Mostrando postagens com marcador Fisioterapia Respiratória. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Fisioterapia Respiratória. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Exercícios físicos podem acelerar recuperação de pacientes na UTI


EXERCÍCIOS FÍSICOS PODEM ACELERAR A RECUPERAÇÃO DE PACIENTES NA UTI - (Matéria do Programa Bem Estar)"Fazer exercícios...
Posted by Fisiotur on Segunda, 6 de julho de 2015

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Cuidado com paciente de UTI em ventilação mecânica pode mudar(*)


Um estudo brasileiro publicado no The New England Journal of Medicine deverá mudar em todo o mundo o tratamento de portadores da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), que causa insuficiência respiratória e requer o uso de ventiladores mecânicos em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).

Após analisar dados de 3.562 participantes de nove diferentes estudos, um grupo de pesquisadores do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-HC-FMUSP) concluiu que o parâmetro mais importante para proteger o pulmão de pacientes nessas condições e aumentar as taxas de sobrevivência é a chamada pressão motriz ou pressão de distensão pulmonar, que corresponde à variação entre a pressão atingida na inspiração e a observada na expiração.

Pesquisa feita no Incor-USP e publicada no The New England Journal of Medicine aponta como medida pode reduzir a mortalidade de portadores da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (Ilust.:Wikimedia)
“Quanto maior for o valor da pressão motriz, maior é o risco, sendo que o limite aceitável seria por volta de 15 centímetros de água (cmH2O). Antes se acreditava que o mais importante era manter a pressão máxima (atingida ao final da inspiração) abaixo de 30 cmH2O, mas mostramos que isso não é importante”, afirmou Marcelo Amato, supervisor da UTI-Respiratória do InCor e coordenador da pesquisa apoiada pela FAPESP.

A SDRA é caracterizada por uma inflamação no pulmão que favorece o acúmulo de líquidos e resulta em um quadro de insuficiência respiratória. Esse tipo de complicação é comum após casos graves de pneumonia, infecções abdominais e gripes fortes, como a causada pelo vírus H1N1 (gripe suína). Também costuma afetar vítimas de traumatismo, afogamento e incêndio, quando há inalação de grandes quantidades de fumaça.

“O grande problema é que o equipamento de ventilação mecânica machuca ainda mais o pulmão e, assim, tem início um ciclo vicioso no qual o paciente depende cada vez mais do ventilador e a máquina pode agravar cada vez mais o quadro respiratório”, explicou Amato.

De acordo com o pesquisador, o dano está relacionado principalmente a dois fatores: a alta concentração de oxigênio inalada (necessária para manter o paciente vivo) e o excesso de energia e pressão com que o ar é jogado dentro do pulmão pelo equipamento.

“Sabemos hoje que foi essa a causa da morte do presidente Tancredo Neves, por exemplo. Ele foi operado para retirar um tumor do intestino, acabou desenvolvendo sepse abdominal e, depois, a SDRA. Acabou morrendo de insuficiência respiratória porque o tratamento padrão na época era agressivo ao pulmão”, contou Amato.

Mudança de paradigma

O uso de princípios da fisiologia pulmonar para desenvolver estratégias protetoras de ventilação mecânica é uma linha de pesquisa da UTI-Respiratória do InCor que vem sendo desenvolvida desde o final dos anos 1980.

Em um estudo publicado em 1998, também no The New England Journal of Medicine, o grupo demonstrou que era possível reduzir a mortalidade entre portadores de SDRA de 70% para 40% adotando uma estratégia personalizada de ventilação.

De acordo com o estudo, muitas vidas seriam salvas caso fosses ajustados de acordo com o perfil de cada paciente, parâmetros como volume corrente (quantidade de ar que entra em cada respiração), pressão mínima e pressão máxima do ventilador.

Segundo Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho, professor de Pneumologia da FMUSP e coautor dos estudos, esse protocolo de tratamento mudou a ventilação mecânica no Brasil e no mundo.

“Até então, nenhuma medida havia proporcionado uma redução tão drástica de mortalidade na área de medicina intensiva e isso levantou a suspeita de que os dados não estivessem corretos. Uma série de estudos foi então realizada para confirmar os achados”, contou Amato.

Dados de nove desses estudos subsequentes, de países como Estados Unidos, Canadá e França, foram selecionados para integrar a análise coordenada por Amato.

“Entramos em contato com cada um dos pesquisadores principais e levantamos todo o banco de dados de cada um dos estudos. Dessa forma, tivemos acesso às informações completas de todos os 3.562 pacientes”, contou o pesquisador.

Por um método estatístico conhecido como análise de mediação, o grupo investigou entre as diversas variáveis que poderiam estar implicadas na mortalidade de pacientes com SDRA – entre elas pressão máxima, pressão mínima, pressão média, volume corrente e frequência respiratória – qual estaria mais próxima de ser um agente causal de morte.

“Alguns estudos experimentais realizados no Laboratório de Investigação Médica – Pneumologia Experimental, da Faculdade de Medicina da USP, sugeriam que a pressão motriz seria o mediador. Esses estudos nos ajudaram a formular a hipótese”, contou Amato.

Na avaliação do pesquisador, a descoberta deve ter grande implicação prática no cuidado de pacientes com SDRA e “deve evitar muitas decisões erradas à beira de um leito de UTI”.

“Muitas vezes o médico observa que a pressão máxima está passando do limite clássico de 30cmH20 e acha que precisa tomar uma atitude com urgência, quando na verdade a pressão motriz está em valores razoáveis e ele não precisaria fazer nada. Ou, ainda é mais comum, o médico fica tranquilo porque a pressão máxima está abaixo de 30 cmH20 e não toma nenhuma atitude mesmo que a pressão motriz esteja alta, o que é perigosíssimo”, comentou Amato.
____________________________________

Post de Ítalo Leite no site Sala de Enfermagem. Retirado em 25/05/2015.

O artigo Driving Pressure and Survival in the Acute Respiratory Distress Syndrome (doi: 10.1056/NEJMsa1410639), pode ser lido por assinantes da revista clicando aqui.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Fisioterapia respiratória ajuda o bebê a respirar melhor(*)

(Por Daniele Zebini)


A alternativa facilita a eliminação da secreção causada pelas doenças de inverno.

Se você tem um filho com menos de três anos, provavelmente já enfrentou dificuldades para eliminar a secreção que se forma com as doenças respiratórias, tão comuns nesta época do ano. Em muitos casos, apenas a limpeza com soro fisiológico e inalação já resolvem. Mas há quadros em que a secreção se acumula e acaba obstruindo as vias aéreas e, consequentemente, dificultando a respiração das crianças. 

