A oxigenoterapia consiste na administração de oxigênio suplementar com o intuito de elevar ou manter a saturação de oxigênio acima de 90%, corrigindo os danos da hipoxemia. Deve ser administrada com base em alguns parâmetros utilizados para avaliar o grau de oxigenação sangüínea.
Ao se elevar a fração inspirada de oxigênio, constata-se aumento da pressão arterial de oxigênio e, conseqüentemente, diminuição do trabalho respiratório necessário para manter a tensão de oxigênio alveolar, bem como do trabalho miocárdico responsável pela manutenção da oferta de oxigênio aos tecidos.
Indicação: A oxigenoterapia está indicada sempre que exista uma deficiência no aporte de oxigênio aos tecidos.
A pressão arterial de oxigênio (PaO2), normalmente entre 90 e 100mmHg, refere-se à quantidade de oxigênio dissolvida no plasma e valores abaixo da normalidade indicam trocas gasosas ineficientes.
Outro índice importante é a saturação da oxiemoglobina arterial (SatO2) que é proporcional à quantidade de oxigênio transportado pela hemoglobina. Seu valor é igual ou maior que 97% e pode ser monitorada pela oximetria de pulso ou de forma invasiva por meio de coleta e análise do sangue arterial.
A saturação venosa de oxigênio (SvO2), a pressão de oxigênio venoso misto (PvO2), o conteúdo do oxigênio arterial (CaO2) e a liberação sistêmica de oxigênio (PO2) são outros parâmetros que também devem ser considerados.
O objetivo primário da oxigenoterapia é aumentar a quantidade de oxigênio carreado pelo sangue aos tecidos.
Através do aumento da concentração de oxigênio no ar alveolar, cria-se uma diferença entre a pressão parcial desse gás dentro dos alvéolos e o oxigênio dissolvido no plasma, facilitando a passagem de oxigênio para o capilar, sua dissolução no plasma e associação com a hemoglobina, reduzindo os efeitos da hipoxemia.
Hipoxemia X Hipóxia
Hipoxemia é a deficiência anormal de concentração de oxigênio no sangue arterial (baixa PaO2).
É diferente de hipóxia ou hipoxia, que é a baixa disponibilidade de oxigênio para determinado órgão, o que pode ocorrer mesmo na presença de quantidade normal no sangue arterial, como no infarto agudo do miocárdio ou no acidente vascular cerebral.
Sinais de hipóxia:
Respiratórios: taquipnéia, respiração laboriosa (retração intercostal, batimento de asa de nariz), cianose progressiva;
Cardíacos: taquicardia precoce, bradicardia (mais avançada), hipotensão e parada cardíaca;
Neurológicos: inquietação, confusão, prostração, convulsão e coma.
Sistemas de alto e baixo fluxo
- Sistemas abertos: sem reinalação do gás expirado.
- Podem ser de baixo ou alto fluxo.
- Para que se possa usar um desses sistemas, é necessário que haja uma válvula redutora de pressão (permitindo reduzir a diferença pressórica entre rede de oxigênio e a pressão atmosférica) acoplada a um fluxômetro.
- Os fluxômetros são compensados ou não, em relação à válvula de saída, e a sua leitura é feita em litros por minuto.
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1) O sistema de baixo fluxo: fornece oxigênio com fluxo menor que a demanda do paciente, com concentrações que variam de 24 a 40%, com fluxo de 1 a 6L/min (FiO2 baixa e variável devido à diluição aérea). Há necessidade de que o paciente tenha um ritmo respiratório regular, com volume corrente maior que 5ml/kg e uma freqüência respiratória menor que 25 incursões por minuto.
Cateter nasal (com ou sem reservatório):
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Concentração O2 de 25 a 45%;
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Fluxo de 0,5 até 5L/min;
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Sem reinalação;
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Vantagens: fácil colocação, permite que o paciente converse, se alimente;
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Problemas: fluxo inexato, irritação cutânea, vazamentos.
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Contra-indicada em indivíduos que tenham
respiração predominantemente oral. - A umidificação só se faz necessária para fluxos maiores do que 4 l/min.
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A FiO 2 teórica e estimada para vários fluxos:
L/min FiO 2
1 24%
2 28%
3 32%
4 36%
5 40%
6 44%
Cateter faríngeo
Cateter transtraqueal
- Administração de O 2 diretamente na traquéia, através de um pequeno cateter (1 a 2 mm de diâmetro interno) inserido percutaneamente ao nível do primeiro anel.
- Economia de O 2 de aproximadamente 50% em repouso e 30% durante o exercício, devido ao armazenamento do oxigênio no espaço morto da via aérea superior e traquéia.
