segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Cama de Banho para pacientes acamados

Dar banho a uma pessoa acamada é uma tarefa muito importante: além dos cuidados higiênicos essenciais, proporciona uma sensação de bem-estar e relaxamento, e permite ao cuidador avaliar o estado da pele da pessoa, aplicar um creme hidratante e ministrar pequenas massagens que ativam a circulação. É ainda um momento propício para a conversa e o convívio.

Encontrei na web um vídeo sobre um dispositivo interessante chamado "cama de banho". Apesar de não ter maiores informações sobre preço ou sobre a empresa que o disponibiliza, achei importante postar aqui para conhecimento. Caso algum cuidador se interesse pela ideia, sugiro que pesquise direitinho sobre o produto e sobre as indicações, ok?

Abçs! :)

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Fontes: 




sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Fisioterapia Uroginecológica


Dra Mônica Lopes atua na área da fisioterapia uroginecológica, coloproctológica e obstétrica, tratando e prevenindo as alterações da musculatura perineal . Para as mulheres, a fisioterapia é de suma importância na prevenção dos prolapsos (queda de órgãos), da incontinência urinária e fecal, e até em algumas disfunções sexuais , além de possuir papel relevante no pré e pós parto e em determinadas cirurgias ginecológicas. Para os homens, trata das alterações miccionais advindas principalmente das cirurgias prostáticas.

Abaixo, saiba um pouco mais sobre o períneo (ou assoalho pélvico) e suas alterações:

O que é Períneo ou assoalho pélvico?

A palavra períneo (músculos do assoalho pélvico) advém do grego e significa “o espaço entre o ânus e o escroto”. Apesar de ser uma palavra masculina, muitos homens acreditam que só as mulheres possuem períneo, devido à sua correlação com o parto, porém essa musculatura possui importante funções para ambos os sexos, tanto no apoio da vísceras, na continência urinária e fecal, e também na função sexual. Suas alterações incluem a hipotonia (flacidez), as alterações em sua inervação e a hipertonia (rigidez). A fisioterapia objetiva normalizar o tônus desses músculos para devolver, prevenir ou aprimorar a função envolvida com sua alteração, seja ela, miccional, fecal, estrutural ou sexual.

Incontinência Urinária:

A Sociedade Internacional de Continência define IU como qualquer perda involuntária de urina. Ambos os sexos podem sofrer com a incontinência urinária, sendo sua maior prevalência em mulheres.

Atribui-se essa prevalência ao fato de a mulher apresentar, além da uretra, duas falhas naturais no assoalho pélvico: o hiato vaginal e o hiato retal, o que lhes confere maior fragilidade em relação ao assoalho pélvico masculino.

Dentre as causas estão:

• Gravidez e parto;
• Obesidade;
• Doenças que comprimem a bexiga;
• Tosse crônica;
• Comprometimento da musculatura dos esfíncteres ou do assoalho pélvico;
• Tumores malignos como câncer de próstata no homem;
• Tumores benignos como aumento da próstata no homem;
• Quadros pulmonares obstrutivos que geram aumento da pressão intra-abdominal;
• Bexigas hiperativas que contraem independentemente da vontade de urinar;
• Procedimentos cirúrgicos ou radioterapia que lesem os nervos do esfíncter masculino.

Incontinência Fecal:

Incontinência fecal é um distúrbio que compromete muito a qualidade de vida de inúmeros homens e mulheres e é definida como a incapacidade de controlar a eliminação das fezes.

As causas da IF são:

• Cirurgias no períneo;
• Traumas;
• Cirurgias para tratamento de câncer;
• AVC;
• Esclerose múltipla;
• Diabetes;
• Envelhecimento.

Prolapso (queda de bexiga, útero ou reto):

Não é tão difícil já ter ouvido alguma mulher se queixando de “bexiga caída”, uma expressão popular do prolapso.