Para estes casos, a fisioterapia respiratória pode ser uma grande aliada. Nunca ouviu falar? Não se culpe. A maioria dos pais desconhece este segmento milagroso da fisioterapia. “Quando indico a técnica no consultório, a grande maioria dos pais nunca ouviu falar. Mas, depois que conhecem o trabalho destes profissionais, aprovam em 100% dos casos”, afirma Marcelo Reibscheid, pediatra da UTI Neonatal do Hospital São Luiz.

A indicação depende muito da linha do pediatra, mas de forma geral, a fisioterapia respiratória é recomendada para os quadros em que o bebê ou a criança apresente algum tipo de desconforto respiratório, normalmente causado por infecções como bronquiolites e pneumonias, ou mesmo uma gripe mais forte, que ocasiona um acúmulo de secreção que a criança normalmente não consegue eliminar sozinha. 

“Por meio de exercícios respiratórios e manobras de desobstrução brônquicas o fisioterapeuta facilita a entrada do ar, melhora a oxigenação e a eliminação das secreções. São exercícios realizados pelas mãos do especialista ou por meio de aparelhos vibratórios que auxiliam na drenagem das secreções e sua posterior eliminação”, explica Juliana Martins Pardal, especialista em Fisioterapia Pediátrica pelo Instituto da Criança HC/FMUSP.

_______________________________
(*)Matéria publicada no site da Revista Crescer em 22/07/2014, e reproduzida nesta página em 12/05/2015.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Fisioterapia Hospitalar: quebrando paradigmas

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Cigarro X Saúde Musculoesquelética


As lesões pulmonares e cardiovasculares provocadas pelo cigarro são amplamente divulgadas e conhecidas, porém, as lesões ortopédicas do cigarro são raramente discutidas e, por isso, seguem desconhecidas pelo público em geral. O objetivo dessa entrevista é chamar a atenção dos fumantes ativos e passivos para os riscos do desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas relacionadas ao cigarro.

O cigarro provoca lesões nos ossos e articulações?

Sim, temos diversos trabalhos científicos na literatura que descrevem essas lesões. 

Quais estruturas são lesadas pelo cigarro?

A cigarro está relacionado ao desenvolvimento de osteoporose. Além disso, leva ao retardo da consolidação óssea, à pseudartrose na fratura, e age diretamente na obstrução da microcirculação dos tendões. A lesão na microcirculação leva à ruptura e à dificuldade de cicatrização dos ligamentos e tendões. Há trabalhos publicados que mostram essa associação no desenvolvimento das lesões do manguito rotador, ou seja, quem fuma tem maior chance de desenvolver rupturas do manguito rotador e pior prognóstico após a ruptura desses tendões.  

Pacientes com fratura podem fumar?

Não, o cigarro é terminantemente proibido durante o processo de cicatrização da fratura. Quando um fumante quebra um osso, não temos como interferir nas lesões causadas na microcirulação durante todos os anos em que o paciente fumou, porém, podemos orientá-lo a parar de fumar durante o período de consolidação óssea. 

O que ocorre se o fumante com fratura não quiser parar de fumar?

Se estou tratando um paciente com fratura e ele necessitará de cirurgia, a conduta é simples: ou ele para de fumar ou troca de médico. Não realizo osteossíntese em pacientes fumantes que irão permanecer fumando no pós operatório. 

Quais o riscos do paciente fumante que tem uma fratura?

O paciente fumante evolui com aumento do tempo para colar uma fratura e, algumas vezes, a fratura simplesmente não cola. Desenvolve o que é denominado pseudartrose (falsa articulação), e o membro começa a fazer movimentos anormais no local fraturado. 

Porque o fumo está relacionado a tendinopatia do manguito rotador?

O fumo ativo, e também o fumo passivo, levam a alterações da microcirculação sanguínea, elevando a incidência de inflamações e dificultando a cicatrização dos tecidos tendinosos. 

Como está provado que o cigarro causa danos aos ossos, articulações e tendões?

O estudo sobre os malefícios do fumo, e particularmente do cigarro, é feito por meio de estudos observacionais na população fumante. Exemplo: O câncer de Pulmão apresenta uma incidência muito maior em pacientes fumantes. Nem todos os fumantes irão desenvolver câncer de pulmão, porém a incidência de câncer é 20 vezes mais frequente nos fumantes quando comparado com a população em geral. Estudos semelhantes são feitos com patologias ortopédicas, e observa-se que os pacientes  fumantes apresentam maior dificuldade de cicatrização tecidual, defeito na microcirculação. Observa-se também que o cigarro é um coadjuvante no desenvolvimento da osteoporose. 

De que maneira o fumo atrapalha a cirurgia ortopédica?

Quando operamos um paciente, reconstruímos seus tecidos, colocamos os ossos no lugar (quando realizamos uma osteossíntese) e costuramos os tendões e ligamentos. Ao final da cirurgia, inicia-se o processo de cicatrização dos tecidos. Tanto os tecidos reparados quando os produzidos pela incisão cirúrgica feita para se chegar até as estruturas lesadas deverão cicatrizar-se adequadamente. O cigarro atrapalha esta cicatrização, portanto, atrapalha diretamente o prognóstico da cirurgia. 

Como ocorrem as lesões provocadas pelo cigarro nos tecidos ósseos e tendinosos?

O mecanismo é o dano a microcirculação. Um tecido com menor aporte sanguíneo devido a problemas na microcirculação tem maior dificuldade de lidar com as reações pós operatórias. 

Exemplo: 

Imagine que os pequenos vasos estejam um pouco entupidos. Nessa situação, o tecido recebe menos sangue, e o sangue é o carreador de oxigênio que nutre as células. Com pouco oxigênio, as células ficam fracas e têm dificuldade para lutar contra bactérias geradoras de infeção.
O sangue também leva as células de defesa (glóbulos brancos) até os tecidos inflamados. Se chega menos sangue, há também menos células de defesa, e maior possibilidade de infecção. 

O sangue nutre os tecidos, tecidos com pouco sangue se deterioram e tecido morto é caldo de cultura para bactéria, o que também leva à infecção. 

Tecidos com pouco sangue têm dificuldade de produzirem novas células, o que significa retardo ou não cicatrização dos tecidos, pseudartrose e rupturas tendinosas.

Para piorar a situação, o fumo atrapalha o metabolismo do cálcio e os pacientes, levando a uma maior incidência de osteoporose. 

_______________________________________

Ortopedista, Traumatologia e Medicina do Esporte
Botafogo, Rio de Janeiro, RJ
atualizado em 20/04/2010

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Tosse Cinética


Definição:

É uma técnica de facilitação de tosse voluntária.

Objetivo:

Efetivar o mecanismo da tosse, para que se obtenha uma adequada eliminação das secreções retidas e evitar assim complicações bronco pulmonares.

Indicações:

Doenças hipersecretivas, Pós-operatórios.

Contra-Indicações:

Hemorragias, principalmente digestiva e pulmonar;
Fístulas broncopleurais;
Paciente desorientado e inconsciente;
Presença de sutura com risco de evisceração;
Pressão intracraniana aumentada.

