quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Asma: Características, Diagnóstico, Tratamento.




A asma afeta cerca de 10% da população brasileira, sendo que internações por asma ainda são a 4ª maior causa de hospitalização pelo Sistema Único de Saúde. É mais comum entre jovens do que em idosos. Costuma começar mais cedo nos meninos, mas ser mais grave em mulheres. Em adultos, a prevalência é similar entre homens e mulheres.

A asma é uma doença inflamatória crônica das vias respiratórias que causa redução ou obstrução recorrente no fluxo de ar. Esta obstrução por estreitamento de vias aéreas é geralmente reversível, porém o agravamento da inflamação pode tornar este estreitamento irreversível.

A causa está relacionada a interação entre fatores genéticos e ambientais, e a doença se manifesta como uma crise de dispnéia (dificuldade para respirar) devido ao edema da mucosa dos bronquíolos, produção de muco nas vias aéreas e a contração da musculatura lisa das vias aéreas (broncoespasmo), tosse e sibilos ("chiado). Sintomas aparecem de forma cíclica, em qualquer hora do dia, mas costumam ser piores à noite. 

As características dessa doença incluem a presença de células inflamatórias nas vias aéreas, exsudato de plasma, edema, hipertrofia muscular, bolhas de muco e descamação do epitélio.


Ataque de asma 


Diagnóstico

O diagnóstico é feito baseado nos sinais e sintomas que surgem de maneira repetida e que são referidos pelo paciente.

No exame físico, poderá ser constatada a sibilância nos pulmões, principalmente nas exacerbações da doença. Contudo, nem toda sibilância é devido à asma, podendo também ser causada por outras doenças. Nos indivíduos que estão fora de crise, o exame físico poderá ser completamente normal.

Existem exames complementares que podem auxiliar, dentre eles estão: a radiografia do tórax, exames de sangue e de pele (para constatar se o paciente é alérgico), a espirometria, que identifica e quantifica a obstrução ao fluxo de ar, e o teste de bronco provocação com substâncias pró-inflamatórias, como a histamina e a metacolina. 

O asmático também poderá ter em casa um aparelho que mede o pico de fluxo de ar, importante para monitorar o curso da doença. Nas exacerbações da asma, o pico de fluxo se reduz.

O exame "gold standard" para o diagnóstico da asma é a análise dos valores de Óxido Nítrico exalados. O Óxido Nítrico é um marcador direto da inflamação e através da sua concentração em ppb (partes por bilião) podemos inferir diretamente a gravidade do episódio.

A análise do FENO (Fracção do oxido nítrico exalado) permite não apenas o diagnóstico da asma, mas também avaliar a resposta ao tratamento e o seu cumprimento, avaliar a resistência a esteroides, otimizar a dose terapêutica, efetuar uma retirada segura da terapêutica inalável e aumentar a eficiência econômica no tratamento e diagnóstico da asma.

A execução deste exame não é tão dependente da colaboração do paciente como a espirometria. É um exame fácil, fiável, seguro, sensível e pode ser usado mais de uma vez.

É importante que seja feita a distinção entre a asma e a DPOC, mesmo em pacientes mais velhos, pois o controle de cada doença contempla diferentes estratégias. A DPOC é confirmada por meio de um teste de diagnóstico simples chamado "espirometria", que mede a quantidade de ar (volume) que uma pessoa pode inspirar e expirar e a rapidez com a qual o ar circular para dentro e fora do pulmão.

Um medidor do ápice do fluxo expiratório serve para diagnosticar a asma e verificar se está diminuindo ou aumentando.









Classificação

De acordo com os padrões das crises e testes, a asma pode ser classificada em:

Asma Intermitente:

Sintomas menos de uma vez por semana;
Crises de curta duração (leves);
Sintomas noturnos esporádicos (não mais do que duas vezes ao mês);
Provas de função pulmonar normal no período entre as crises.

Asma Persistente Leve:

Presença de sintomas pelo menos uma vez por semana, porém, menos de uma vez ao dia;
Presença de sintomas noturnos mais de duas vezes ao mês,porém, menos de uma vez por semana;
Provas de função pulmonar normal no período entre as crises.

Asma Persistente Moderada:

Sintomas diários;
Crises afetam as atividades diárias e o sono;
Presença de sintomas durante o sono pelo menos uma vez por semana;
Provas de função pulmonar: pico do fluxo expiratório (PFE) ou volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF¹) >60% e < 80% do esperado.

Asma Persistente Grave:

Sintomas diários;
Crises frequentes;
Sintomas noturnos frequentes;
Provas de função pulmonar: pico do fluxo expiratório (PFE) ou volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF¹) > 60% do esperado.


