro científico brasileiro sobre o tabaco como grave problema de saúde pública. Daí em diante, tenho me dedicado a campanhas de esclarecimento junto à classe médica a respeito do tabagismo.

Atualmente, sou presidente da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira, que tem alcance muito grande, e membro da Comissão Antitabagismo criada pelo Conselho Federal de Medicina. Sou também presidente honorário da Comissão Latino-Americana Antitabágica e presidente do Comitê Coordenador do Tabagismo no Brasil. Esses cargos facilitam meu contato com os médicos e, de vez em quando, com o público leigo como está acontecendo nesta entrevista, que considero muito importante para informar a população sobre os prejuízos que o cigarro provoca.


Indústria do Fumo

Drauzio – Nos anos 1970, quando o senhor começou esse trabalho, como os médicos recebiam a informação de que o cigarro era mortal?

José Rosemberg – A maioria com muito interesse. Havia médicos fumantes que, evidentemente, se interessavam menos. Em 1985, conseguimos formar a primeira comissão junto ao Ministério da Saúde (éramos oito ou dez médicos, mas gostaria de nomear os professores Mário Rigatto, Edmundo Blundi). Tínhamos o trabalho clandestino de elaborar um programa antitabaco. O ministro da saúde da época, Valdir Arcoverde, nos disse – “Quero que vocês apresentem um programa de combate ao fumo, mas, pelo amor de Deus, não digam nada a ninguém, porque a sabotagem contra ele vai ser grande e não tenho meios para combatê-la”. Desse modo, durante um ano, nos reunimos em sigilo, uma vez por mês, em Brasília, elaboramos o primeiro Programa Nacional de Combate ao Tabagismo e José Sarney, presidente da república na época, sancionou o projeto que instituía o dia 29 de agosto como Dia Nacional de Combate ao Tabagismo.

Drauzio – A pressão violenta que levava o ministro da saúde a pedir que o trabalho fosse feito em sigilo era basicamente exercida pela indústria do fumo que na época controlava os meios de comunicação?

José Rosemberg – A indústria tabaqueira internacional – todas elas são multinacionais – controlam os meios de comunicação do mundo. Para ter uma idéia, o programa do congresso norte-americano contra as companhias tabaqueiras fez vir à tona mais de 40 milhões de páginas de atas secretas nas quais, desde 1945, estavam registrados pronunciamentos de técnicos e biólogos a respeito da dependência da nicotina como mais forte do que a da cocaína e heroína. Portanto, muito antes da ciência oficial, a indústria do tabaco já dominava esse conhecimento.

No entanto, ela continuou trabalhando para conseguir geneticamente plantas de tabaco que produzissem maiores teores de nicotina e obtiveram a espécie Y1. As primeiras duzentas toneladas foram plantadas no Rio Grande do Sul, e o próprio plantador percebeu a força que tinha essa planta, chamada de tabaco louco ou fumo louco, pelas lesões que provocava na pele. Felizmente, o governo brasileiro se recusou a conceder patente para tal produto e o mesmo fez o governo norte-americano. No entanto, neste momento, 21 países do mundo fabricam cigarros com fumo louco, que têm teor de nicotina três vezes maior do que o tabaco comum. E o pior, trata-se de nicotina livre, que vai diretamente para o cérebro e é diferente da nicotina presa por sais minerais. Como se vê, o mundo está sendo invadido pelo fumoY1, uma droga psicoativa muito mais difundida e consumida do que a cocaína, a heroína e outras drogas pesadas.


Pandemia do Tabaco

Drauzio – Em seu livro ” Nicotina - Droga Universal”, o senhor se refere à epidemia do tabaco como um problema mundial.

José Rosemberg – Mostro nesse livro que se trata de uma pandemia sem igual. De fato, podemos dizer que a epidemia moderna do tabaco é pior do que qualquer outra. Vou dar um exemplo. Nos últimos 30 anos, o HIV matou, em média, vinte milhões de pessoas no mundo e o bacilo da tuberculose, 60 milhões, enquanto o tabaco matou 150 milhões, ou seja, cinco milhões de pessoas no mundo morrem por ano por causa do tabaco. O mais triste é que 80% da mortalidade ocorrem no mundo pobre.

Em números redondos, atualmente existem no mundo um bilhão e trezentos milhões de fumantes, 80% dos quais concentrados nas áreas onde ainda não foram dominadas as doenças transmissíveis por bactérias e vírus e as doenças carenciais por desnutrição. Somem-se a elas os problemas de saúde pública e as mais de 50 doenças relacionadas com o tabaco e teremos traçado um panorama trágico.

Componentes do Tabaco

Drauzio – Na verdade, são muitas as substâncias tóxicas contidas no tabaco.

José Rosemberg – Sabe-se, hoje, que o tabaco possui mais de sete mil substâncias tóxicas diferentes. O público leigo e muitos médicos pensam que o fumo contém apenas nicotina e alcatrão. Nicotina é a droga que leva à dependência (se não fosse ela, ninguém fumava) e tem a peculiaridade de não ser comprada pura como a cocaína e a heroína. Ninguém compra um grama de nicotina no bar; compra um maço de cigarros, que carreiam consigo sete mil substâncias tóxicas, 4.720 das quais classificadas nas quatorze famílias químicas. Quando o cara dá aquela tragada que lhe parece tão gostosa, a fumaça que penetra até no último de seus alvéolos está carregando pelo menos 2.500 substâncias tóxicas.



Drauzio – Essa fumaça está em que temperatura, professor?

José Rosemberg – Essa é uma pergunta importante. Muitas dessas substâncias não estão no tabaco. São compostas e decompostas na boca do fumante. A temperatura, que pode variar entre 900 e 1.200 graus conforme a força da tragada, é responsável pela formação de muitas substâncias cancerígenas, por exemplo. A nicotina em si não é cancerígena, mas provoca câncer por vários mecanismos.

Drauzio – O senhor poderia mencionar as principais doenças causadas pelo tabaco?

José Rosemberg – Hoje, não há um livro de medicina que deixe de mencionar os problemas de saúde causados pelo tabaco. Em primeiro lugar, vêm as doenças cardiorrespiratórias. Se, no geral, 33% dos infartos fulminantes são provocados pelo tabaco, nos indivíduos entre 45 e 55 anos, esse número sobe para 50%.