Material Necessário:

Lenço descartável ou compressas.

Orientação ao paciente pré-procedimento:

*Esclarecer a importância do procedimento objetivando profilaxia de complicações pulmonares. 
*Explicar como será feita, pois necessita da colaboração do paciente.
*Esclarecer, conscientizar o paciente que esse procedimento será repetido quando necessário, mesmo quando a dor estiver presente no caso, por exemplo, de pós-operatório.

Descrição do Procedimento:

Descrevemos as diferentes modalidades:

A)TOSSE TÉCNICA:

Inicialmente o fisioterapeuta deve usar o comando verbal adequado, possibilitando que o paciente aprenda a técnica corretamente, para que a mesma seja efetuada com eficácia.

O paciente deverá realizar lentamente a inspiração, prévia ao ato tossígeo usando o padrão diafragmático associado ao padrão intercostal.

Em seguida realiza uma breve apnéia pós-inspiratória.

Logo em seguida, efetuar uma brusca e curta respiração (tossir).

B)HUFFING OU HUFF:

Paciente inspira suave e profundamente usando o padrão diafragmático, associado ao padrão intercostal expandindo a região costo-basal.

Em seguida breve apnéia pós-inspiratória de mais ou menos 03 seg.

Em seguida faz uma expiração profunda descontraída com a boca aberta, utilizando a sua musculatura abdominal, se possível com a compressão manual sobre o abdômen.

C)TOSSE EM 03 TEMPOS:

Tosse deverá ser rápida, consecutiva em 03 tempos, sendo o último tempo expiratório longo, tal qual o Huffing, retirando a musculatura abdominal, e elevando o diafragma abdominal.

D)TOSSE TÉCNICA COM O USO DE SMI (Sustentação Máxima Inspiratória):

É o uso da SMI com a tosse técnica já descrita.

A sustentação máxima de inspiração visa aproveitar a inspiração ativa profunda sustentada por um intervalo de tempo pré-determinado, no ganho de uma tosse bem mais eficaz e produtiva.

Orientação ao Paciente e/ou Familiar Pós-Procedimento:

Se sentir vontade de tossir, deve proceder da maneira que foi orientado.

Pontos Críticos e Riscos:

Dispnéia, ansiedade, vertigem, sentir dor nos casos de pós-operatório e dificuldade na compreensão e/ou execução da técnica.

____________________
FONTE: Texto disponível no site Concurso e Fisioterapia, retirado em 15/10/2014.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O que é costocondrite? ¹

A costocondrite é uma inflamação da cartilagem que liga as costelas ao esterno ou osso do peito. Ela causa dor e sensibilidade na parede torácica que se assemelham, freqüentemente, ao que a pessoa sente com um ataque do coração ou outros problemas cardíacos. 

Em geral, a costocondrite não tem causa aparente e passa sozinha. O tratamento é direcionado a diminuir a dor enquanto o paciente espera o problema resolver-se. 


Quais são os sintomas da costocondrite? 

• Dor e sensibilidade na parede torácica, que podem tanto ser agudas como brandas e incômodas. 

• Dor que muitas vezes se manifesta no lado esquerdo do esterno, embora possa ocorrer em qualquer um dos lados do tórax. 

• Dor ao inspirar na respiração profunda. 

• Dor ao tossir. 

• Dificuldade de respirar. 


Quais são algumas das causas da costocondrite? 

Na maioria dos casos, a causa da costocondrite é desconhecida. Entretanto, há ocasiões em que existe claramente uma causa. Eis alguns exemplos: 

• Lesão – Um golpe no peito (ou sobrecarga muscular causada por alguma alguma atividade física); 

• Infecção – É possível uma infecção se desenvolver na articulação esternocostal, causando dor; 

• Fibromialgia – A costocondrite pode ser um sintoma de fibromialgia, a qual é uma enfermidade que causa dor muscular e uma sensação contínua de cansaço. 


Como o médico diagnosticará a costocondrite? 

O médico fará um levantamento do seu histórico de saúde, lhe perguntará sobre os seus sintomas e realizará um exame médico. Possivelmente, apalpará a extensão do esterno à procura de áreas sensíveis ou inchadas. 

Essa enfermidade não pode ser visualizada por radiografia; contudo, talvez o médico solicite alguns exames diagnósticos a fim de eliminar outras causas da dor, tais como doenças cardíacas ou problemas gastroinstestinais. 


Como é tratada a costocondrite? 

A costocondrite geralmente passa sozinha em uma ou duas semanas. Para que você se sinta mais confortável, pode ser que o médico lhe recomende tomar: 

• Medicamentos anti-inflamatórios não esteróides, conhecidos pela sigla AINEs (NSAIDs, em inglês) – tais como ibuprofeno (Advil, Motrin) ou naproxeno (Aleve); 

• Relaxantes musculares – ajudam a diminuir a dor. 

Os medicamentos de ambas essas classes podem ser irritantes ao estômago e devem ser ingeridos junto com as refeições. 

Existem, ainda, medidas de auto-cuidados que você pode tomar para melhorar o seu nível de conforto. Algumas delas são: 

• Repousar bastante e evitar atividades que fazem a dor piorar; 
• Praticar exercícios físicos leves, tais como caminhar ou nadar, para melhorar o seu humor e manter o seu corpo saudável. Porém, não exagere no exercício e pare se a dor aumentar ao praticá-lo. 
• Pode ser que o seu médico sugira a aplicação de uma compressa térmica na região dolorida várias vezes por dia. Mantenha o ajuste da compressa térmica no nível baixo para evitar queimaduras. 


______________________________
  1. Texto retirado da Folha de Informação aos Pacientes do Danbury Hospital
  2. Fonte: American Academy of Family Physicians através do site www.familydoctor.org. The Mayo Foundation for Medical Education and Research através do site www.mayoclinic.com

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O Cigarro e a Boca

(Por Dr. Dráuzio Varella*)

Orlando Parise é médico cirurgião do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, especialista em cabeça e pescoço.



Alguns psiquiatras elaboraram longos estudos a respeito da sensualidade associada ao ato de fumar e estabeleceram uma relação entre o gestual de levar o cigarro à boca, o jogo dos lábios e as fases mais precoces da sexualidade.

Muitos são os motivos que podem levar uma pessoa ao hábito de fumar. No entanto, ninguém discute que a fumaça do cigarro e seus componentes – são mais de 4 mil substâncias nocivas – provocam ação deletéria não só na cavidade oral, mas em todo o organismo.


Agressividade da Fumaça do Cigarro

Drauzio – Quais os danos causados pela fumaça carregada de agentes químicos que o fumante joga na boca dezenas ou mesmo centenas de vezes ao dia?

