sábado, 23 de novembro de 2013

Acessibilidade para Surdos (*)

Texto de Carolina Fomin (**)


(Vídeo: Love Language - Legendado em Português)

A maior dificuldade que os surdos encontram é a comunicacional. Os surdos do nosso país têm sua língua materna, a LIBRAS, mas poucas pessoas sabem esta língua! Para entender melhor a dificuldade que os surdos enfrentam, imagine-se visitando um país onde você não conhece a língua e não consegue se comunicar. É assim que os surdos se sentem, mas com uma diferença: eles estão no seu próprio país.

Dentre os surdos, existem aqueles que se comunicam através da língua de sinais e aqueles que são oralizados, ou seja, se comunicam através da fala oral e da leitura labial/facial. E existem ainda aqueles que são bimodais, que se comunicam das duas formas, dominando o Português e a Libras.




Hoje vamos dedicar este post a você que se interessa por saber um pouco mais sobre a Língua Brasileira de Sinais.

Quando o assunto é LIBRAS, muitas pessoas me perguntam: A Libras é uma Linguagem Universal?

Bom, para começar a entender, devo dizer que LIBRAS ou LSB é uma sigla para "Língua Brasileira de Sinais", ou Língua de Sinais Brasileira. Então, se prestarmos atenção ao nome, perceberemos que:

1⁰ - NÃO é linguagem, é uma LÍNGUA.
2⁰ - NÃO é universal, é BRASILEIRA!

Deixe-me explicar melhor…

1⁰. Existe uma diferença entre “linguagem” e “língua”. Muita gente confunde por achar que é uma linguagem e pensam que os sinais são gestos ou mímicas sem estrutura nenhuma, mas a Libras é uma língua com gramática própria, inclusive tem uma estrutura de frase própria e diferente da estrutura gramatical do Português.

As línguas de sinais são diferentes das línguas orais porque são visual-espaciais e não oral-auditivas. Os sinais articulam-se espacialmente e são percebidos visualmente.

Os surdos que se utilizam da Libras ouvem com os olhos e falam com as mãos! Diferente do Braille, que é um sistema de leitura com o tato, onde cada conjunto de pontos corresponde a uma letra ou número e, para escrever uma palavra, escreve-se letra por letra acompanhando, no caso, o Português.

Já a Libras tem toda uma estrutura gramatical própria, não se faz tudo letra por letra. Existe sim o alfabeto em Libras, e muitas pessoas já tiveram contato com ele, ou quando eram crianças que aprenderam com a música da Xuxa, “A de amor, B de baixinho…” Lembram? Ou já compraram um pacote de balas com um papelzinho impresso com os desenhos das mãozinhas do Alfabeto Manual.


Na Libras, usamos a datilologia para expressar nome de pessoas, localidades e outras palavras que não possuem um sinal específico, mas cada palavra tem um SINAL, sinal este composto por 5 parâmetros: configuração de mãos, ponto de articulação, movimento, direção e expressão facial e corporal.

Abaixo, ilustrações de alguns sinais para entender que não são feitos letra a letra:


2⁰. A Libras não é universal, ela é Brasileira. 

A Libras é a 2ª língua official do nosso país! Foi pelo decreto 5626/2005 que regulamenta a Lei n⁰. 10.436 de 24 e abril de 2002 que o governo reconheceu a Libras como língua materna da população surda do Brasil.




Da mesma forma que pessoas ouvintes de diferentes países falam línguas diferentes, pessoas surdas inseridas na cultura surda de seu país falam a língua de sinais de seu país.

Existem diversas línguas de sinais, como a Língua de Sinais Francesa, Americana, Chilena, Argentina, Inglesa e outras, sendo cada uma diferente da outra. E a língua de sinais de um país não tem necessariamente relação direta com a língua oral falada neste país.

Por exemplo: o inglês é um idioma falado em vários países como Inglaterra, Estados Unidos, Canadá e Austrália, mas nem por isso todos se utilizam da mesma língua de sinais. Nos EUA e Canadá eles utilizam a ASL (American Sign Language), mas na Inglaterra, por exemplo, eles utilizam a BSL (British Sign Language) e na Austrália a Auslan (Australian Sign Language).

Uma coisa interessante é que, apesar de as línguas de sinais serem diferentes em cada país, os surdos de países diferentes se comunicam mais facilmente do que ouvintes de países diferentes.

Já conheci surdos de outros países como França, Espanha e Turquia e a comunicação foi bem mais fácil e rápida do que se fossem ouvintes e eu tivesse que falar em Francês, Espanhol (Catalão) ou Turco. Acredito que seja exatamente por ser uma língua visual e uma língua onde a expressão facial e corporal tem grande importância.

Assim como em outras línguas, existem também os regionalismos e as gírias em diferentes regiões do Brasil, às vezes havendo diferenças de sinais dependendo da região do país. No Brasil, dependendo da região, falamos mandioca, macaxeira ou aipim. Da mesma forma, na Libras existem os regionalismos, o que fortalece o sentido de língua!

Enfim, essas são apenas algumas informações básicas sobre a LIBRAS.

Mas então você pensa: só posso ser acessível se souber Libras?

Existem momentos em que não tem jeito, há mesmo a necessidade de um surdo ou um intérprete de Libras, mas por outro lado isso não é tudo!

Acessibilidade para surdos é muito mais do que isso. Vou passar aqui somente algumas coisas que podem ser feitas para uma maior acessibilidade para surdos:

  • Em espaços públicos - Sinalização adequada;
  • Sinalização deve ser clara e intuitiva, fazendo uso de pictogramas;
  • No caso de alarmes ou chamada de senhas, precisam ser também visuais ou vibratórios, não devem ser exclusivamente sonoros;
  • Fazer uso das tecnologias através de SMS, Tablets (ipad) e e-mails, por exemplo, para pedidos em farmácias, pizzarias, restaurantes e solicitação de serviços em hotéis;
  • Para filmes (inclusive nacionais) e programas de televisão, é necessária a legenda ou closed caption em tamanho de fonte adequado;
  • Para vídeos/filmes (por exemplo institucionais e informativos) é recomendado o intérprete de Libras, além da legenda;
  • Folhetos impressos escritos com a programação, instruções e regras facilitam a comunicação;
  • Informações escritas devem ser simples e claras, em português claro, sem palavras muito difíceis e, se possível, com desenhos ou fotos ilustrativas (cardápios, por exemplo);
  • Para eventos com intérprete de Libras: local adequado para colocação do intérprete, de modo que o surdo possa visualizar o intérprete e o que está acontecendo no evento.

Espero que tenha esclarecido algumas coisas sobre esta maravilhosa cultura surda e que tenha despertado em você algum interesse em aprender mais.

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* Texto disponível em Acessibilidade na Prática

** Carolina Fomin é Arquiteta e Intérprete de Libras
Twitter: @carolfomin

Ilustraçoes: Fábio Selani - surdo, ilustrador, desenhista e autodidata, extraídas da Cartilha “Classificação Indicativa na Língua Brasileira de Sinais”.


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