A partir dos 50 anos de idade, 25% dos derrames cerebrais têm como causa o tabaco e não há quem não saiba que o derrame cerebral pode levar à morte ou à paralisia. Além disso, 85% dos casos de bronquite crônica, enfisema, uma enfermidade que destrói o pulmão e não tem cura, se devem ao hábito de fumar. E não é só: essas doenças deixam o pulmão mais vulnerável às infecções viróticas e bacterianas, como gripe, AIDS, tuberculose, etc.

Por causa da diminuição da capacidade imunológica dos macrófagos (células que garantem a imunidade) que o tabaco provoca, 90% dos cânceres de pulmão são causados pelo tabaco e os 10% de não fumantes que contraem a doença são fumantes passivos. E tem mais: todos os outros tipos de câncer têm a incidência aumentada entre 30% e 50% nos fumantes. Portanto, casos de câncer de boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rins, bexiga, leucemia mieloide e, nas mulheres, câncer de colo do útero e de mama, estão aumentando nas pessoas que fumam.

Ninguém mais discute que o tabaco é mortal. Na verdade, ele é o único produto que mata quando consumido como manda a propaganda.

Pesquisa na Inglaterra

Drauzio – Não resta mais dúvida de que o fumante vive menos.

José Rosemberg – Que o cigarro encurta a vida, não há mais dúvida. Estatísticas no mundo inteiro atestam esse fato. A propósito, gostaria de citar um estudo realizado, em 1951, com 34.439 ingleses. Eles responderam um questionário de mais de trezentas perguntas sobre como viviam, que medicamentos tomavam, se eram portadores de doenças hereditárias, onde moravam, se eram fumantes ou não, se acendiam o cigarro com fósforos ou com isqueiro, etc. Como na Inglaterra, quando morre um médico, cópia do atestado de óbito vai para o Conselho Britânico de Pesquisas, foi possível verificar, depois de 40 anos de acompanhamento, que os médicos ingleses fumantes morreram mais do que os não fumantes por 33 diferentes doenças.

Outro dado obtido foi que 80% dos médicos que nunca fumaram chegaram vivos aos 70 anos. Entre os fumantes chegaram aos 70 anos 70% dos que fumavam 15 cigarros por dia; 65% dos que fumavam um maço de cigarros e 50% dos que fumavam dois maços. Recentemente, no British Medical Journal, saiu o resultado dessa pesquisa depois de 50 anos de acompanhamento e verificou-se uma diferença no índice de mortalidade dos médicos ingleses que começaram a fumar no começo do século comparados com os que começaram a fumar depois dos anos de 1930. A conclusão foi que hoje se morre três vezes mais por causa do cigarro, porque se fuma muito mais do que se fumava no começo do século.

O impressionante é que 1/3 da mortalidade geral é provocada pelo tabaco e ocorre entre os 34 e os 69 anos, idade em que o homem é mais necessário e economicamente produtivo, e que nessa faixa de idade morre um a cada dois que começaram a fumar na adolescência.

Drauzio – O que acontecerá se esse padrão de consumo não mudar?

José Rosemberg – Hoje, morrem por ano cinco milhões de pessoas por causa do tabaco. Se o padrão de consumo não se reverter, em 2030, morrerão dez milhões por ano, dos quais sete milhões no mundo pobre e três milhões no mundo rico.

Vale a pena discutir essa inversão. A epidemia está se deslocando do mundo rico para o mundo pobre, para a África, Ásia e América Latina, por algumas razões que vou enumerar.

Como as pessoas do mundo rico começaram a fumar antes, já existem campanhas e leis muito mais severas contra o uso do tabaco. Como consequência, as companhias tabaqueiras internacionais estão dirigindo seus esforços para os países em desenvolvimento. Por isso, enquanto o consumo cai 1,7% ao ano nos países ricos, aumenta 2,45% nos pobres. Isso quer dizer que cem milhões de pessoas começam a fumar por ano: oitenta milhões no mundo pobre e vinte milhões no mundo rico.

Se fumar fosse dar uma tragada e cair morto, ninguém fumava. O cigarro leva algum tempo para minar o organismo. Age na surdina. Daqui a dez ou vinte anos, portanto, muito mais gente vai morrer no mundo pobre por causa do tabaco.

Doença Pediátrica

Drauzio – Outro problema é que as pessoas estão começando a fumar cada vez mais cedo.

José Rosemberg – Atualmente se considera a epidemia tabágica uma doença pediátrica, porque 99% dos fumantes começam a fumar na adolescência, entre os 10, 12 anos e os 18 anos, quando os centros nervosos ainda não estão totalmente desenvolvidos. Excepcionalmente, um indivíduo começa a fumar aos 20, 25 anos.

A nicotina chega ao cérebro de 7 a 12 segundos depois da tragada. Lá existem vários centros nervosos que a reconhecem e promovem uma chuva de hormônios psicoativos que levam à dependência. O principal deles é a dopamina. Como no adolescente esses centros ainda não estão maduros, a defesa é muito menor e ele se torna dependente mais depressa. Aos 19 anos, 99% dos fumantes são escravos do tabaco até a morte.

Futuro Trágico

Drauzio – Existe uma projeção de como evoluirá a epidemia do tabaco?

José Rosemberg – Existem no mundo de dois bilhões e meio a três bilhões de pessoas entre zero e trinta anos. Em 2030, elas terão de 35 a 69 anos. Se nada for feito para reduzir o consumo de tabaco, ele será responsável pela morte de 500 milhões de pessoas. Por isso, as instituições médicas e de saúde pública do mundo inteiro estão prevendo um futuro trágico para a epidemia do tabaco.

A pergunta é por que não se proíbe fumar e vender tabaco. Porque é impossível, uma vez que existem no mundo mais de um bilhão de indivíduos nicotino-dependentes. Como fazer essa gente toda parar de fumar?

Há 500 anos, o tabaco vem sendo apresentado como sinônimo de estilo de vida e se fuma muito, mas faz só 50 anos que se sabe que ele mata. Na verdade, o fumante é vítima dessa epidemia. Não podemos estigmatizá-lo.

Convenção-Quadro sobre o Tabagismo

Drauzio – O que o senhor acha que deve ser feito para reverter esse quadro?