Orlando Parisi – A primeira coisa a considerar é que na fumaça do cigarro não há apenas nicotina e alcatrão. Testes laboratoriais demonstram nela existirem centenas de compostos comprovadamente cancerígenos que agridem a mucosa da boca. Além disso, ela sai do cigarro muito quente. Portanto, os danos à mucosa não advêm apenas dos agentes químicos, mas também da agressão térmica resultante da alta temperatura em que a fumaça é absorvida.

Há, ainda, outra agravante. Associar tabaco a bebidas alcoólicas implica consequências dramáticas, porque o álcool ajuda a dissolver tanto a nicotina quanto as demais substâncias nocivas presentes no cigarro, aumentando sua concentração. Mais concentrados, esses compostos irritam a mucosa e favorecem o aparecimento de lesões na boca que, com o passar do tempo, podem tornar-se malignas. Quem já não viu um fumante, numa roda social, dar uma tragada, pegar um copo de uísque ou de outra bebida qualquer, levá-lo à boca, beber um gole, descansar o copo sobre a mesa e dar nova tragada sem dar-se conta do mal que está causando ao próprio organismo.

Drauzio – O cigarro é uma droga compulsiva, que provoca repetidas, intensas e desagradáveis crises de abstinência. Como ex-fumante, com toda a sinceridade, não acredito existir, hoje em dia, dependente de nicotina que não queira abandonar de vez o cigarro. Como orientar essas pessoas?

Orlando Parisi — De fato, deixar de fumar não é fácil. Já assisti a todos os tipos de tentativas e de fracassos. Por isso, encaminhamos essas pessoas para grupos de apoio nos quais encontrarão profissionais especializados para ajudá-las. Se já houver uma lesão pré-neoplásica, esse recurso assume valor inestimável, porque parar de fumar é questão de sobrevivência.

Lesões Predisponentes Para o Câncer de Boca

Drauzio – Você poderia começar falando das lesões pré-malignas que aparecem na boca?

Orlando Parisi – O câncer da boca basicamente incide sobre a população masculina, na proporção de três homens para cada mulher. Por isso, o cuidado maior deve recair sobre os homens na quarta década de vida e tabagistas. Neles, toda a lesão branca ou vermelha que surgir na boca precisa ser vista e acompanhada por um médico. O termo científico para tais lesões é leucoplasias com eritoplasias. São placas brancas, bem delimitadas, com aspecto mais ou menos característico.

Drauzio — Elas aparecem mais frequentemente em que lugar da boca?

Orlando ParisiAparecem na mucosa da bochecha, na língua ou no assoalho da boca e todo o fumante que notar sua presença deve procurar auxílio médico o mais depressa possível.

Gostaria de ressaltar, porém, que se atribui maior importância a essas lesões predisponentes para a gênese do câncer nos Estados Unidos e na Europa do que nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Aqui, talvez por falta de rastreamento populacional, em 85% dos casos, quando a doença é diagnosticada, o tumor está em fase avançada localmente na boca ou já atingiu os gânglios do pescoço. A terapia indicada nesse estágio da evolução pressupõe cirurgias mais radicais com impacto negativo no resultado final, no alto custo e no comprometimento da aparência física.

Drauzio – Essas lesões sangram necessariamente?

Orlando Parisi – Elas não sangram necessariamente. Na verdade, são muito heterogêneas na apresentação. Algumas formam um tumor na boca; outras, uma ferida ulcerada ou uma placa completamente assintomática. O aspecto é bastante variável. Por isso, qualquer coisa anormal que se note na boca, em especial na borda da língua, é motivo de preocupação e um médico deve avaliar o problema.

Drauzio – Os tumores de boca começam sempre por essas lesões ou eles podem instalar-se sem que elas surjam antes?

Orlando Parisi – Às vezes, eles se instalam diretamente sem que o doente perceba a presença de uma lesão pré-existente.

Exames Periódicos com Especialistas

Drauzio – O fumante, mesmo que não tenha nada, de quanto em quanto tempo precisa ir a um especialista para examinar a boca?

Orlando ParisiNo mínimo, uma vez por ano, de preferência a cada seis meses, o fumante deve submeter-se a exame rigoroso da cavidade oral. No Brasil, quem examina a boca quase sempre é o dentista. Infelizmente, nem todas as faculdades de odontologia preparam esses profissionais para identificar lesões que predispõem ao câncer. Por outro lado, quantas vezes a pessoa vai a um clínico geral que a examina com cuidado, mas não usa o abaixador de língua para olhar a boca o que é uma pena, pois talvez esse fosse o rastreamento populacional mais barato e simples de fazer, já que requer apenas uma lanterninha, o abaixador de língua e o olhar atento de um profissional.

Desse modo, não são raros os pacientes que, pouco tempo depois de uma consulta médica, perceberam alguma coisa estranha na boca durante a higiene oral, ou, pior, pessoas com lesões embaixo da dentadura que procuraram o dentista e tiveram a prótese desbastada para acomodar melhor o tumor que crescia.

Drauzio – Já vi casos de doentes com tumor embaixo da língua, acompanhados por otorrinolaringologistas, que nunca a tinham levantado para verificar se havia algo diferente naquele lugar.

Orlando Parisi – Porque isso pode acontecer, é sempre bom repetir que qualquer coisa estranha que apareça na boca, principalmente na dos fumantes, deve ser vista com muita seriedade.

Incidência do Câncer de Boca

Drauzio – No Brasil, o álcool é barato e muita gente bebe demais. É interessante notar, porém, que nem todos os fumantes têm o hábito de beber. No entanto, quem bebe, normalmente fuma muito. Qual o reflexo desse comportamento na ocorrência do câncer de boca?

Orlando Parisi – De modo geral, estima-se que aproximadamente 90% dos portadores de tumores malignos de cabeça e pescoço ligados ao consumo de tabaco e álcool sejam tabagistas e 70% ingiram álcool com frequência. Na verdade, existem três fatores de risco principais para essa doença: tabaco, álcool e má higiene oral.

Não sei se existem dados confiáveis no Brasil inteiro, mas, na região metropolitana da cidade de São Paulo, ocorre a segunda maior incidência de câncer de boca do mundo. Só perdemos para a Índia. Em termos estatísticos, isso significa que em cada cem mil pessoas, cerca de dezenove desenvolvem câncer de boca.

Outro dado interessante baseia-se nas lesões predisponentes para o câncer de boca. No Estado de São Paulo, a estimativa é que haja cinco mil novos casos de câncer de boca por ano. Se considerarmos que a cada caso correspondem outros cinco de lesões predisponentes que podem demorar 20 anos para transformar-se num câncer, é possível imaginar que, em algum momento dessa etapa evolutiva da carcinogênese no Estado, haverá seiscentas mil pessoas com risco de desenvolver câncer ou com a doença já instalada.

Drauzio – Haverá especialistas em número suficiente para atender tal demanda?

