sábado, 26 de outubro de 2013

Consequências do uso constante de descongestionantes nasais (*)


gota nasal

"Uso constante de descongestionantes nasais leva ao vício e à perda do olfato. Dentre outras consequências, abusar das gotinhas diariamente pode causar ainda uma condição chamada rinite medicamentosa, onde quanto mais se usa o remédio, mais a obstrução nasal piora."
Todo ano, quando o frio começa, é quase instintivo recorrer aos descongestionantes nasais. Somado ao frio, há a seca, que vem acompanhada de poeira, bactérias, ácaros e outros visitantes indesejados que pioram consideravelmente a vida dos alérgicos. O medicamento, embora traga alívio imediato ao nariz entupido, não é tão benéfico quanto parece.

De acordo com o Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Hospital das Clínicas da cidade de São Paulo, os descongestionantes ocupam o terceiro lugar na lista de problemas causados por efeitos colaterais e uso incorreto de remédios. Só perdem para os antiinflamatórios e os analgésicos. Mesmo com todas essas restrições, há mais de 50 marcas de descongestionantes com venda praticamente livre. "Esses medicamentos causam dependência psicológica", alerta o coordenador do Ceatox, Antony Wong. A dependência acontece por conta de substâncias como nafazolina, fenoxazolina e oximetazolina, presentes na composição desses medicamentos.

Diderot Parreira, otorrinolaringologista da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), explica que o uso indiscriminado do remédio pode ocasionar problemas sérios de saúde. “Os componentes dos descongestionantes nasais causam vasoconstrição, ou seja, fecham os vasos do nariz”, explica. O problema é que isso não ocorre só no nariz. Como eles contraem os vasos sanguíneos, têm um efeito sistêmico no corpo e contraem outros vasos também. “Isso pode causar arritmia, taquicardia, aumento da pressão arterial e outros problemas.” Para pessoas que sofrem com pressão alta ou que têm algum tipo de problema cardíaco, portanto, os remédios são um perigo.

Horas depois da vasoconstrição ocasionada pelo fármaco, o mesmo provoca sensação contrária, dilatando as narinas. Além do efeito rebote, abusar das gotinhas diariamente pode causar ainda uma condição chamada rinite medicamentosa. Ao contrário da rinite alérgica, na medicamentosa não há secreções. Dr. José Victor Maniglia, da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, explica que, nestes casos, "quanto mais se usa, menor é o tempo de ação da droga", e que nem sempre a rinite medicamentosa tem tratamento. "Dependendo do grau, o paciente pode perder o olfato", afirma a especialista em alergia Ângela Fomin, do Instituto da Criança. Em alguns casos, a saída é a cirurgia.
O supervisor de vendas Régis Córdova da Silva, de 25 anos, usou por dez anos os descongestionantes na esperança de controlar uma rinite alérgica. "Tive de fazer uma cirurgia para desobstruir as narinas para resolver meu problema", conta. "Só agora consegui me livrar das crises."
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O advogado Flávio Henrique , 34 anos, assume o vício. “Já tentei parar algumas vezes, mas é muito difícil, especialmente quando tenho crises de rinite alérgica. Quando saio de casa, a primeira coisa que vai na bagagem é o Sorine”, diz.
Deixar o remédio de lado, dizem os especialistas, demanda vontade e disciplina dos usuários. O otorrino Pedro Cavalcanti explica que cada pessoa tem uma forma de se “livrar” do remédio. Alguns usuários preferem fazê-lo de uma vez, outros vão eliminando o uso do descongestionante aos poucos. Uma alternativa é diluir metade da embalagem do líquido em soro fisiológico para reduzir a potência do vasoconstritor.
Há também tratamentos alternativos, como o uso de fitas adesivas sobre o nariz para aumentar a entrada de ar. “As narinas funcionam como uma válvula, elas são mais estreitas do que a fossa nasal como um todo. Com esse acessório, a válvula fica maior. Mas isso é um paliativo; dentro do nariz o inchaço dos vasos continua o mesmo”, esclarece o especialista. Em alguns casos, o problema só é resolvido com cirurgia para retirar o excesso de muco acumulado durante os anos de uso do descongestionante.


"Os componentes dos descongestionantes nasais causam vasoconstrição, ou seja, fecham os vasos do nariz. O problema é que como eles contraem os vasos sanguíneos, têm um efeito sistêmico no corpo e contraem outros vasos também.” Clique aqui para ver a imagem ampliada.

Soro fisiológico é melhor alternativa

Não são só as substâncias responsáveis pelo princípio ativo dos descongestionantes nasais que provocam problemas com o uso excessivo. O cloreto de benzalcônio, conservante utilizado nas gotas, também contribui para o círculo vicioso de obstrução das narinas. A substância faz parte da formulação da maior parte dos descongestionantes, incluindo os tidos como inofensivos e usados com freqüência em crianças.

Ângela Fomin, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz que a melhor forma de evitar o uso desnecessário desses remédios e, conseqüentemente, o nariz entupido, é substituí-los pelo soro fisiológico. "O soro deve ser guardado em geladeira para evitar a contaminação, que piora a rinite", diz.
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