José Rosemberg – A saída é um programa educacional em âmbito nacional que leve a mensagem e uma campanha mundial contra o tabagismo. Na Organização Mundial de Saúde, 192 países e 200 ONGS, entre elas a que presido, assinaram um convênio que se chama Convenção-Quadro sobre o Controle do Tabaco que resultou no primeiro tratado de saúde pública mundial de prevenção, o primeiro sobre tabagismo. Se 40 países não fizerem a ratificação desse documento, ele não poderá ser transformado em lei internacional para proteger a população do mundo contra os efeitos nocivos do tabaco. Entre as medidas que defende, estão a proibição da propaganda de cigarro, do patrocínio de eventos culturais e esportivos pela indústria do fumo, de fumar nos lugares públicos e a divulgação de imagens e frases de advertência nos maços de cigarro.

Pode-se proibir fumar nos locais de trabalho ou diversão, mas não se pode proibir que o indivíduo fume em casa. Por isso, a saída é elaborar um programa nacional de educação. Nenhuma lei é aplicável se não tiver base educacional e nenhum programa educacional funciona, se não contar com o amparo da lei. Legislação e educação constituem um binômio interdependente.

Nossa esperança é que até 2050 tenhamos conseguido conscientizar a sociedade de que fumar é um ato antissocial. Faz mal a quem fuma e a quem convive com o fumante.




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*Fonte: Matéria publicada no site do Dr. Dráuzio Varella


domingo, 8 de dezembro de 2013

Cuidados Paliativos: Características e Histórico.

(Texto da ANCP*)

O alívio do sofrimento, a compaixão pelo doente e seus familiares, o controle impecável dos sintomas e da dor, a busca pela autonomia e pela manutenção de uma vida ativa enquanto ela durar: esses são alguns dos princípios dos Cuidados Paliativos que, finalmente, começam a ser reconhecidos em todas as esferas da sociedade brasileira.

Os Cuidados Paliativos foram definidos pela Organização Mundial de Saúde em 2002 como uma abordagem ou tratamento que melhora a qualidade de vida de pacientes e familiares diante de doenças que ameacem a continuidade da vida. Para tanto, é necessário avaliar e controlar de forma impecável não somente a dor, mas, todos os sintomas de natureza física, social, emocional e espiritual.

O tratamento em Cuidados Paliativos deve reunir as habilidades de uma equipe multiprofissional para ajudar o paciente a adaptar-se às mudanças de vida impostas pela doença, e promover a reflexão necessária para o enfrentamento desta condição de ameaça à vida para pacientes e familiares. (Vídeo)

Para este trabalho ser realizado, é necessário uma equipe mínima, composta por: um médico, uma enfermeira, uma psicóloga, uma assistente social e pelo menos um profissional da área da reabilitação (a ser definido conforme a necessidade do paciente). Todos devidamente treinados na filosofia e prática da paliação.

A Organização Mundial de Saúde desenhou um modelo de intervenção em Cuidados Paliativos onde as ações paliativas têm início já no momento do diagnóstico e o cuidado paliativo se desenvolve de forma conjunta com as terapêuticas capazes de modificar o curso da doença. A paliação ganha expressão e importância para o doente à medida que o tratamento modificador da doença (em busca da cura) perde sua efetividade. Na fase final da vida, os Cuidados Paliativos são imperiosos e perduram no período do luto, de forma individualizada.

As ações incluem medidas terapêuticas para o controle dos sintomas físicos, intervenções psicoterapêuticas e apoio espiritual ao paciente do diagnóstico ao óbito. Para os familiares, as ações se dividem entre apoio social e espiritual e intervenções psicoterapêuticas do diagnóstico ao período do luto. Um programa adequado inclui ainda medidas de sustentação espiritual e de psicoterapia para os profissionais da equipe, além de educação continuada.

A condição ideal para o desenvolvimento de um atendimento satisfatório deve compreender uma rede de ações composta por consultas ambulatoriais, assistência domiciliar e internação em unidade de média complexidade, destinada ao controle de ocorrências clínicas e aos cuidados de final de vida. 

Informações sobre a definição de Cuidados Paliativos pela Organização Mundial da Saúde estão no link: http://tinyurl.com/5228js


História dos Cuidados Paliativos

Alguns historiadores apontam que a filosofia paliativista começou na antiguidade, com as primeiras definições sobre o cuidar. Na Idade Média, durante as Cruzadas, era comum achar hospices (hospedarias, em português) em monastérios, que abrigavam não somente os doentes e moribundos, mas também os famintos, mulheres em trabalho de parto, pobres, órfãos e leprosos. Esta forma de hospitalidade tinha como característica o acolhimento, a proteção, o alívio do sofrimento, mais do que a busca pela cura.

No século XVII, um jovem padre francês chamado São Vicente de Paula fundou a Ordem das Irmãs da Caridade em Paris e abriu várias casas para órfãos, pobres, doentes e moribundos. Em 1900, cindo das Irmãs da Caridade, irlandesas, fundaram o St. Josephs´s Convent, em Londres, e começaram a visitar os doentes em suas casas. Em 1902, elas abriram o St. Joseph´s Hospice com 30 camas para moribundos pobres.


Cicely Saunders e os Cuidados Paliativos modernos

Cicely Saunders nasceu em 22 de junho de 1918, na Inglaterra, e dedicou sua vida ao alívio do sofrimento humano. Ela graduou-se como enfermeira, depois como assistente social e como médica. Escreveu muitos artigos e livros que até hoje servem de inspiração e guia para paliativistas no mundo todo. 

Em 1967, ela fundou o St. Christopher´s Hospice, o primeiro serviço a oferecer cuidado integral ao paciente, desde o controle de sintomas, alívio da dor e do sofrimento psicológico. Até hoje, o St. Christopher´s é reconhecido como um dos principais serviços no mundo em Cuidados Paliativos e Medicina Paliativa.

Cicely Saunders conseguiu entender o problema do atendimento que era oferecido em hospitais para pacientes terminais. Até hoje, famílias e pacientes ouvem de médicos e profissionais de saúde a frase “não há mais nada a fazer”. A médica inglesa sempre refutava: “ainda há muito a fazer”. Ela faleceu em 2005, em paz, sendo cuidada no St. Christopher´s.