Tratamento

Para se tratar a asma, a pessoa deve ter certos cuidados com o ambiente, principalmente na sua casa e no trabalho, além de usar medicações e manter consultas médicas regulares. Técnicas fisioterapêuticas se mostram bastante eficientes. Os medicamentos podem ser divididos em duas classes: de alívio e de manutenção.


Broncodilatadores

Os broncodilatadores são utilizados principalmente como medicações de alívio para cortar uma crise de asma.

É um medicamento, como o próprio nome diz, que dilata os brônquios (vias aéreas) quando o asmático está com falta de ar, chiado no peito ou crise de tosse. Existem broncodilatadores chamados beta-2 agonistas - uns apresentam efeito curto e outros efeito prolongado (que dura até 12h). Os de efeito curto costumam ser utilizados conforme a necessidade. Se a pessoa está bem, sem sintomas, não precisará utilizá-los. Já aqueles de efeito prolongado costumam ser utilizados continuamente, a cada 12 horas, e são indicados para casos específicos de asma. Além dos beta2-agonistas, outros broncodilatadores, como teofilinas e anticolinérgicos, podem ser usados.

Um inalador típico, broncodilatador.
Anti-inflamatórios

Utilizados principalmente para evitar e prevenir crises (manutenção), os corticóides inalatórios são, atualmente, a melhor conduta para combater a inflamação, sendo utilizados em quase todos os asmáticos. 

Só não são comumente usados pelos pacientes com asma leve intermitente (que têm sintomas esporádicos). Tais medicamentos têm o intuito de prevenir as exacerbações da doença ou, pelo menos, minimizá-las e aumentar o tempo livre da doença entre uma crise e outra. Normalmente são utilizados de maneira contínua (todos os dias), já que combatem a inflamação crônica da mucosa brônquica, que é o substrato para os acontecimentos subsequentes.

Existem outras possibilidades de tratamento, como o cromoglicato de sódio (bastante utilizado em crianças pequenas), o nedocromil, o cetotifeno e os antileucotrienos. Este último é relativamente novo e pode ser usado em casos específicos de asma ou associado aos corticóides.

Tanto os broncodilatadores quanto os anti-inflamatórios podem ser usados de várias formas:

-Nebulização;
-Nebulímetro ("spray" ou "bombinha");
-Inaladores de pó seco (através de turbuhaler, rotahaler, diskhaler ou cápsulas para inalação);
-Comprimido;
-Xarope.

Os médicos geralmente dão preferência ao uso das medicações por nebulização, nebulímetro ou inaladores de pó seco por serem mais eficazes e causarem menos efeitos indesejáveis.

Psicológico

Como emoções mudam a frequência respiratória, endócrina e cardíaca, diferentes tipos de respostas emocionais negativas, especialmente tristeza e ansiedade intensa associadas a experiências de vida estressantes, podem desencadear respostas colinérgicas que contribuem para a broncoconstrição e consequentemente com a exacerbações da asma.

Períodos de grande estresse aumentam as chances de crises agudas.

Fisioterapia

Os procedimentos executados contribuem para melhorar a ventilação, auxiliar no relaxamento da musculatura respiratória, higienizar a via aérea hipersecretiva, além de prevenir a busca por serviços de emergência e hospitalizações, melhorar a condição física e aprimorar a qualidade de vida dos indivíduos acometidos.

Em crianças

Nas crianças, o tratamento são trabalhos de exercícios respiratórios reexpansivos passivos, através de manobras de desobstrução brônquica, drenagem postural e inalações, com estímulo de tosse se necessário. Crianças com boa capacidade colaborativa e coordenação desenvolvida podem se beneficiar de técnicas de treino de padrão ventilatório.

Em adultos

Em adultos, o tratamento enfatiza os alongamentos globais, exercícios aeróbios, exercícios respiratórios reexpansivos, acompanhamento da evolução do fluxo respiratório e acompanhamento dos exercícios com uso de oxímetro, se necessário. Em alguns casos é necessário um trabalho de higiene brônquica, associada à aspiração de secreção brônquica (catarro), comum em pacientes infectados. Quando a hiperinsuflação pulmonar está presente, são utilizadas técnicas de desinsuflação pulmonar visando aumentar o volume de ar corrente.

Em estágios mais avançados do tratamento, é necessário o uso de incentivadores respiratórios, respiradores mecânicos não-invasivos, onde o paciente apresenta certa estabilidade do quadro, visando o condicionamento físico aliado à resistência pulmonar vitais para a diminuição das crises asmáticas. Exercícios posturais para relaxamento, mobilidade, alongamento e fortalecimento também são fundamentais para corrigir deformidades torácicas e posturais, comuns nos casos de doença avançada e com crises frequentes.
Tratamento das crises/exacerbações.