O prolapso é definido como queda ou deslocamento de um órgão de seu lugar normal, em extensão variável, por insuficiência de seus meios de fixação. Na região pélvica pode ocorrer prolapso da bexiga (cistocele), do útero (histerocele) e do reto (retocele). Sua prevalência é variável, podendo chegar a 40%.²

Vários são os fatores de risco dos prolapsos, como:

• Pariedade: A chance do aparecimento de algum grau de prolapso aumenta com mais de um parto vaginal.

• Idade: Com aumento da idade ocorrem alterações do colágeno que podem levar a deficiência na sustentação dos órgãos pélvicos.

• Menopausa e pós-menopausa (devido a deficiência estrogênica).

• Fraqueza dos músculos perineais.

Os músculos perineais auxiliados pelos ligamentos são responsáveis pela sustentação dos órgãos pélvicos.

Disfunções Sexuais Femininas:

O prazer feminino ainda possui muitos mistérios. Enquanto o homem conta com tratamentos eficazes para a disfunção erétil, a mulher sonha com a pílula do prazer.

Segundo o Estudo da Vida Sexual do Brasileiro (EVSB), realizado por Abdo et al.(2004) , no qual foram entrevistadas 3148 mulheres 50,9% referiram alguma disfunção sexual que culmina, muitas vezes, na dificuldade em atingir o orgasmo ou na própria ausência dele.

A maioria das disfunções sexuais é secundária a conflitos psicossociais. Entretanto, fatores orgânicos são muitas vezes subjugados e, portanto, muitas destas pacientes provavelmente perderiam um grande aliado na terapêutica adequada.

As causas orgânicas normalmente se traduzem por afecções ginecológicas, redução sintomática das taxas hormonais e o inadequado comportamento da musculatura perineal. Além disso, em muitos casos as alterações psicossociais e orgânicas poderão estar associadas.

O conceito de fisioterapia uroginecológica se traduz pelo reconhecimento das disfunções relacionadas a estes músculos perineais ou do assoalho pélvico, seguida do tratamento através de exercícios de fortalecimento e coordenação com auxílio de equipamentos tais como biofeedback, eletroestimulador, cones e até mesmo “ben-wa” (utilizadas no pompoarismo).

O tratamento fisioterapêutico proporcionará a estas mulheres uma conscientização da musculatura envolvida na atividade sexual, proporcionando com isso uma intensificação do prazer, facilitando a obtenção do seu orgasmo e, por conseguinte, gerando enorme satisfação ao seu parceiro, além de auxiliá-la na prevenção dos indesejáveis sintomas de incontinência urinária e fecal.

Alterações Miccionais no HOMEM:

O homem, diferentemente da mulher, possui menos causas para desenvolver incontinência urinária. Quando isso ocorre, geralmente está associado a alterações na próstata, como seu aumento ou, em alguns casos, no aparecimento de tumor.

Outras causas para os distúrbios miccionais masculinos são as bexigas hiperativas idiopáticas (bexiga que se contrai na fase que deveria estar relaxada), algumas doenças neurológicas (como Parkinson, Diabetes, esclerose múltipla…) e traumatismos como nas lesões medulares.

As indicações para tratamento fisioterapêutico são para aqueles que possuem incontinência urinária pós-prostatectomia (retirada da próstata). A prevalência de incontinência urinária pós-prostatectomia varia de 6 a 69%, dependendo do método utilizado para medir a incontinência e a habilidade do cirurgião.

O tratamento é indolor e possui altas taxas de sucesso!


INDICAÇÕES DA FISIOTERAPIA UROGINECOLÓGICA

• Incontinência Urinária De Esforço
• Incontinência Mista
• Urgência Miccional
• Incontinência De Urgência
• Iu Masculina (Pós-Prostatectomia Ou RTU)
• Preparação Da Mulher Para O Parto
• Incontinência Do Pós- Parto
• Disfunção Sexual Feminina (DSF)
• Pré E Pós-Operatórios De Cirurgias Ginecológicas
• Incontinência Fecal

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Texto retirado da página da Clinica Salutaire em 21/11/2014.