Cuidados Paliativos no Brasil

O movimento paliativista tem crescido enormemente, neste início de século, no mundo todo. Na Inglaterra, em 2005, havia 1.700 hospices, com 220 unidades de internação para adultos, 33 unidades pediátricas e 358 serviços de atendimento domiciliar. Estes serviços todos ajudaram cerca de 250 mil pacientes entre 2003 e 2004. Na Inglaterra, pacientes têm acesso gratuito a Cuidados Paliativos, cujos serviços são custeados pelo governo ou por doações. A medicina paliativa é reconhecida como especialidade médica.

Nos Estados Unidos, o movimento cresceu de um grupo de voluntários que se dedicava a pacientes que morriam isolados para uma parte importante do sistema de saúde. Em 2005, mais de 1,2 milhão de pessoas e suas famílias receberam tratamento paliativo. Nesse país, a medicina paliativa é uma especialidade médica reconhecida também.

No Brasil, iniciativas isoladas e discussões a respeito dos Cuidados Paliativos são encontradas desde os anos 70. Contudo, foi nos anos 90 que começaram a aparecer os primeiros serviços organizados, ainda de forma experimental. Vale ressaltar o pioneirismo do Prof. Marco Túlio de Assis Figueiredo, que abriu os primeiros cursos e atendimentos com filosofia paliativista na Escola Paulista de Medicina – UNIFESP/EPM.

Outro serviço importante e pioneiro no Brasil é o do Instituto Nacional do Câncer – INCA, do Ministério da Saúde, que inaugurou em 1998 o hospital Unidade IV, exclusivamente dedicado aos Cuidados Paliativos. Contudo, atendimentos a pacientes fora da possibilidade de cura acontecem desde 1986. Em dezembro de 2002, o Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo – HSPE/SP inaugurou sua enfermaria de Cuidados Paliativos, comandada pela Dra. Maria Goretti Sales Maciel. O programa, no entanto, existe desde 2000. Em São Paulo, outro serviço pioneiro é do Hospital do Servidor Público Municipal, comandado pela Dra. Dalva Yukie Matsumoto, que foi inaugurado em junho de 2004, com início do projeto em 2001.

A primeira tentativa de congregação dos paliativistas aconteceu com a fundação da Associação Brasileira de Cuidados Paliativos – ABCP pela psicóloga Ana Geórgia de Melo, em 1997. Contudo, com a fundação da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, em 2005, os Cuidados Paliativos no Brasil deram um salto institucional enorme. Com a ANCP, avançou a regularização profissional do paliativista brasileiro, estabeleceu-se critérios de qualidade para os serviços de Cuidados Paliativos, realizou-se definições precisas do que é e o que não é Cuidados Paliativos e levou-se a discussão para o Ministério da Saúde, Ministério da Educação, Conselho Federal de Medicina - CFM e Associação Médica Brasileira – AMB. Participando ativamente da Câmera Técnica sobre Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos do CFM, a ANCP ajudou a elaborar duas resoluções importantes que regulam a atividade médica relacionada a esta prática. 

Em 2009, pela primeira vez na história da medicina no Brasil, o Conselho Federal de Medicina incluiu, em seu novo Código de ética Médica, os Cuidados Paliativos como princípio fundamental. A ANCP luta pela regularização da Medicina Paliativa como área de atuação médica junto à Associação Médica Brasileira e a universalização dos serviços de Cuidados Paliativos no Ministério da Saúde.


Cenário atual no Brasil

No Brasil, as atividades relacionadas a Cuidados Paliativos ainda precisam ser regularizadas na forma de lei. Ainda imperam no Brasil um enorme desconhecimento e muito preconceito relacionado aos Cuidados Paliativos, principalmente entre os médicos, profissionais de saúde, gestores hospitalares e poder judiciário. Ainda se confunde atendimento paliativo com eutanásia e há um enorme preconceito com relação ao uso de opióides, como a morfina, para o alívio da dor. 

Ainda são poucos os serviços de Cuidados Paliativos no Brasil. Menor ainda é o número daqueles que oferecem atenção baseada em critérios científicos e de qualidade. A grande maioria dos serviços ainda requer a implantação de modelos padronizados de atendimento que garantam a eficácia e a qualidade. 

Há uma lacuna na formação de médicos e profissionais de saúde em Cuidados Paliativos, essencial para o atendimento adequado, devido à ausência de residência médica e a pouca oferta de cursos de especialização e de pós-graduação de qualidade. Ainda hoje, no Brasil, a graduação em medicina não ensina ao médico como lidar com o paciente em fase terminal, como reconhecer os sintomas e como administrar esta situação de maneira humanizada e ativa.

A ANCP prevê que, nos próximos anos, essa situação deverá mudar rapidamente. Com a regularização profissional, promulgação de leis, quebra de resistências e maior exposição na mídia (como na atual novela da TV Globo, Viver a Vida), haverá uma demanda por serviços de Cuidados Paliativos e por profissionais especializados. A ANCP e seus parceiros lutam para que isso de fato se torne realidade. A regularização legal e das profissões, por exemplo, permitirá que os planos de saúde incluam Cuidados Paliativos em suas coberturas. Está provado que Cuidados Paliativos diminuem os custos dos serviços de saúde e trazem enormes benefícios aos pacientes e seus familiares.

A conscientização da população brasileira sobre os Cuidados Paliativos é essencial para que o sistema de saúde brasileiro mude sua abordagem aos pacientes portadores de doenças que ameaçam a continuidade de suas vidas. Cuidados Paliativos são uma necessidade de saúde pública. São uma necessidade humanitária.





Sobre o tema, assista ao vídeo: 


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* Fonte: Academia Nacional de Cuidados Paliativos - ANCP / Novembro de 2009 / Permitida a reprodução desde que citada a fonte.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Cuidados Paliativos: A médica que prescreve poesia na lida diária com a morte.

Texto de Paulo Hebmüller, do Jornal da USP, especial para o USP Online.