Orlando Parisi – Em termos estaduais, não sei avaliar, mas na cidade de São Paulo é grande o número de cirurgiões de cabeça e pescoço. O grande problema, porém, é que a população de risco pertence, em regra, a um extrato social economicamente mais desfavorecido, que enfrenta enormes obstáculos para receber um serviço de saúde de qualidade. Muitas vezes, quando esses pacientes são atendidos, as lesões já estão em fase bem avançada. Para se ter uma ideia, há números que evidenciam a gravidade da situação.

No norte da Europa e nos Estados Unidos, os programas de rastreamento populacional não obtiveram resultados significativos na redução da curva de mortalidade ou da incidência do câncer de boca, mas conseguiram diagnosticar 85% das lesões ainda na fase pré-maligna, evitando que muitas evoluíssem mal. Aqui, ao contrário, os mesmos 85% representam as lesões malignas que chegam para começar o tratamento em estágio avançado. Por isso, defendo que uma política firme e determinada de rastreamento alcançaria resultados importantes na prevenção do câncer de boca.

Autoexame e População de Risco

Drauzio – Você acha que o autoexame, isto é, a pessoa examinar a própria boca diante do espelho, abaixando a língua com uma colher e erguendo-a em seguida, ajudaria na prevenção da doença?

Orlando ParisiAcho útil, mas é pouco provável que o autoexame ajude a pessoa a diferenciar as lesões benignas das malignas por causa da heterogeneidade de aspecto dessas lesões. Em relação ao câncer de mama, por exemplo, é fácil explicar à mulher a importância de apalpar o próprio seio e, notando algum caroço, procurar imediatamente o médico. Na boca, entretanto, não existe um único sinal característico de lesão maligna. Por isso, insisto: percebendo alguma coisa anormal na boca, a pessoa deve procurar um médico.

Acredito, também, em campanhas de esclarecimento cujo objetivo seja convencer os fumantes acima de 40 anos e as pessoas com história de parentes próximos que tiveram câncer de cabeça, pescoço ou de boca, da necessidade de exames periódicos, uma vez que há certa propensão familiar para essa espécie de tumor.

Outra população particularmente de risco é a que já teve algum tipo de câncer de cabeça ou pescoço e está curada. A recidiva costuma ocorrer em mais ou menos 5% dos pacientes a cada ano que passa. Por isso, o acompanhamento médico tem de ser permanente nesses casos.

Drauzio – É importante frisar que Dr. Parisi está se referindo exclusivamente ao câncer nesse local. Isso não vale para outros tumores. Por exemplo, quem se curou de um tumor de estômago e está curado, dificilmente terá outro câncer gástrico. Nos tumores de cabeça e pescoço, em 5% dos casos ao ano, existe a possibilidade de um segundo tumor primário desenvolver-se nas proximidades do lugar que já foi tratado. Por isso, mesmo os pacientes já curados não podem descuidar-se.

Erradicação do Câncer de Boca

Drauzio O que aconteceria se, num passe de mágica, o cigarro desaparecesse da face da Terra?

Orlando Parisi – Na área médica, o desemprego seria muito grande, porque haveria menos doentes para atender, já que o cigarro responde pelo surgimento de inúmeras doenças.

No caso específico dos tumores de boca, sem dúvida, eles seriam muito raros. E isso é apenas parte da equação. Diminuiria, também, a incidência de câncer de pulmão e de doenças do aparelho cardiorrespiratório, para não mencionar as outras patologias decorrentes da adição do fumo.

Se todos levassem a sério os danos que causa à saúde, o cigarro estaria proibido no mundo inteiro. Mas há quem defenda a não intervenção sobre o tabagismo. O argumento está nos impostos que sobre ele incidem, uma fonte de arrecadação nada desprezível. A mais otimista das análises, porém, indica que para cada real gerado pelo tabaco, o governo gasta R$1,60 com a saúde dos fumantes. São cifras cruas que consideram tão-somente as despesas com saúde sem levar em conta outros gastos maiores. Por exemplo, quanto despendeu a sociedade para formar o indivíduo que morre de câncer no apogeu profissional, aos 50 e poucos anos? Quanto vale o tempo que os doentes perdem de trabalho produtivo?

Aparência da Boca do Fumante

Drauzio – Só de olhar a boca de uma pessoa, você é capaz de dizer se ela é fumante ou não?

Orlando Parisi Sempre há alterações significativas na boca do fumante. A primeira é a halitose. O mau hálito dos fumantes tem características muito peculiares. Depois existem os problemas dos dentes e das gengivas.

Basicamente, o cigarro provoca uma inflamação crônica na mucosa que, irritada, favorece o aparecimento de lesões predisponentes. Constatado o problema, a pessoa deve ser avisada do risco que está correndo se continuar fumando.

Drauzio – Você nota essas alterações mesmo em fumantes jovens de 18 ou 20 anos?

Orlando Parisi — É claro que as alterações são menores em quem fuma há pouco tempo. No entanto, quanto mais longa a exposição ao tabaco, mais evidentes elas serão. Cada indivíduo tem uma capacidade diferente para desenvolver ou não um câncer ligado à dependência de nicotina. Na realidade, já se tentou correlacionar linearmente tempo e exposição ao tabaco para justificar o surgimento de um tumor, mas não se chegou a nenhum resultado preciso, porque o metabolismo dos agentes carcinogênicos do cigarro difere de pessoa para pessoa. Sabe-se que certos indivíduos herdaram características genéticas que os tornam menos vulneráveis aos efeitos do cigarro. Todo doente, aconselhado a parar de fumar, conta a história de um tio que viveu até os 90 anos fumando dois maços por dia. Esse privilégio de alguns está longe de transformar-se numa regra e não garante, em hipótese alguma, que o risco não exista para os outros membros da família.



Uso de Próteses Dentárias

Drauzio – Além do cigarro e das concentrações de casos em certas famílias, há outras causas do câncer de boca? As próteses, que ferem repetidamente a boca, por exemplo, podem provocar o aparecimento de um tumor?

Orlando Parisi – Esse é um dado polêmico. Antigamente se acreditava que havia uma correlação linear entre o mau ajuste das próteses dentárias e o câncer de boca. Todavia, recentemente, foram divulgados estudos criteriosos que não conseguiram comprovar essa hipótese. Pessoalmente não acredito nela, uma vez que, suspendendo o atrito traumatizante, a ferida muitas vezes cicatriza. O problema está no fato de que, em geral, convive com prótese mal ajustada o indivíduo sem condições de usufruir assistência dentária adequada. Além disso, seu uso pode estar associado ao tabagismo e ao alcoolismo, estes, sim, fatores de risco para o câncer em geral e o câncer da boca em particular. A prótese defeituosa pode causar ferimentos que, continuamente expostos às agressões químicas e térmicas provocadas pelo cigarro, transformam-se em lesões predisponentes. Esse é um perigo real a que se expõem inúmeras pessoas.