O doente asmático deve saber distinguir a medicação de manutenção da medicação a usar nas crises graves e situações de emergência. Deve ter-se em atenção que muitas vezes as embalagens podem ser iguais e que nem sempre se trata de seguir as cores, isto é, a embalagem vermelha nem sempre é para as crises e a verde nem sempre é para a manutenção; depende da marca comercial.

No tratamento dos ataques graves usam-se normalmente:

Corticosteróides (particularmente os de administração por via sistémica)
Agonistas adrenérgicos beta-2 inalados (salbutamol, terbutalina e fenoterol por exemplo)
Anticolinérgicos (Brometo de Ipratrópio ou de Tiotrópio)

Prevenção

Não há como prevenir a existência da doença, mas sim as suas exacerbações e seus sintomas diários. O médico responsável poderá prescrever corticosteróides, beta2-agonistas de longa duração e os antileucotrienos. 

Um bom controle ambiental, evitando exposição aos catalisadores da crise asmática, e o acompanhamento fisioterapêutico são outros métodos de prevenção.


Fatores de risco e prognóstico

O prognóstico para asmáticos é bom, especialmente para crianças com a doença . Para os asmáticos diagnosticados durante a infância, 54% não irão ter mais o diagnóstico após uma década. A extensão do dano permanente ao pulmão em asmáticos ainda não é clara.

Alguns dos fatores de risco potencial no prognóstico da asma brônquica são a hiper-reatividade das vias aéreas, alergia atópica, infecções respiratórias, tabagismo, condições climáticas e o início da doença em idade precoce. Já como fatores precipitantes e agravantes incluem-se os alergênios (pelos de animais, fungos, pólens, insetos, etc), irritantes (tintas, aerossóis, perfumes, produtos químicos, fumaça de cigarro, etc), condições climáticas desfavoráveis (poluição, ar frio, etc), infecções (geralmente as virais), exercícios físicos, fatores emocionais, refluxo gastroesofágico, fatores endocrinológicos e a hipersensibilidade não alérgica a fármacos e produtos químicos.

Pesquisadores do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) estão desenvolvendo um método de diagnóstico e de tratamento para ajudar na qualidade de vida de pessoas que sofrem de asma. A intenção é que essa nova forma de avaliação das condições do paciente possibilite a prática de atividades físicas com segurança.



Os pesquisadores de São Carlos (SP) buscam determinar qual melhor exercício para cada paciente com a doença. Eles estão desenvolvendo um método para identificar crises de forma mais rápida e barata durante determinadas atividades físicas, utilizando a ajuda de um equipamento portátil para se fazer o diagnóstico. No método atual são necessários uma esteira, vários equipamentos para verificar o fôlego do paciente antes e depois do exercício e uma equipe grande de profissionais.

Pessoas com esse tipo de problema evitam exercícios, mas eles são essenciais para a saúde. O fisioterapeuta Vinicius Minatel relata que por vezes deixa as atividades físicas de lado: “Comecei a ter recorrentes crises de asma no ano. E sempre tem alguém que fala para fazer natação porque natação é bom, ou fazer caminhada, mas a gente sabe que não é bem assim”.

De acordo com a pesquisadora da UFSCar, Adriana Sanches Garcia de Araujo, quem tem crises não consegue realizar as atividades físicas: “É importante dizer que os exercícios melhoram a capacidade pulmonar e com o tempo a pessoa tem as crises reduzidas, mas isso tem que ser programado e acompanhado“.

A voluntária Ivana Gonçalves Labadessa sentiu melhoras com o tratamento: “A intensidade dos exercícios vai aumentando aos poucos e eu já sei quais são os meus limites. Se eu estiver condicionada, sinto a diferença. As minhas crises de asmas ficam bastante espaçadas e não tenho desconforto respiratório”.

A pesquisadora Adriana disse que, com o equipamento, consegue reduzir as crises, detectar e evitar uma crise mais grave. Além disso, o método barateia os custos dos testes, facilita no diagnóstico preciso e possibilita encontrar o melhor exercício e a intensidade adequada para cada pessoas.

Segundo a pneumologista Fabíola Paula Galhardo Rizzatt, “uma criança tosse bastante após alguma brincadeira com atividade física intensa, não consegue correr tanto quanto seus amigos, pára no meio das atividades com tosse, tosse no período noturno, pode estar com asma”.

Os interessados podem ser voluntários da pesquisa e participar dos testes. É preciso ter entre 18 e 45 anos e entrar em contato com o Departamento de Fisioterapia da UFSCar pelo telefone (16) 3551-8343.


Fontes:



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