“Medicina é simples, difícil é psicologia.”
Ana Claudia Quintana Arantes






Médica lança livro de poesias e conta
experiência profissional e afetiva com pacientes terminais |
Foto: Hospital Albert Einstein
Um paciente alcoólatra, vítima de cirrose e câncer, com a barriga inchada pela doença e a pele tão amarelada a ponto de a estudante de Medicina que foi visitá-lo fazer a comparação com a cor de um canário. Muitos anos depois, ainda é no seu Antônio, o paciente que lhe coube entrevistar no Hospital Universitário (HU) da USP, que a médica Ana Claudia Quintana Arantes identifica o ponto de partida para sua trajetória na área de cuidados paliativos – uma disciplina pouco difundida e que continua cercada por preconceitos no Brasil.

Angustiada porque seu Antônio não conseguia contar sua história – as dores eram grandes demais –, a então terceiranista da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) procurou o professor para saber se havia algum remédio que pudesse aliviá-lo. “Ele fez uma cara de irritado e disse: ‘Eu já tinha dito que era um paciente terminal. Você sabe o que é um paciente terminal?’ Eu disse que sim, mas que ele estava com dor. Aí o professor falou que não tinha nada para fazer”, conta Ana Claudia. “‘Não? Ele está morrendo de dor. Não tem nada para aliviar a dor agora?’ Aí ele respondeu que não, que se eu desse o remédio para dor o fígado não aguentaria. Eu perguntei: ‘Mas você não está me dizendo que não tem mais jeito? Que diferença faz salvar o fígado dele porque não demos analgésico?’ Bom, tomei uma baita de uma cravada…”

“Cuidados paliativos não são abandono; pelo contrário, nós dobramos a escala do paciente.”

É com base em histórias como essa que a médica acredita que sua opção pelos cuidados paliativos “veio pela dor”. Aliás, diz, “a maior parte dos profissionais que trabalham com isso deve a escolha à vivência de uma situação difícil”. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os cuidados paliativos são uma abordagem que melhora a qualidade de vida do paciente e de sua família em caso de doenças que ameacem a continuidade da vida. Eles incluem a avaliação e o controle de forma impecável não somente da dor, mas de todos os sintomas de natureza física, social, emocional e espiritual.

“Todos são portadores de felicidade. Uma pena notar que boa parte da humanidade ainda é assintomática.”

Em outras palavras, os cuidados paliativos focam o conforto e o bem-estar do paciente e dos familiares quando se sabe que a doença não responde mais aos tratamentos convencionais e levará ao desfecho inevitável. Eles representam o contrário da obstinação terapêutica, em que todos os recursos tecnológicos são utilizados para manter a sobrevida – num quadro que, não raro, se traduz numa pessoa inconsciente cujas funções orgânicas só se sustentam porque ligadas a aparelhos. É por essa razão que profissionais de várias correntes defendem que a obstinação terapêutica – ou distanásia – nada tem a ver com prolongamento da vida, mas sim com mero adiamento artificial da morte, causando ainda mais sofrimento ao paciente e à família.

Enquanto nos Estados Unidos existem mais de dois mil programas de cuidados paliativos, no Brasil eles são pouco mais de 30. É bom, entretanto, não confundi-los com as estratégias de “humanização” apregoadas pelos grandes hospitais, alerta a médica. “Humanização é aparência, uma coisa ligada ao discurso corporativo. Os cuidados paliativos trazem humanidade”, defende. “Não se pode pensar num profissional da área que não seja uma pessoa muito boa no que faz. Tem que buscar o melhor em termos de formação, de conhecimento técnico e de atualização, mas tem que ter o coração envolvido.”

“O estado de amorosidade do ser humano deveria se tornar algo como a temperatura ou o pH do sangue: perene, necessário ao bom funcionamento de todos os nossos sistemas, internos e externos.”

Ana Claudia vai lançando suas sementes para tentar envolver mais corações. Formada em 1993, fez residência em Geriatria e Gerontologia no Hospital das Clínicas da FMUSP, pós-graduação em Intervenções em Luto pelo Instituto 4 Estações de Psicologia e especialização em Cuidados Paliativos pelo Instituto Pallium e Universidade de Oxford, na Inglaterra.

Em 2007, criou em São Paulo, ao lado de três colegas, a Casa do Cuidar, organização voltada para a prática e ensino de cuidados paliativos. “Está cheio de gente morrendo mal”, justifica, e avisa: “quando chegar a minha vez, quero alguém que me cuide direito, porque eu vou dar trabalho”.

Foto: Divulgação
Trabalho, por sinal, é o que não falta a esta leonina de 43 anos que se realimenta lendo e escrevendo. Seu blog prescreverpoesia.blogspot é a origem do livro de poemas Linhas Pares (Scortecci Editora, 2012), que Ana lança no próximo sábado, (12) de maio, a partir das 15 horas, na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena, São Paulo).

O volume, ela assina como Claudia Quintana – poeta “tão mais doce e feliz do que a doutora Ana” –, numa apropriada coincidência de sobrenome com Mario Quintana, um de seus autores preferidos.

Os muitos ensinamentos a respeito da vida que os anos de trabalho intenso com pessoas tão próximas da morte lhe trouxeram são um dos temas da entrevista com a médica poeta, que você lê na entrevista completa (em PDF).



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Fontes:

Matéria publicada em USP Brasil: A médica que prescreve poesia na lida diária com a morte.
Editoria: Ex-alunos, Gente da USP, Perfil, USP Online Destaque | Autor: Redação | Data:9 de maio de 2012.

Vídeo divulgado por Conti Outra, Artes e Afins.



Respiração adequada durante a atividade física


Todo mundo sabe que respirar pelo nariz geralmente é melhor porque o ar entra quente e úmido no pulmão, além de ser filtrado pelos cílios das narinas.

No entanto, durante a atividade física, o corpo precisa de uma ventilação maior, especialmente nos exercícios mais intensos e, por isso, a respiração precisa ser adequada, como explicaram o médico do esporte Gustavo Magliocca e o fisiologista do exercício Paulo Correia.

Como a necessidade de ventilação é maior durante o movimento, muitas vezes o nariz não é capaz de atendê-la sozinho - por isso, muita gente costuma abrir a boca para respirar e, de acordo com os médicos, isso é normal e não chega a trazer problema. Inclusive, a respiração também pela boca ao se exercitar é essencial para garantir conforto durante a atividade. Caso a pessoa não respire do jeito certo na hora do exercício, ela pode começar a sentir dor ou desconforto.

Na musculação, por exemplo, o correto é expirar no momento do esforço e inspirar no retorno, como explicou o fisiologista do exercício Paulo Correia.