- A FiO 2 não varia com o padrão respiratório, e é possível seu uso contínuo, não interferindo na realização das tarefas e nas atividades de
vida diária. -
A oxigenoterapia pode ser iniciada 2 a 3 dias após a inserção do cateter transtraqueal, sendo necessário um programa de educação e supervisão do paciente.
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Desvantagem: Procedimento invasivo, podendo muito raramente levar à rouquidão, eritema cutâneo , hemoptises, enfisema subcutâneo e formação de rolhas de muco.
Máscara facial simples:
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Devem ser feitas com material transparente, para que se possa detectar facilmente uma regurgitação. É ainda importante que seja maleável, para boa adaptação à face, evitando-se vazamento de ar.
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Oferta fiO2 de 35 a 50%;
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Fluxo deve de a 5 a 12L/min;
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Fluxo inferior a 5L/min = reinalação de CO2 contido no reservatório da máscara.
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Deve ser retirada para alimentação, menor conforto, claustrofobia.
Máscara com reservatório de oxigênio
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O2 armazenado em reservatório e liberado durante as inspirações do paciente;
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Oferece fiO2 maiores com fluxos menores;
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Válvula bidirecional com reinalação: (poupa fluxo)
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– Concentração de O2 : 35 – 60 %
– Fluxo de O2: 06 a 10 L
– Permite reinalação de CO2 na bolsa reservatório
– Bolsa tem de estar cheia em 2/3
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Válvula unidirecional sem reinalação (escolha do pac. grave)
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– Concentração de O2: 80 a 95 %
– Fluxo de O2: 10 a 15 L.
– Indicada no pac. grave IRA
– Bolsa reservatório sempre inflada
– 6 L. – 60 % FiO2
– 7 L. - 70 % FiO2 10 L – 100%
– 8 L. – 80 % FiO2
– 9 L. - 90% FiO2
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2) O sistema de alto fluxo: O sistema de alto fluxo é aquele em que o fluxo total de gás que fornece ao equipamento é suficiente para proporcionar a totalidade do gás inspirado, o paciente somente respira o gás fornecido pelo sistema.
Máscara de Venturi
- Tem base no princípio de Bernoulli, para succionar o ar do meio ambiente e misturá-lo com o fluxo de oxigênio. Esse mecanismo oferece altos fluxos de gás com uma fração inspirada de O2 fixa.
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Indicação maior quando é necessário controlar de
forma fina a FIO2 – DPOC. -
Oferece fiO2 de 24, 28, 31, 35, 40 e 50% de acordo com a válvula.
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Fluxo de O 2: 4 a 8L/min.
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Desvantagem: não pode ser usada para prescrição domiciliar devido ao alto fluxo utilizado (no mínimo 3 l/min).
Tenda Facial
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Fornece um teor elevado de umidade, além de O2 suplementar;
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Utilizada com freqüência para crianças;
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construídas de material plástico transparente.
- Sistemas fechados de aspiração: consistem de uma sonda colocada em invólucro fechado que permanece atado ao tubo endotraqueal ou ao tubo de traqueostomia por 24 horas.
- Indicações: pacientes imunossuprimidos, pacientes infectados ativamente (ex.: tuberculose franca), ou pacientes com hipoxemia refratária grave com altos níveis de PEEP.
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Trach Care
- Eficiência na manutenção da normoxia nos pacientes em ventilação mandatória intermitente, não sendo necessária nenhuma forma adicional de oxigenação;
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É um método mais prático, fácil de ser realizado por uma só pessoa;
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Diminui a exposição dos profissionais;
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Não requer luva estéril;
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Não requer a desconexão do paciente do respirador;
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Mantém a PEEP e a FiO2;
- Desvantagens: alto custo.
Riscos da Oxigenoterapia
O risco da oxigenoterapia depende da duração e da dose de oxigênio utilizados. Caracteriza-se por envenenamento de enzimas celulares, formação insuficiente de surfactante pelos pneumócitos tipo II e dano funcional ao mecanismo mucociliar.
Se utilizarmos oxigênio a 100%, observaremos toxicidade já após 48 horas, sendo os sinais mais precoces de intoxicação por oxigênio o desconforto retroesternal, parestesias de extremidades, náuseas, vômitos e astenia.
Umidificadores
O oxigênio fornecido sob forma gasosa é seco, sendo necessário a adição de vapor de água antes que o O 2 alcance as vias aéreas. Os umidificadores promovem uma umidade relativa de 60% a 100%.
Quando o fluxo usado for menor que 4 l/min não há necessidade de umidificação . Fluxos acima deste levam à secura da mucosa nasal, de orofaringe, cefaléia, desconforto torácico e aumento da produção de muco.
Portadores de DPOC
A defesa de pacientes portadores de DPOC ante a retenção de CO2 está diminuída, pois perdem a capacidade de aumentar a ventilação na proporção que seria necessária para restabelecer os níveis de PaCO2.
