quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Tosse Cinética


Definição:

É uma técnica de facilitação de tosse voluntária.

Objetivo:

Efetivar o mecanismo da tosse, para que se obtenha uma adequada eliminação das secreções retidas e evitar assim complicações bronco pulmonares.

Indicações:

Doenças hipersecretivas, Pós-operatórios.

Contra-Indicações:

Hemorragias, principalmente digestiva e pulmonar;
Fístulas broncopleurais;
Paciente desorientado e inconsciente;
Presença de sutura com risco de evisceração;
Pressão intracraniana aumentada.

Material Necessário:

Lenço descartável ou compressas.

Orientação ao paciente pré-procedimento:

*Esclarecer a importância do procedimento objetivando profilaxia de complicações pulmonares. 
*Explicar como será feita, pois necessita da colaboração do paciente.
*Esclarecer, conscientizar o paciente que esse procedimento será repetido quando necessário, mesmo quando a dor estiver presente no caso, por exemplo, de pós-operatório.

Descrição do Procedimento:

Descrevemos as diferentes modalidades:

A)TOSSE TÉCNICA:

Inicialmente o fisioterapeuta deve usar o comando verbal adequado, possibilitando que o paciente aprenda a técnica corretamente, para que a mesma seja efetuada com eficácia.

O paciente deverá realizar lentamente a inspiração, prévia ao ato tossígeo usando o padrão diafragmático associado ao padrão intercostal.

Em seguida realiza uma breve apnéia pós-inspiratória.

Logo em seguida, efetuar uma brusca e curta respiração (tossir).

B)HUFFING OU HUFF:

Paciente inspira suave e profundamente usando o padrão diafragmático, associado ao padrão intercostal expandindo a região costo-basal.

Em seguida breve apnéia pós-inspiratória de mais ou menos 03 seg.

Em seguida faz uma expiração profunda descontraída com a boca aberta, utilizando a sua musculatura abdominal, se possível com a compressão manual sobre o abdômen.

C)TOSSE EM 03 TEMPOS:

Tosse deverá ser rápida, consecutiva em 03 tempos, sendo o último tempo expiratório longo, tal qual o Huffing, retirando a musculatura abdominal, e elevando o diafragma abdominal.

D)TOSSE TÉCNICA COM O USO DE SMI (Sustentação Máxima Inspiratória):

É o uso da SMI com a tosse técnica já descrita.

A sustentação máxima de inspiração visa aproveitar a inspiração ativa profunda sustentada por um intervalo de tempo pré-determinado, no ganho de uma tosse bem mais eficaz e produtiva.

Orientação ao Paciente e/ou Familiar Pós-Procedimento:

Se sentir vontade de tossir, deve proceder da maneira que foi orientado.

Pontos Críticos e Riscos:

Dispnéia, ansiedade, vertigem, sentir dor nos casos de pós-operatório e dificuldade na compreensão e/ou execução da técnica.

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FONTE: Texto disponível no site Concurso e Fisioterapia, retirado em 15/10/2014.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O que é costocondrite? ¹

A costocondrite é uma inflamação da cartilagem que liga as costelas ao esterno ou osso do peito. Ela causa dor e sensibilidade na parede torácica que se assemelham, freqüentemente, ao que a pessoa sente com um ataque do coração ou outros problemas cardíacos. 

Em geral, a costocondrite não tem causa aparente e passa sozinha. O tratamento é direcionado a diminuir a dor enquanto o paciente espera o problema resolver-se. 


Quais são os sintomas da costocondrite? 

• Dor e sensibilidade na parede torácica, que podem tanto ser agudas como brandas e incômodas. 

• Dor que muitas vezes se manifesta no lado esquerdo do esterno, embora possa ocorrer em qualquer um dos lados do tórax. 

• Dor ao inspirar na respiração profunda. 

• Dor ao tossir. 

• Dificuldade de respirar. 


Quais são algumas das causas da costocondrite? 

Na maioria dos casos, a causa da costocondrite é desconhecida. Entretanto, há ocasiões em que existe claramente uma causa. Eis alguns exemplos: 

• Lesão – Um golpe no peito (ou sobrecarga muscular causada por alguma alguma atividade física); 

• Infecção – É possível uma infecção se desenvolver na articulação esternocostal, causando dor; 

• Fibromialgia – A costocondrite pode ser um sintoma de fibromialgia, a qual é uma enfermidade que causa dor muscular e uma sensação contínua de cansaço. 