Fisioterapia Hospitalar: quebrando paradigmas

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Cigarro X Saúde Musculoesquelética


As lesões pulmonares e cardiovasculares provocadas pelo cigarro são amplamente divulgadas e conhecidas, porém, as lesões ortopédicas do cigarro são raramente discutidas e, por isso, seguem desconhecidas pelo público em geral. O objetivo dessa entrevista é chamar a atenção dos fumantes ativos e passivos para os riscos do desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas relacionadas ao cigarro.

O cigarro provoca lesões nos ossos e articulações?

Sim, temos diversos trabalhos científicos na literatura que descrevem essas lesões. 

Quais estruturas são lesadas pelo cigarro?

A cigarro está relacionado ao desenvolvimento de osteoporose. Além disso, leva ao retardo da consolidação óssea, à pseudartrose na fratura, e age diretamente na obstrução da microcirculação dos tendões. A lesão na microcirculação leva à ruptura e à dificuldade de cicatrização dos ligamentos e tendões. Há trabalhos publicados que mostram essa associação no desenvolvimento das lesões do manguito rotador, ou seja, quem fuma tem maior chance de desenvolver rupturas do manguito rotador e pior prognóstico após a ruptura desses tendões.  

Pacientes com fratura podem fumar?

Não, o cigarro é terminantemente proibido durante o processo de cicatrização da fratura. Quando um fumante quebra um osso, não temos como interferir nas lesões causadas na microcirulação durante todos os anos em que o paciente fumou, porém, podemos orientá-lo a parar de fumar durante o período de consolidação óssea. 

O que ocorre se o fumante com fratura não quiser parar de fumar?

Se estou tratando um paciente com fratura e ele necessitará de cirurgia, a conduta é simples: ou ele para de fumar ou troca de médico. Não realizo osteossíntese em pacientes fumantes que irão permanecer fumando no pós operatório. 

Quais o riscos do paciente fumante que tem uma fratura?

O paciente fumante evolui com aumento do tempo para colar uma fratura e, algumas vezes, a fratura simplesmente não cola. Desenvolve o que é denominado pseudartrose (falsa articulação), e o membro começa a fazer movimentos anormais no local fraturado. 

Porque o fumo está relacionado a tendinopatia do manguito rotador?

O fumo ativo, e também o fumo passivo, levam a alterações da microcirculação sanguínea, elevando a incidência de inflamações e dificultando a cicatrização dos tecidos tendinosos. 

Como está provado que o cigarro causa danos aos ossos, articulações e tendões?

O estudo sobre os malefícios do fumo, e particularmente do cigarro, é feito por meio de estudos observacionais na população fumante. Exemplo: O câncer de Pulmão apresenta uma incidência muito maior em pacientes fumantes. Nem todos os fumantes irão desenvolver câncer de pulmão, porém a incidência de câncer é 20 vezes mais frequente nos fumantes quando comparado com a população em geral. Estudos semelhantes são feitos com patologias ortopédicas, e observa-se que os pacientes  fumantes apresentam maior dificuldade de cicatrização tecidual, defeito na microcirculação. Observa-se também que o cigarro é um coadjuvante no desenvolvimento da osteoporose. 

De que maneira o fumo atrapalha a cirurgia ortopédica?

Quando operamos um paciente, reconstruímos seus tecidos, colocamos os ossos no lugar (quando realizamos uma osteossíntese) e costuramos os tendões e ligamentos. Ao final da cirurgia, inicia-se o processo de cicatrização dos tecidos. Tanto os tecidos reparados quando os produzidos pela incisão cirúrgica feita para se chegar até as estruturas lesadas deverão cicatrizar-se adequadamente. O cigarro atrapalha esta cicatrização, portanto, atrapalha diretamente o prognóstico da cirurgia. 

Como ocorrem as lesões provocadas pelo cigarro nos tecidos ósseos e tendinosos?