_____________________________
*Fonte: Esta matéria foi publicada no site do Dr. Dráuzio Varella


Tabagismo: A Indústria do Fumo e Suas Consequências

(Por Dr. Dráuzio Varella*)

José Rosemberg, professor de Pneumologia e um dos fundadores da Faculdade de Medicina da PUC (SP), tem-se destacado no combate à tuberculose e ao tabagismo.


O cigarro industrializado se disseminou feito praga pela Europa e pelas Américas, especialmente a partir da Primeira Guerra Mundial. A publicidade associava-o a um hábito elegante e sofisticado de viver e, dependendo do contexto, a uma forma de inserção social. Em “Casablanca”, clássico do cinema romântico americano, rodado em 1943, em plena Segunda Grande Guerra, são inesquecíveis as cenas em que o carismático e talentoso Humphrey Bogart dá longas tragadas ao som de “As time goes by”.

Entretanto, nos anos de 1950, alguns trabalhos começaram a demonstrar que o cigarro era capaz de provocar câncer em animais, constatação que as companhias tabaqueiras lutaram por desqualificar. Investindo maciçamente em tal propósito, durante muitos e muitos anos, atingiram seu objetivo. No início da década de 1970, porém, vozes se levantaram contra tamanho absurdo e chamaram atenção para os males que o cigarro provoca. No Brasil, o professor José Rosemberg foi o primeiro a veicular esse conhecimento e a engajar os médicos na luta contra o tabagismo.


Cruzada Antitabagista

Drauzio – O senhor começou essa cruzada antitabagista nos anos 1970. O que o levou a perceber que o cigarro era um problema gravíssimo de saúde pública?

José Rosemberg – Como médico, sabia que o cigarro era mortal, mas não dedicava tanto tempo a divulgar essa informação, porque minha especialidade é a tuberculose. Todavia, em 1970, um amigo dinamarquês, que era presidente e diretor da Organização Mundial de Saúde, me pediu para divulgar na classe médica a importância do combate ao tabagismo, uma vez que a OMS pretendia lançar o primeiro Dia Mundial de Combate ao Tabagismo (31 de maio). Atendendo ao seu pedido, consegui aprovar a primeira Semana Universitária Antitabágica na PUC/SP, que se transformou num grande fórum de discussão a respeito desse tema.

Nessa ocasião, escrevi um artigo de mais ou menos vinte páginas sobre tabagismo e coloquei numa gaveta. Quando o reli, vi que ele não convenceria nem mesmo os médicos interessados no assunto. Redigi, então, uma monografia que foi publicada no primeiro número especial da revista da PUC/SP. A essa publicação seguiu-se “Tabagismo: Sério Problema de Saúde Pública”,laureado pela Academia Nacional de Medicina, o primeiro livro científico brasileiro sobre o tabaco como grave problema de saúde pública. Daí em diante, tenho me dedicado a campanhas de esclarecimento junto à classe médica a respeito do tabagismo.

Atualmente, sou presidente da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira, que tem alcance muito grande, e membro da Comissão Antitabagismo criada pelo Conselho Federal de Medicina. Sou também presidente honorário da Comissão Latino-Americana Antitabágica e presidente do Comitê Coordenador do Tabagismo no Brasil. Esses cargos facilitam meu contato com os médicos e, de vez em quando, com o público leigo como está acontecendo nesta entrevista, que considero muito importante para informar a população sobre os prejuízos que o cigarro provoca.


Indústria do Fumo

Drauzio – Nos anos 1970, quando o senhor começou esse trabalho, como os médicos recebiam a informação de que o cigarro era mortal?

José Rosemberg – A maioria com muito interesse. Havia médicos fumantes que, evidentemente, se interessavam menos. Em 1985, conseguimos formar a primeira comissão junto ao Ministério da Saúde (éramos oito ou dez médicos, mas gostaria de nomear os professores Mário Rigatto, Edmundo Blundi). Tínhamos o trabalho clandestino de elaborar um programa antitabaco. O ministro da saúde da época, Valdir Arcoverde, nos disse – “Quero que vocês apresentem um programa de combate ao fumo, mas, pelo amor de Deus, não digam nada a ninguém, porque a sabotagem contra ele vai ser grande e não tenho meios para combatê-la”. Desse modo, durante um ano, nos reunimos em sigilo, uma vez por mês, em Brasília, elaboramos o primeiro Programa Nacional de Combate ao Tabagismo e José Sarney, presidente da república na época, sancionou o projeto que instituía o dia 29 de agosto como Dia Nacional de Combate ao Tabagismo.

Drauzio – A pressão violenta que levava o ministro da saúde a pedir que o trabalho fosse feito em sigilo era basicamente exercida pela indústria do fumo que na época controlava os meios de comunicação?

José Rosemberg – A indústria tabaqueira internacional – todas elas são multinacionais – controlam os meios de comunicação do mundo. Para ter uma idéia, o programa do congresso norte-americano contra as companhias tabaqueiras fez vir à tona mais de 40 milhões de páginas de atas secretas nas quais, desde 1945, estavam registrados pronunciamentos de técnicos e biólogos a respeito da dependência da nicotina como mais forte do que a da cocaína e heroína. Portanto, muito antes da ciência oficial, a indústria do tabaco já dominava esse conhecimento.

No entanto, ela continuou trabalhando para conseguir geneticamente plantas de tabaco que produzissem maiores teores de nicotina e obtiveram a espécie Y1. As primeiras duzentas toneladas foram plantadas no Rio Grande do Sul, e o próprio plantador percebeu a força que tinha essa planta, chamada de tabaco louco ou fumo louco, pelas lesões que provocava na pele. Felizmente, o governo brasileiro se recusou a conceder patente para tal produto e o mesmo fez o governo norte-americano. No entanto, neste momento, 21 países do mundo fabricam cigarros com fumo louco, que têm teor de nicotina três vezes maior do que o tabaco comum. E o pior, trata-se de nicotina livre, que vai diretamente para o cérebro e é diferente da nicotina presa por sais minerais. Como se vê, o mundo está sendo invadido pelo fumoY1, uma droga psicoativa muito mais difundida e consumida do que a cocaína, a heroína e outras drogas pesadas.


Pandemia do Tabaco

Drauzio – Em seu livro ” Nicotina - Droga Universal”, o senhor se refere à epidemia do tabaco como um problema mundial.

José Rosemberg – Mostro nesse livro que se trata de uma pandemia sem igual. De fato, podemos dizer que a epidemia moderna do tabaco é pior do que qualquer outra. Vou dar um exemplo. Nos últimos 30 anos, o HIV matou, em média, vinte milhões de pessoas no mundo e o bacilo da tuberculose, 60 milhões, enquanto o tabaco matou 150 milhões, ou seja, cinco milhões de pessoas no mundo morrem por ano por causa do tabaco. O mais triste é que 80% da mortalidade ocorrem no mundo pobre.