Quando a pessoa expira, os músculos abdominais se contraem e garantem maior sustentação do corpo para a realização do movimento. Nesse caso, respirar do jeito errado ou ao contrário pode provocar dor e desconforto, além de desperdiçar o exercício.


Clique na imagem para ampliá-la.

Já na corrida não existe uma regra para respirar. Muitas pessoas acreditam que é preciso inspirar pelo nariz e soltar pela boca, mas na verdade, isso varia de acordo com o ritmo do exercício.

No começo, por exemplo, a pessoa pode até conseguir respirar dessa maneira, mas quando o tempo passa, mesmo correndo na mesma velocidade, a intensidade do movimento aumenta e o corpo pede mais ventilação – nessa hora, a respiração pela boca se torna fundamental. Ficar preso a um modelo de respirar pode causar uma falta de coordenação e causar aquela dor lateral que muita gente reclama, além de cansar mais rápido.

Essa dor, segundo o médico do esporte Gustavo Magliocca, é provocada por uma espécie de câimbra do diafragma, causada pela maneira inadequada de respirar. Além de ficar preso a um modelo só respiração, outra causa dessa dor é conversar durante o exercício. Por isso, para evitar essa dor, a dica é não conversar e respeitar a necessidade do corpo.

Algumas pessoas costumam ainda usar expansores nasais, que são aqueles adesivos colados no nariz.

Segundo o fisiologista do exercício Paulo Correia, esses expansores facilitam a entrada de ar durante o exercício, o que aumenta o conforto na hora de se exercitar. Mas o especialista alerta que eles não melhoram o desempenho na corrida, apenas tornam mais fácil a execução da atividade.

Como queimar mais calorias na corrida?

Muita gente gosta de correr, mas não sabe a velocidade certa para perder peso. Um teste chamado de ergoespirométrico é capaz de avaliar o consumo de oxigênio no exercício, como mostrou a reportagem da Daiana Garbin. O ideal, para perder gordura, é estar em um ritmo acima de 65% do consumo máximo de oxigênio e, através do teste, é possível saber qual a velocidade na esteira que atinge esse percentual.

Segundo o médico do esporte Gustavo Magliocca, quando a pessoa caminha ou corre em uma mesma velocidade, ela perde uma quantidade de calorias.

Porém, se ela alterna a velocidade e eleva os batimentos cardíacos em picos, ocorre um consumo maior de oxigênio não só durante, mas horas após o exercício, o que faz o metabolismo permanecer acelerado por mais tempo e, consequentemente, ajuda a queimar mais calorias por mais tempo. Por isso, dar alguns tiros durante a corrida ajuda a emagrecer mais rápido, como mostrou o especialista.

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Matéria publicada em: G1 - Bem-Estar


E quem, afinal, é perfeito?


Que padrões de beleza são esses que ignoram a beleza da diversidade? E quem, afinal, é perfeito? 

São perguntas como essa que a Pro Infirmis, uma organização dedicada às pessoas com deficiência, quis responder com essa ação idealizada pela Jung Von Matt/Limmat. Em uma iniciativa que lembra a premiada campanha Real Beauty, de Dove, a agência suíça pediu a um designer que refizesse alguns manequins para que eles ficassem iguais aos corpos de pessoas com deficiência.

Esses novos manequins foram expostos nas vitrines de lojas famosas de Zurich, chamando a atenção de quem passava na calçada. Uma ação para aplaudir de pé – confira no vídeo.








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Fonte: Blue Bus
Sugestão de Liliane Almeida.

Saiba o que as mudanças drásticas de temperatura fazem com seu corpo

Cardíacos, alérgicos, idosos e crianças são os mais vulneráveis aos efeitos do tempo.

(Texto de Flávia Duarte - Revista do CB.)

Nesta época do ano, é rotina sair de casa com uma roupa leve, mas sem cometer o desatino de não ter à mão um casaco e um guarda-chuva para a mudança de tempo ao longo do dia. Muitas vezes, a variação climática traz o frio, o calor, além da umidade da chuva, em poucas horas. A instabilidade do clima é sentida pelo organismo, que a cada hora faz um esforço diferente para manter a temperatura interna ideal.

Os sistemas respiratório e cardiovascular são os mais exigidos na virada brusca de estação e deixam mais vulneráveis os alérgicos e os que sofrem do coração. “As quedas bruscas de temperatura geralmente funcionam como irritantes das vias aéreas, embora tenhamos como função das cavidades nasais o aquecimento e a umidificação do ar. Essa irritação pode levar à quebra das defesas locais, facilitando principalmente as infecções respiratórias”, alerta o pneumologista João Daniel Bringel, do Hospital Santa Helena.

Veja o que acontece:
(>> Imagem Ampliada <<)



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Fonte: Site UAI - Saúde Plena - Publicação:07/12/2013 11:00Atualização:06/12/2013 16:49

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Asma: Características, Diagnóstico, Tratamento.




A asma afeta cerca de 10% da população brasileira, sendo que internações por asma ainda são a 4ª maior causa de hospitalização pelo Sistema Único de Saúde. É mais comum entre jovens do que em idosos. Costuma começar mais cedo nos meninos, mas ser mais grave em mulheres. Em adultos, a prevalência é similar entre homens e mulheres.

A asma é uma doença inflamatória crônica das vias respiratórias que causa redução ou obstrução recorrente no fluxo de ar. Esta obstrução por estreitamento de vias aéreas é geralmente reversível, porém o agravamento da inflamação pode tornar este estreitamento irreversível.

A causa está relacionada a interação entre fatores genéticos e ambientais, e a doença se manifesta como uma crise de dispnéia (dificuldade para respirar) devido ao edema da mucosa dos bronquíolos, produção de muco nas vias aéreas e a contração da musculatura lisa das vias aéreas (broncoespasmo), tosse e sibilos ("chiado). Sintomas aparecem de forma cíclica, em qualquer hora do dia, mas costumam ser piores à noite. 

As características dessa doença incluem a presença de células inflamatórias nas vias aéreas, exsudato de plasma, edema, hipertrofia muscular, bolhas de muco e descamação do epitélio.


Ataque de asma 


Diagnóstico

O diagnóstico é feito baseado nos sinais e sintomas que surgem de maneira repetida e que são referidos pelo paciente.