O mecanismo é o dano a microcirculação. Um tecido com menor aporte sanguíneo devido a problemas na microcirculação tem maior dificuldade de lidar com as reações pós operatórias. 

Exemplo: 

Imagine que os pequenos vasos estejam um pouco entupidos. Nessa situação, o tecido recebe menos sangue, e o sangue é o carreador de oxigênio que nutre as células. Com pouco oxigênio, as células ficam fracas e têm dificuldade para lutar contra bactérias geradoras de infeção.
O sangue também leva as células de defesa (glóbulos brancos) até os tecidos inflamados. Se chega menos sangue, há também menos células de defesa, e maior possibilidade de infecção. 

O sangue nutre os tecidos, tecidos com pouco sangue se deterioram e tecido morto é caldo de cultura para bactéria, o que também leva à infecção. 

Tecidos com pouco sangue têm dificuldade de produzirem novas células, o que significa retardo ou não cicatrização dos tecidos, pseudartrose e rupturas tendinosas.

Para piorar a situação, o fumo atrapalha o metabolismo do cálcio e os pacientes, levando a uma maior incidência de osteoporose. 

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Ortopedista, Traumatologia e Medicina do Esporte
Botafogo, Rio de Janeiro, RJ
atualizado em 20/04/2010

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Fisioterapia Oftálmica


A fisioterapia ocular ou oftálmica tem o objetivo de reeducar os movimentos dos olhos, que são realizados por seis pares de músculos extrínsecos e que recebe estímulo neurológico de três pares de nervos cranianos. Qualquer disfunção visual sensorial ou motora poderá acarretar um distúrbio oculomotor, podendo o indivíduo apresentar patologias com características e sintomas de:

Insuficiências de Convergência – IC(1):

o Visão borrada, Cansaço visual e dificuldade nas leituras.
o Sonolência nas leituras, bem como troca de linhas;
o Cefaléia na região frontal e/ou temporal;
o Irritação e hiperemia na conjutiva;
o Dores periorbitárias, nos olhos e peso nas pálpebras;
o Distúrbios posturais

Estrabismos transitórios(2):

o Paresias e paralisias oculomotoras;
o Dupla imagem e limitações em alguns movimentos dos olhos;
o Desequilíbrio postural e torcicolo (tipo PVC: posição viciosa de cabeça);

Estrabismo congênitos(3): desalinhamento dos eixos oculares.

o Desvios em Adução – Esotropias
o Desvios em Abdução – Exotropias
o Desvios verticais – hiper e hipotropias




Para descobrir se o indivíduo apresenta qualquer disfunção nos músculos dos olhos, deve ser feita uma avaliação conhecida comoExame de Motiidade Ocular – EMO ou Teste Ortóptico – TO(4),que é solicitada durante um atendimento ambulatorial com o Oftalmologista, Neurologista, Pediatra ou ortodontista. Poucos são os Ortopedistas que solicitam este exame, porém é importante avaliar a oculomotricidade(5) na presença de um torcicolo, pois há grande diferença entre o torcicolo congênito(6) e o de causa ocular(7).

Baseado no diagnóstico final, após a avaliação oculomotora, o profissional de Fisioterapia, por meio da solicitação do oftalmologista, realizará o tratamento cabível à determinada situação.

Glossário:

1. Insuficiências de Convergência – IC: Dificuldade de levar os dois olhos simetricamente em direção do dorso do nariz para posicioná-los com o objetivo de fixar um objeto ou para leitura.

2. Estrabismos transitórios: desalinhamento dos eixos oculares de aparecimento súbito, podendo normalizar espontaneamente ou com tratamento fisioterapêutico.

3. Estrabismos congênitos: desalinhamento dos eixos oculares de nascença ou que aparecem nos primeiros anos de vida e que tem tratamento oftalmológico através de correção óptica ou cirúrgica.