Em números redondos, atualmente existem no mundo um bilhão e trezentos milhões de fumantes, 80% dos quais concentrados nas áreas onde ainda não foram dominadas as doenças transmissíveis por bactérias e vírus e as doenças carenciais por desnutrição. Somem-se a elas os problemas de saúde pública e as mais de 50 doenças relacionadas com o tabaco e teremos traçado um panorama trágico.

Componentes do Tabaco

Drauzio – Na verdade, são muitas as substâncias tóxicas contidas no tabaco.

José Rosemberg – Sabe-se, hoje, que o tabaco possui mais de sete mil substâncias tóxicas diferentes. O público leigo e muitos médicos pensam que o fumo contém apenas nicotina e alcatrão. Nicotina é a droga que leva à dependência (se não fosse ela, ninguém fumava) e tem a peculiaridade de não ser comprada pura como a cocaína e a heroína. Ninguém compra um grama de nicotina no bar; compra um maço de cigarros, que carreiam consigo sete mil substâncias tóxicas, 4.720 das quais classificadas nas quatorze famílias químicas. Quando o cara dá aquela tragada que lhe parece tão gostosa, a fumaça que penetra até no último de seus alvéolos está carregando pelo menos 2.500 substâncias tóxicas.



Drauzio – Essa fumaça está em que temperatura, professor?

José Rosemberg – Essa é uma pergunta importante. Muitas dessas substâncias não estão no tabaco. São compostas e decompostas na boca do fumante. A temperatura, que pode variar entre 900 e 1.200 graus conforme a força da tragada, é responsável pela formação de muitas substâncias cancerígenas, por exemplo. A nicotina em si não é cancerígena, mas provoca câncer por vários mecanismos.

Drauzio – O senhor poderia mencionar as principais doenças causadas pelo tabaco?

José Rosemberg – Hoje, não há um livro de medicina que deixe de mencionar os problemas de saúde causados pelo tabaco. Em primeiro lugar, vêm as doenças cardiorrespiratórias. Se, no geral, 33% dos infartos fulminantes são provocados pelo tabaco, nos indivíduos entre 45 e 55 anos, esse número sobe para 50%.

A partir dos 50 anos de idade, 25% dos derrames cerebrais têm como causa o tabaco e não há quem não saiba que o derrame cerebral pode levar à morte ou à paralisia. Além disso, 85% dos casos de bronquite crônica, enfisema, uma enfermidade que destrói o pulmão e não tem cura, se devem ao hábito de fumar. E não é só: essas doenças deixam o pulmão mais vulnerável às infecções viróticas e bacterianas, como gripe, AIDS, tuberculose, etc.

Por causa da diminuição da capacidade imunológica dos macrófagos (células que garantem a imunidade) que o tabaco provoca, 90% dos cânceres de pulmão são causados pelo tabaco e os 10% de não fumantes que contraem a doença são fumantes passivos. E tem mais: todos os outros tipos de câncer têm a incidência aumentada entre 30% e 50% nos fumantes. Portanto, casos de câncer de boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rins, bexiga, leucemia mieloide e, nas mulheres, câncer de colo do útero e de mama, estão aumentando nas pessoas que fumam.

Ninguém mais discute que o tabaco é mortal. Na verdade, ele é o único produto que mata quando consumido como manda a propaganda.

Pesquisa na Inglaterra

Drauzio – Não resta mais dúvida de que o fumante vive menos.

José Rosemberg – Que o cigarro encurta a vida, não há mais dúvida. Estatísticas no mundo inteiro atestam esse fato. A propósito, gostaria de citar um estudo realizado, em 1951, com 34.439 ingleses. Eles responderam um questionário de mais de trezentas perguntas sobre como viviam, que medicamentos tomavam, se eram portadores de doenças hereditárias, onde moravam, se eram fumantes ou não, se acendiam o cigarro com fósforos ou com isqueiro, etc. Como na Inglaterra, quando morre um médico, cópia do atestado de óbito vai para o Conselho Britânico de Pesquisas, foi possível verificar, depois de 40 anos de acompanhamento, que os médicos ingleses fumantes morreram mais do que os não fumantes por 33 diferentes doenças.

Outro dado obtido foi que 80% dos médicos que nunca fumaram chegaram vivos aos 70 anos. Entre os fumantes chegaram aos 70 anos 70% dos que fumavam 15 cigarros por dia; 65% dos que fumavam um maço de cigarros e 50% dos que fumavam dois maços. Recentemente, no British Medical Journal, saiu o resultado dessa pesquisa depois de 50 anos de acompanhamento e verificou-se uma diferença no índice de mortalidade dos médicos ingleses que começaram a fumar no começo do século comparados com os que começaram a fumar depois dos anos de 1930. A conclusão foi que hoje se morre três vezes mais por causa do cigarro, porque se fuma muito mais do que se fumava no começo do século.

O impressionante é que 1/3 da mortalidade geral é provocada pelo tabaco e ocorre entre os 34 e os 69 anos, idade em que o homem é mais necessário e economicamente produtivo, e que nessa faixa de idade morre um a cada dois que começaram a fumar na adolescência.

Drauzio – O que acontecerá se esse padrão de consumo não mudar?

José Rosemberg – Hoje, morrem por ano cinco milhões de pessoas por causa do tabaco. Se o padrão de consumo não se reverter, em 2030, morrerão dez milhões por ano, dos quais sete milhões no mundo pobre e três milhões no mundo rico.

Vale a pena discutir essa inversão. A epidemia está se deslocando do mundo rico para o mundo pobre, para a África, Ásia e América Latina, por algumas razões que vou enumerar.

Como as pessoas do mundo rico começaram a fumar antes, já existem campanhas e leis muito mais severas contra o uso do tabaco. Como consequência, as companhias tabaqueiras internacionais estão dirigindo seus esforços para os países em desenvolvimento. Por isso, enquanto o consumo cai 1,7% ao ano nos países ricos, aumenta 2,45% nos pobres. Isso quer dizer que cem milhões de pessoas começam a fumar por ano: oitenta milhões no mundo pobre e vinte milhões no mundo rico.

Se fumar fosse dar uma tragada e cair morto, ninguém fumava. O cigarro leva algum tempo para minar o organismo. Age na surdina. Daqui a dez ou vinte anos, portanto, muito mais gente vai morrer no mundo pobre por causa do tabaco.

Doença Pediátrica

Drauzio – Outro problema é que as pessoas estão começando a fumar cada vez mais cedo.

José Rosemberg – Atualmente se considera a epidemia tabágica uma doença pediátrica, porque 99% dos fumantes começam a fumar na adolescência, entre os 10, 12 anos e os 18 anos, quando os centros nervosos ainda não estão totalmente desenvolvidos. Excepcionalmente, um indivíduo começa a fumar aos 20, 25 anos.