No exame físico, poderá ser constatada a sibilância nos pulmões, principalmente nas exacerbações da doença. Contudo, nem toda sibilância é devido à asma, podendo também ser causada por outras doenças. Nos indivíduos que estão fora de crise, o exame físico poderá ser completamente normal.

Existem exames complementares que podem auxiliar, dentre eles estão: a radiografia do tórax, exames de sangue e de pele (para constatar se o paciente é alérgico), a espirometria, que identifica e quantifica a obstrução ao fluxo de ar, e o teste de bronco provocação com substâncias pró-inflamatórias, como a histamina e a metacolina. 

O asmático também poderá ter em casa um aparelho que mede o pico de fluxo de ar, importante para monitorar o curso da doença. Nas exacerbações da asma, o pico de fluxo se reduz.

O exame "gold standard" para o diagnóstico da asma é a análise dos valores de Óxido Nítrico exalados. O Óxido Nítrico é um marcador direto da inflamação e através da sua concentração em ppb (partes por bilião) podemos inferir diretamente a gravidade do episódio.

A análise do FENO (Fracção do oxido nítrico exalado) permite não apenas o diagnóstico da asma, mas também avaliar a resposta ao tratamento e o seu cumprimento, avaliar a resistência a esteroides, otimizar a dose terapêutica, efetuar uma retirada segura da terapêutica inalável e aumentar a eficiência econômica no tratamento e diagnóstico da asma.

A execução deste exame não é tão dependente da colaboração do paciente como a espirometria. É um exame fácil, fiável, seguro, sensível e pode ser usado mais de uma vez.

É importante que seja feita a distinção entre a asma e a DPOC, mesmo em pacientes mais velhos, pois o controle de cada doença contempla diferentes estratégias. A DPOC é confirmada por meio de um teste de diagnóstico simples chamado "espirometria", que mede a quantidade de ar (volume) que uma pessoa pode inspirar e expirar e a rapidez com a qual o ar circular para dentro e fora do pulmão.

Um medidor do ápice do fluxo expiratório serve para diagnosticar a asma e verificar se está diminuindo ou aumentando.









Classificação

De acordo com os padrões das crises e testes, a asma pode ser classificada em:

Asma Intermitente:

Sintomas menos de uma vez por semana;
Crises de curta duração (leves);
Sintomas noturnos esporádicos (não mais do que duas vezes ao mês);
Provas de função pulmonar normal no período entre as crises.

Asma Persistente Leve:

Presença de sintomas pelo menos uma vez por semana, porém, menos de uma vez ao dia;
Presença de sintomas noturnos mais de duas vezes ao mês,porém, menos de uma vez por semana;
Provas de função pulmonar normal no período entre as crises.

Asma Persistente Moderada:

Sintomas diários;
Crises afetam as atividades diárias e o sono;
Presença de sintomas durante o sono pelo menos uma vez por semana;
Provas de função pulmonar: pico do fluxo expiratório (PFE) ou volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF¹) >60% e < 80% do esperado.

Asma Persistente Grave:

Sintomas diários;
Crises frequentes;
Sintomas noturnos frequentes;
Provas de função pulmonar: pico do fluxo expiratório (PFE) ou volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF¹) > 60% do esperado.


Tratamento

Para se tratar a asma, a pessoa deve ter certos cuidados com o ambiente, principalmente na sua casa e no trabalho, além de usar medicações e manter consultas médicas regulares. Técnicas fisioterapêuticas se mostram bastante eficientes. Os medicamentos podem ser divididos em duas classes: de alívio e de manutenção.


Broncodilatadores

Os broncodilatadores são utilizados principalmente como medicações de alívio para cortar uma crise de asma.

É um medicamento, como o próprio nome diz, que dilata os brônquios (vias aéreas) quando o asmático está com falta de ar, chiado no peito ou crise de tosse. Existem broncodilatadores chamados beta-2 agonistas - uns apresentam efeito curto e outros efeito prolongado (que dura até 12h). Os de efeito curto costumam ser utilizados conforme a necessidade. Se a pessoa está bem, sem sintomas, não precisará utilizá-los. Já aqueles de efeito prolongado costumam ser utilizados continuamente, a cada 12 horas, e são indicados para casos específicos de asma. Além dos beta2-agonistas, outros broncodilatadores, como teofilinas e anticolinérgicos, podem ser usados.

Um inalador típico, broncodilatador.
Anti-inflamatórios

Utilizados principalmente para evitar e prevenir crises (manutenção), os corticóides inalatórios são, atualmente, a melhor conduta para combater a inflamação, sendo utilizados em quase todos os asmáticos. 

Só não são comumente usados pelos pacientes com asma leve intermitente (que têm sintomas esporádicos). Tais medicamentos têm o intuito de prevenir as exacerbações da doença ou, pelo menos, minimizá-las e aumentar o tempo livre da doença entre uma crise e outra. Normalmente são utilizados de maneira contínua (todos os dias), já que combatem a inflamação crônica da mucosa brônquica, que é o substrato para os acontecimentos subsequentes.

Existem outras possibilidades de tratamento, como o cromoglicato de sódio (bastante utilizado em crianças pequenas), o nedocromil, o cetotifeno e os antileucotrienos. Este último é relativamente novo e pode ser usado em casos específicos de asma ou associado aos corticóides.

Tanto os broncodilatadores quanto os anti-inflamatórios podem ser usados de várias formas:

-Nebulização;
-Nebulímetro ("spray" ou "bombinha");
-Inaladores de pó seco (através de turbuhaler, rotahaler, diskhaler ou cápsulas para inalação);
-Comprimido;
-Xarope.

Os médicos geralmente dão preferência ao uso das medicações por nebulização, nebulímetro ou inaladores de pó seco por serem mais eficazes e causarem menos efeitos indesejáveis.

Psicológico

Como emoções mudam a frequência respiratória, endócrina e cardíaca, diferentes tipos de respostas emocionais negativas, especialmente tristeza e ansiedade intensa associadas a experiências de vida estressantes, podem desencadear respostas colinérgicas que contribuem para a broncoconstrição e consequentemente com a exacerbações da asma.

Períodos de grande estresse aumentam as chances de crises agudas.