4. EMO ou TO: exame que tem o objetivo de avaliar a simetria dos movimentos dos olhos e a capacidade de visão binocular fusional.

5. Oculomotricidade: Capacidade de promoção dos movimentos e de ajustamentos posicionais oculares para a variadíssima demanda visual, que requer coordenação de alta elaboração e precisão.

6. Torcicolo Congênito: deficiência ou limitação que reside no pescoço no funcionamento do músculo esternocleidomastóideo. Deve ser tratado com terapias ou cirurgias ortopédicas.

7. Torcicolo de causa ocular – PVC (posição viciosa de cabeça): deficiência ou limitação no funcionamento de músculos extrínsecos dos olhos, que leva o indivíduo a usar erradamente os músculos da região cervical, para captar melhor as imagens que devem ser recebidas pelos dois olhos. Deve ser tratado com procedimentos oftalmológicos.

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FONTE: Blog Fisioterapia Ocular. Post publicado pelas fisioterapeutas Aline Melo e Ângela Dias.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Suicídio Assistido: Duas visões

Os textos a seguir trarão duas visões diferentes acerca do enfrentamento de um difícil prognóstico. Vale a pena ler, refletir, questionar... mas, sobretudo, vale respeitar a visão e a vivência de cada paciente.
Abçs!



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Decisão de Brittany Maynard dá nova voz ao suicídio assistido; falta debate sobre o tema no Brasil
“Adeus a todos os meus queridos amigos e familiares que amo. Hoje é o dia que eu escolhi para partir com dignidade diante de minha doença terminal, esse terrível câncer no cérebro que levou tanto de mim... mas poderia ter tomado muito mais.” Assim, Brittany Maynard se despediu do mundo. A jovem, que tinha 29 anos, era vítima de um glioblastoma multiforme grau quatro, o mais agressivo tipo de tumor cerebral, e cometeu suicídio assistido, como havia planejado e anunciado em outubro.
A história de Brittany comoveu milhões de pessoas ao redor do planeta. Psicóloga, educadora e cheia de energia, ela recebeu a notícia de que tinha pouco tempo de vida um ano depois de seu casamento. Em janeiro, após sofrer enxaquecas muito fortes, a americana fez exames que constataram a presença de um tumor grande e difuso no cérebro. O primeiro prognóstico foi de 10 anos, mas após duas cirurgias, o câncer voltou ainda mais agressivo.
A rotina da jovem era marcada por fortes dores de cabeça e convulsões cada vez mais constantes. Recusando-se a tratamentos desnecessários – os próprios médicos deram a ela um prognóstico de seis meses –, Brittany resolveu aproveitar ao máximo o tempo que lhe restava e viveu cada segundo sabendo que poderia ser o último. Com o apoio da mãe e do marido, resolveu planejar a própria morte. A ex-moradora da Califórnia mudou-se para o Oregon, um dos quatro estados americanos onde o suicídio assistido é legal, e conseguiu uma receita médica de um coquetel letal. Os potinhos de remédio estavam sempre com ela.
A data marcada para morrer foi 1º de novembro. Antes disso, a jovem realizou seu último desejo e viajou com a família para o Grand Canyon. Na quinta-feira passada, Brittany surpreendeu novamente ao divulgar um outro vídeo, dizendo que poderia adiar o dia do suicídio assistido. Ela afirmou que ainda era capaz de sorrir e se divertir, mas também não descartou manter os planos originais, o que acabou ocorrendo. “Meu estado de saúde está se deteriorando rapidamente”, contou.