A nicotina chega ao cérebro de 7 a 12 segundos depois da tragada. Lá existem vários centros nervosos que a reconhecem e promovem uma chuva de hormônios psicoativos que levam à dependência. O principal deles é a dopamina. Como no adolescente esses centros ainda não estão maduros, a defesa é muito menor e ele se torna dependente mais depressa. Aos 19 anos, 99% dos fumantes são escravos do tabaco até a morte.

Futuro Trágico

Drauzio – Existe uma projeção de como evoluirá a epidemia do tabaco?

José Rosemberg – Existem no mundo de dois bilhões e meio a três bilhões de pessoas entre zero e trinta anos. Em 2030, elas terão de 35 a 69 anos. Se nada for feito para reduzir o consumo de tabaco, ele será responsável pela morte de 500 milhões de pessoas. Por isso, as instituições médicas e de saúde pública do mundo inteiro estão prevendo um futuro trágico para a epidemia do tabaco.

A pergunta é por que não se proíbe fumar e vender tabaco. Porque é impossível, uma vez que existem no mundo mais de um bilhão de indivíduos nicotino-dependentes. Como fazer essa gente toda parar de fumar?

Há 500 anos, o tabaco vem sendo apresentado como sinônimo de estilo de vida e se fuma muito, mas faz só 50 anos que se sabe que ele mata. Na verdade, o fumante é vítima dessa epidemia. Não podemos estigmatizá-lo.

Convenção-Quadro sobre o Tabagismo

Drauzio – O que o senhor acha que deve ser feito para reverter esse quadro?

José Rosemberg – A saída é um programa educacional em âmbito nacional que leve a mensagem e uma campanha mundial contra o tabagismo. Na Organização Mundial de Saúde, 192 países e 200 ONGS, entre elas a que presido, assinaram um convênio que se chama Convenção-Quadro sobre o Controle do Tabaco que resultou no primeiro tratado de saúde pública mundial de prevenção, o primeiro sobre tabagismo. Se 40 países não fizerem a ratificação desse documento, ele não poderá ser transformado em lei internacional para proteger a população do mundo contra os efeitos nocivos do tabaco. Entre as medidas que defende, estão a proibição da propaganda de cigarro, do patrocínio de eventos culturais e esportivos pela indústria do fumo, de fumar nos lugares públicos e a divulgação de imagens e frases de advertência nos maços de cigarro.

Pode-se proibir fumar nos locais de trabalho ou diversão, mas não se pode proibir que o indivíduo fume em casa. Por isso, a saída é elaborar um programa nacional de educação. Nenhuma lei é aplicável se não tiver base educacional e nenhum programa educacional funciona, se não contar com o amparo da lei. Legislação e educação constituem um binômio interdependente.

Nossa esperança é que até 2050 tenhamos conseguido conscientizar a sociedade de que fumar é um ato antissocial. Faz mal a quem fuma e a quem convive com o fumante.




_________________________
*Fonte: Matéria publicada no site do Dr. Dráuzio Varella


sábado, 7 de dezembro de 2013

Respiração adequada durante a atividade física


Todo mundo sabe que respirar pelo nariz geralmente é melhor porque o ar entra quente e úmido no pulmão, além de ser filtrado pelos cílios das narinas.

No entanto, durante a atividade física, o corpo precisa de uma ventilação maior, especialmente nos exercícios mais intensos e, por isso, a respiração precisa ser adequada, como explicaram o médico do esporte Gustavo Magliocca e o fisiologista do exercício Paulo Correia.

Como a necessidade de ventilação é maior durante o movimento, muitas vezes o nariz não é capaz de atendê-la sozinho - por isso, muita gente costuma abrir a boca para respirar e, de acordo com os médicos, isso é normal e não chega a trazer problema. Inclusive, a respiração também pela boca ao se exercitar é essencial para garantir conforto durante a atividade. Caso a pessoa não respire do jeito certo na hora do exercício, ela pode começar a sentir dor ou desconforto.

Na musculação, por exemplo, o correto é expirar no momento do esforço e inspirar no retorno, como explicou o fisiologista do exercício Paulo Correia.

Quando a pessoa expira, os músculos abdominais se contraem e garantem maior sustentação do corpo para a realização do movimento. Nesse caso, respirar do jeito errado ou ao contrário pode provocar dor e desconforto, além de desperdiçar o exercício.


Clique na imagem para ampliá-la.

Já na corrida não existe uma regra para respirar. Muitas pessoas acreditam que é preciso inspirar pelo nariz e soltar pela boca, mas na verdade, isso varia de acordo com o ritmo do exercício.

No começo, por exemplo, a pessoa pode até conseguir respirar dessa maneira, mas quando o tempo passa, mesmo correndo na mesma velocidade, a intensidade do movimento aumenta e o corpo pede mais ventilação – nessa hora, a respiração pela boca se torna fundamental. Ficar preso a um modelo de respirar pode causar uma falta de coordenação e causar aquela dor lateral que muita gente reclama, além de cansar mais rápido.

Essa dor, segundo o médico do esporte Gustavo Magliocca, é provocada por uma espécie de câimbra do diafragma, causada pela maneira inadequada de respirar. Além de ficar preso a um modelo só respiração, outra causa dessa dor é conversar durante o exercício. Por isso, para evitar essa dor, a dica é não conversar e respeitar a necessidade do corpo.

Algumas pessoas costumam ainda usar expansores nasais, que são aqueles adesivos colados no nariz.

Segundo o fisiologista do exercício Paulo Correia, esses expansores facilitam a entrada de ar durante o exercício, o que aumenta o conforto na hora de se exercitar. Mas o especialista alerta que eles não melhoram o desempenho na corrida, apenas tornam mais fácil a execução da atividade.

Como queimar mais calorias na corrida?

Muita gente gosta de correr, mas não sabe a velocidade certa para perder peso. Um teste chamado de ergoespirométrico é capaz de avaliar o consumo de oxigênio no exercício, como mostrou a reportagem da Daiana Garbin. O ideal, para perder gordura, é estar em um ritmo acima de 65% do consumo máximo de oxigênio e, através do teste, é possível saber qual a velocidade na esteira que atinge esse percentual.

Segundo o médico do esporte Gustavo Magliocca, quando a pessoa caminha ou corre em uma mesma velocidade, ela perde uma quantidade de calorias.

Porém, se ela alterna a velocidade e eleva os batimentos cardíacos em picos, ocorre um consumo maior de oxigênio não só durante, mas horas após o exercício, o que faz o metabolismo permanecer acelerado por mais tempo e, consequentemente, ajuda a queimar mais calorias por mais tempo. Por isso, dar alguns tiros durante a corrida ajuda a emagrecer mais rápido, como mostrou o especialista.

_______________________
Matéria publicada em: G1 - Bem-Estar


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...