Pacientes com maior grau de obstrução são os que têm tendência a menores PaO2 e maiores valores a PaCO2, e estes fatores passam a se somar no sentido de a hipoxemia passar a ser o fator principal no estímulo à ventilação através do quimiorreceptor periférico.
Se estes pacientes receberem fração inspirada de oxigênio que faça com que os níveis de PaO2 superem 55 a 60 mmHg, é bastante provável que se retire o estímulo único que eles apresentavam para manter a ventilação. Assim, podem passar a hipoventilar e reter CO2 progressivamente, podendo chegar à narcose e coma com apnéia. Por isso, são fundamentais a observação clínica constante e a participação ativa do fisioterapeuta com esse tipo de paciente.
Deve-se ter sempre o cuidado de administrar a Oxigenoterapia a baixos fluxos, em média 2 a 3L/minuto, mantendo a SatO2 em torno de 90 a 93% e a PaO2 entre 60 e 70mmHg. (POP Sta. Casa)
Fontes:
[DOC] ASPIRAÇÃO DE VIAS AÉREAS: Implicações para a(o) Enfermeira(o) de Cuidados Intensivos – Regina L. A. Willemen, Isabel Cruz.
[DOC] CEI - Informativo sobre a Trach Care
[Site] Fisioterapia Respiratória (Unesp)
[HTML] Oxigenação, ventilação e controle de vias aéreas - Edson Stefanini, Vicente Nicoliello de Siqueira. SOCESP - Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
[PPT] Oxigenoterapia - Juliana Garcia, Magda Neves. Unoeste - Universidade do Oeste Paulista.
[PDF] Oxigenoterapia Domiciliar Prolongada - Maria Christina Lombardi Machado.
[PDF] Oxigenoterapia no DPOC - Ingrid Evelin Stainoff
[PDF] Oxigenoterapia – Jerusa Fava
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA. Oxigenoterapia domiciliar prolongada (ODP). J. Pneumologia [online]. 2000, vol.26, n.6, pp. 341-350. ISSN 0102-3586. doi: 10.1590/S0102-35862000000600011.
[PDF] Suporte Básico às Vias Aéreas – Grupamento de Socorro e Emergência - Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro.
9 comentários:
Boa noite Regina, gostei sobre o que você postou sobre oxigenoterapia, uma aula e tanto.
Fábio Oliveira
Enfermeiro Assistencial e Docente em enfermagem Senac/SP
Boa noite Regina, gostei sobre o que você postou sobre oxigenoterapia, uma aula e tanto.
Fábio Oliveira
Enfermeiro Assistencial e Docente em enfermagem Senac/SP
Que bom que gostou do post, Fábio!
Obrigada pela visita!
Abç! :-)
Olá Regina, muito interessante esse post sobre oxigenoterapia. Parabéns, seu blog está muito interessante!
Ilídia Moreira
Acadêmica do 5º período de Fisioterapia - RJ
Trabalho excelente sou estudante de enfermagem me ajudou bastante.
Perdi meu pai por causa da DPOC. No estado terminal ele estava precisando de 15 litros de oxigenio !
Durante 2 anos ele fez uso de oxigenio domiciliar e aprendi muita coisa pra poder ajuda lo.
O complicado é que nos 20 dias de sua ultima internação tive que ensinar os enfermeiros as técnicas.
Parabéns pele matéria é de fundamental importância que os enfermeiros e auxiliares se aprofundem na área para trazer mais segurança e conforto aos pacientes de DPOC.
O sistema de saúde no Brasil enfrenta diversos problemas que, muitas vezes, resultam em histórias tristes no ramo da assistência ao paciente. Meus sentimentos pelo seu pai e parabéns pelo empenho em tentar ajudá-lo por meio do acompanhamento e da busca da informação. Torçamos para que esse cenário complicado melhore ao longo dos anos.
Agradeço a todos pela visita ao blog e pelos comentários.
Um abraço grande.
Boa tarde pessoal,
Sou completamente leiga neste assunto, cheguei até aqui porque estou procurando uma forma de ajudar meu sogro, ele tem 92 anos e tem sofrido muito com enfisema pulmonar. A oxigênio domiciliar pode ajudar a reduzir as crises? É de fácil manuseio? Pergunto porque mora somente ele e minha sogra de 80 anos. Desde já obrigada.
Meu bebe de 03 meses foi diagnosticado com hipoxemia. Mas foi numa emergencia,pq ele tem bronquiolite. Mais o pediatra disse q se ele apresentou os sintomas na emergencia e pq ele realmente tem a doença. Porem gostaria de saber de existem exames especificos para identificar a veracidade da doença. Pq as vezes ele chega a 58% de oxigenio so e eu tenho que correr pro pronto socorro.
Priscilla torres
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