A morte de Brittany ocorreu no quarto que dividia com o marido, Dan. A mãe, Debbie, também estava presente, além de um médico, amigo da família. Na cama, a psicóloga escreveu um recado momentos antes de morrer, enviado para os amigos de Facebook. “O mundo é um lugar bonito, viajar foi meu melhor professor, meus amigos próximos e meus pais são os que mais se doaram para mim. Tenho, inclusive, um círculo de apoio ao redor da minha cama enquanto escrevo… Adeus, mundo. Espalhem boa energia. Vale a pena!”, concluiu."
O objetivo da jovem foi cumprido: ela conseguiu dar novo tom à polêmica discussão sobre o direito de pôr fim a uma doença intratável. Nos vídeos e nas mensagens que postou na internet, Brittany afastou a imagem normalmente associada a pacientes que, como ela, decidem quando e como morrer. Ainda que triste, conferiu serenidade a um assunto que costuma levantar opiniões acaloradas, baseadas em questões morais, éticas e religiosas.
“Minha família e eu chegamos a uma conclusão devastadora: não há tratamento que possa salvar minha vida e os remédios recomendados destruiriam o tempo que me sobra”, contou a jovem, em um artigo publicado no site da CNN. “Eu não queria esse cenário de pesadelo para minha família”, disse Brittany, referindo-se a uma internação hospitalar. “Então, comecei a pesquisar a morte digna. Essa é uma opção de fim de vida para pessoas mentalmente sadias, pacientes terminais com prognóstico de seis meses ou menos para viver. Isso me permitiria usar ajuda médica na hora da morte: posso pedir e receber a receita de uma medicação que eu possa ingerir por conta própria para acabar com meu processo de morte se isso se tornar impossível de lidar”, justificou.
“Mudança positiva” 
Para a antropóloga Débora Diniz, professora da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, desde o início, a postura de Brittany contou pontos a favor daqueles que defendem o direito ao suicídio assistido. “Foi um caso bastante sensível e delicado, mas importante para o debate. Os oponentes do suicídio assistido alegam que as pessoas tomam essa decisão em um ato intempestivo. Brittany transformou isso num processo feliz”, diz a pesquisadora.
Nos Estados Unidos, cada estado tem sua legislação e apenas quatro – Oregon, Montana, Vermont e Washington – permitem o suicídio assistido. Na Europa, a prática é legal na Suíça, na Holanda, em Luxemburgo e na Bélgica. Um estudo recente publicado no Journal of Medical Ethics mostrou que o número de estrangeiros que viajam para a Suíça para morrer dobrou em quatro anos. Existe até um termo para isso: turista suicida.
Os autores do artigo analisaram os 611 casos de suicídio assistido de estrangeiros ocorridos no país europeu entre 2008 e 2012. Desses, 268 eram alemães, 122 britânicos, 66 franceses, 44 italianos e 21 americanos. No período, um cidadão brasileiro também recorreu à prática na Suíça, mostra a pesquisa.
Em média, a idade dos pacientes é de 69 anos, variando de 23 a 97; 58,5% são mulheres e os principais motivos são doenças neurológicas (47%) e câncer (37%), seguidas por doenças reumáticas, cardiovasculares, respiratórias e crônicas, entre outras.
Falta debate no Brasil 
A antropóloga Débora Diniz ressalta que, no Brasil, as discussões legais sobre suicídio assistido são quase nulas e precisam ser reforçadas. Não há sequer menção à eutanásia – morte provocada por outra pessoa, como o médico, e não pelo paciente – no Código Penal. No máximo, o artigo 122 criminaliza os atos de “induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça”, com pena de dois a seis anos, duplicada quando praticados em menores.
A especialista acredita que a falta de uma legislação e de debate qualificado sobre o tema no país acaba resultando em casos dramáticos, como o acompanhado por ela há cerca de 10 anos, em Brasília. Débora foi chamada pelo Ministério Público para prestar assessoria a respeito de uma família que foi à Justiça pedir para os médicos não entubarem um bebê de 8 meses que tinha amiotrofia espinhal progressiva tipo 1, doença incurável, degenerativa e com curto prognóstico. Fisioterapia, punção da veia, aspiração pulmonar de duas a três vezes ao dia, procedimentos invasivos e dolorosos. Nada disso, contudo, modificava o quadro clínico da criança, apenas a mantinha viva.
Como a doença faz perder a capacidade muscular, o bebê perderia a habilidade de respirar, tendo que ser submetido à ventilação mecânica. Foi por isso que os pais recorreram à Justiça. “Do nosso ponto de vista, aquilo não é mais vida. Aquilo é condenar uma pessoa a não poder morrer (...) Uma criança no respiradouro não tem a possibilidade de morrer...”, disseram os pais da criança. As declarações constam do relatório elaborado por Débora. Uma semana depois da decisão favorável, o bebê morreu. 
(Matéria de Paloma Oliveto, disponível em Saúde Plena)