Fisioterapia

Os procedimentos executados contribuem para melhorar a ventilação, auxiliar no relaxamento da musculatura respiratória, higienizar a via aérea hipersecretiva, além de prevenir a busca por serviços de emergência e hospitalizações, melhorar a condição física e aprimorar a qualidade de vida dos indivíduos acometidos.

Em crianças

Nas crianças, o tratamento são trabalhos de exercícios respiratórios reexpansivos passivos, através de manobras de desobstrução brônquica, drenagem postural e inalações, com estímulo de tosse se necessário. Crianças com boa capacidade colaborativa e coordenação desenvolvida podem se beneficiar de técnicas de treino de padrão ventilatório.

Em adultos

Em adultos, o tratamento enfatiza os alongamentos globais, exercícios aeróbios, exercícios respiratórios reexpansivos, acompanhamento da evolução do fluxo respiratório e acompanhamento dos exercícios com uso de oxímetro, se necessário. Em alguns casos é necessário um trabalho de higiene brônquica, associada à aspiração de secreção brônquica (catarro), comum em pacientes infectados. Quando a hiperinsuflação pulmonar está presente, são utilizadas técnicas de desinsuflação pulmonar visando aumentar o volume de ar corrente.

Em estágios mais avançados do tratamento, é necessário o uso de incentivadores respiratórios, respiradores mecânicos não-invasivos, onde o paciente apresenta certa estabilidade do quadro, visando o condicionamento físico aliado à resistência pulmonar vitais para a diminuição das crises asmáticas. Exercícios posturais para relaxamento, mobilidade, alongamento e fortalecimento também são fundamentais para corrigir deformidades torácicas e posturais, comuns nos casos de doença avançada e com crises frequentes.
Tratamento das crises/exacerbações.

O doente asmático deve saber distinguir a medicação de manutenção da medicação a usar nas crises graves e situações de emergência. Deve ter-se em atenção que muitas vezes as embalagens podem ser iguais e que nem sempre se trata de seguir as cores, isto é, a embalagem vermelha nem sempre é para as crises e a verde nem sempre é para a manutenção; depende da marca comercial.

No tratamento dos ataques graves usam-se normalmente:

Corticosteróides (particularmente os de administração por via sistémica)
Agonistas adrenérgicos beta-2 inalados (salbutamol, terbutalina e fenoterol por exemplo)
Anticolinérgicos (Brometo de Ipratrópio ou de Tiotrópio)

Prevenção

Não há como prevenir a existência da doença, mas sim as suas exacerbações e seus sintomas diários. O médico responsável poderá prescrever corticosteróides, beta2-agonistas de longa duração e os antileucotrienos. 

Um bom controle ambiental, evitando exposição aos catalisadores da crise asmática, e o acompanhamento fisioterapêutico são outros métodos de prevenção.


Fatores de risco e prognóstico

O prognóstico para asmáticos é bom, especialmente para crianças com a doença . Para os asmáticos diagnosticados durante a infância, 54% não irão ter mais o diagnóstico após uma década. A extensão do dano permanente ao pulmão em asmáticos ainda não é clara.

Alguns dos fatores de risco potencial no prognóstico da asma brônquica são a hiper-reatividade das vias aéreas, alergia atópica, infecções respiratórias, tabagismo, condições climáticas e o início da doença em idade precoce. Já como fatores precipitantes e agravantes incluem-se os alergênios (pelos de animais, fungos, pólens, insetos, etc), irritantes (tintas, aerossóis, perfumes, produtos químicos, fumaça de cigarro, etc), condições climáticas desfavoráveis (poluição, ar frio, etc), infecções (geralmente as virais), exercícios físicos, fatores emocionais, refluxo gastroesofágico, fatores endocrinológicos e a hipersensibilidade não alérgica a fármacos e produtos químicos.

Pesquisadores do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) estão desenvolvendo um método de diagnóstico e de tratamento para ajudar na qualidade de vida de pessoas que sofrem de asma. A intenção é que essa nova forma de avaliação das condições do paciente possibilite a prática de atividades físicas com segurança.



Os pesquisadores de São Carlos (SP) buscam determinar qual melhor exercício para cada paciente com a doença. Eles estão desenvolvendo um método para identificar crises de forma mais rápida e barata durante determinadas atividades físicas, utilizando a ajuda de um equipamento portátil para se fazer o diagnóstico. No método atual são necessários uma esteira, vários equipamentos para verificar o fôlego do paciente antes e depois do exercício e uma equipe grande de profissionais.

Pessoas com esse tipo de problema evitam exercícios, mas eles são essenciais para a saúde. O fisioterapeuta Vinicius Minatel relata que por vezes deixa as atividades físicas de lado: “Comecei a ter recorrentes crises de asma no ano. E sempre tem alguém que fala para fazer natação porque natação é bom, ou fazer caminhada, mas a gente sabe que não é bem assim”.

De acordo com a pesquisadora da UFSCar, Adriana Sanches Garcia de Araujo, quem tem crises não consegue realizar as atividades físicas: “É importante dizer que os exercícios melhoram a capacidade pulmonar e com o tempo a pessoa tem as crises reduzidas, mas isso tem que ser programado e acompanhado“.

A voluntária Ivana Gonçalves Labadessa sentiu melhoras com o tratamento: “A intensidade dos exercícios vai aumentando aos poucos e eu já sei quais são os meus limites. Se eu estiver condicionada, sinto a diferença. As minhas crises de asmas ficam bastante espaçadas e não tenho desconforto respiratório”.

A pesquisadora Adriana disse que, com o equipamento, consegue reduzir as crises, detectar e evitar uma crise mais grave. Além disso, o método barateia os custos dos testes, facilita no diagnóstico preciso e possibilita encontrar o melhor exercício e a intensidade adequada para cada pessoas.

Segundo a pneumologista Fabíola Paula Galhardo Rizzatt, “uma criança tosse bastante após alguma brincadeira com atividade física intensa, não consegue correr tanto quanto seus amigos, pára no meio das atividades com tosse, tosse no período noturno, pode estar com asma”.

Os interessados podem ser voluntários da pesquisa e participar dos testes. É preciso ter entre 18 e 45 anos e entrar em contato com o Departamento de Fisioterapia da UFSCar pelo telefone (16) 3551-8343.


Fontes:



Sites sobre o tema:


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