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Philip Johnson, de 30 anos, seminarista da Diocese de Raleigh, tem câncer cerebral terminal, escreveu um artigo respondendo à Brittany Maynard. Johnson é incisivo sobre sua discordância de que o suicídio viria para preservar a dignidade em face de uma doença debilitante. 


TEXTO ORIGINAL:
Dear Brittany: Our Lives Are Worth Living, Even With Brain Cancer


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Um câncer, dois caminhos
Seminarista responde a jovem que recorreu à morte assistida: “Eu sinto por ela e entendo sua difícil situação, mas nenhum diagnóstico justifica o suicídio”. (...)
Os últimos dias da vida de Brittany foram dedicados a uma campanha pela legalização do “suicídio assistido”, chamado eufemisticamente de “morte com dignidade”. Em inglês, a expressão utilizada pelos veículos de comunicação e pelos adeptos da campanha é “death-with-dignity”. (...)
Quando Brittany prenunciou ao mundo o seu suicídio, em outubro, o jovem Philip Johnson, seminarista da Diocese de Raleigh, na Carolina do Norte, respondeu à sua iniciativa com um artigo, publicado na Internet. A sua história, muito parecida com a de Brittany nos detalhes – também ele foi diagnosticado com um câncer terminal no cérebro, com apenas 24 anos de idade –, tem, todavia, um final bem diferente. 
 
Quando descobriu o câncer, Philip servia como oficial da marinha norte-americana no Golfo Pérsico. “Recordo o momento em que vi as imagens computadorizadas dos scanners cerebrais. Fui à capela da base e caí no chão chorando. Perguntei a Deus: ‘Por que eu?’”. Depois de consultar os médicos, ele foi informado de que perderia gradualmente o controle de suas funções corporais – “desde paralisia até incontinência” – e que muito provavelmente também as suas faculdades mentais desapareceriam. 
Ele conta, porém, que nada disso o faria procurar o chamado “suicídio assistido”. “Eu acho que ninguém quer morrer dessa maneira”, declara. “A minha vida significa algo para mim, para Deus e para a minha família e amigos, e, salvo uma recuperação milagrosa, continuará significando muito, mesmo depois de paralisado em uma cama de hospital”. 
O seminarista reconhece a tentação de Brittany de acabar com a sua vida “por seus próprios termos”, mas não pode aceitar a sua decisão. “Eu concordo que o seu estado é duro, mas a sua decisão é tudo, menos corajosa”, afirma. “Eu sinto por ela e entendo sua difícil situação, mas nenhum diagnóstico justifica o suicídio”. 
Philip também assegura que, com sua doença, pôde experimentar “incontáveis milagres”. Ele aprendeu, sobretudo, que “o sofrimento e a dor de coração, que fazem parte da condição humana, não devem ser desperdiçados ou interrompidos por medo ou procurando controle em uma situação aparentemente incontrolável”. “Não procuramos a dor em si mesma – explica Philip –, mas o nosso sofrimento pode ter grande significado se tentamos oferecê-lo pelas intenções dos outros”. 
Mesmo passando por momentos de grande dificuldade, Johnson segue em seus estudos para tornar-se padre. “Ainda fico triste, ainda choro”, escreve. “Ainda peço a Deus que mostre a Sua vontade através de todo este sofrimento e me permita ser Seu sacerdote (...), mas sei que não estou sozinho no meu sofrimento”.  
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
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