Como o médico diagnosticará a costocondrite? 

O médico fará um levantamento do seu histórico de saúde, lhe perguntará sobre os seus sintomas e realizará um exame médico. Possivelmente, apalpará a extensão do esterno à procura de áreas sensíveis ou inchadas. 

Essa enfermidade não pode ser visualizada por radiografia; contudo, talvez o médico solicite alguns exames diagnósticos a fim de eliminar outras causas da dor, tais como doenças cardíacas ou problemas gastroinstestinais. 


Como é tratada a costocondrite? 

A costocondrite geralmente passa sozinha em uma ou duas semanas. Para que você se sinta mais confortável, pode ser que o médico lhe recomende tomar: 

• Medicamentos anti-inflamatórios não esteróides, conhecidos pela sigla AINEs (NSAIDs, em inglês) – tais como ibuprofeno (Advil, Motrin) ou naproxeno (Aleve); 

• Relaxantes musculares – ajudam a diminuir a dor. 

Os medicamentos de ambas essas classes podem ser irritantes ao estômago e devem ser ingeridos junto com as refeições. 

Existem, ainda, medidas de auto-cuidados que você pode tomar para melhorar o seu nível de conforto. Algumas delas são: 

• Repousar bastante e evitar atividades que fazem a dor piorar; 
• Praticar exercícios físicos leves, tais como caminhar ou nadar, para melhorar o seu humor e manter o seu corpo saudável. Porém, não exagere no exercício e pare se a dor aumentar ao praticá-lo. 
• Pode ser que o seu médico sugira a aplicação de uma compressa térmica na região dolorida várias vezes por dia. Mantenha o ajuste da compressa térmica no nível baixo para evitar queimaduras. 


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  1. Texto retirado da Folha de Informação aos Pacientes do Danbury Hospital
  2. Fonte: American Academy of Family Physicians através do site www.familydoctor.org. The Mayo Foundation for Medical Education and Research através do site www.mayoclinic.com

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Benefícios da Atividade Física durante o Tratamento Oncológico (*)

(Kamila Favarao Adorni - Fisioterapeuta)

Segundo a OMS, podemos definir a atividade física, como qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, que resulte em gasto energético maior que os níveis de repouso.

1. Quais os benefícios de atividade física?

Inúmeros estudos demonstram que os mecanismos de regulação e de defesa do corpo que lutam contra o câncer podem ser estimulados pela atividade física. Alguns exemplos:
  • Reduz a quantidade de tecido adiposo – principal local de estocagem de toxinas cancerígenas; 
  • Reduz o excesso de estrógenos e de testosterona; 
  • Reduz a taxa de açúcar no sangue, consequentemente, a secreção de insulina e IGF; 
  • Atua no sistema imunológico, alem dos benefícios já conhecidos por todos, como melhora do humor, da disposição e consequentemente melhora da qualidade de vida. 

2. Quem deve ser o profissional a prescrever e realizar as orientações para a prática da atividade física no paciente oncológico?

O profissional mais indicado, é o fisioterapeuta, afinal é uma reabilitação física! E devemos estar atentos a todos os possíveis riscos deste paciente.

3. Pacientes em tratamento oncológico devem realizar atividade física?

O tratamento oncológico não impede a realização de uma atividade física (como por exemplo, caminhada). É até importante, para:
  • Manter ou melhorar sua capacidade física. 
  • Melhorar o equilíbrio, diminuindo o risco de quedas e ossos quebrados. 
  • Evitar o atrofiamento dos músculos. 
  • Diminuir o risco de doença cardíaca. 
  • Diminuir o risco de osteoporose. 
  • Melhorar o fluxo sanguíneo. 
  • Tornar o paciente independente para suas atividades cotidianas. 
  • Melhorar a autoestima. 
  • Diminuir o risco desenvolver depressão. 
  • Diminuir as náuseas. 
  • Melhorar o humor e o relacionamento social. 
  • Evitar a fadiga. 

4. Existe um momento ideal para a realização da atividade física durante o tratamento oncológico?

A atividade física pode ser iniciada desde o começo do tratamento, levando sempre em consideração as características individuais de cada paciente. A indicação do melhor momento, ira depender das condições clínicas atuais. Se o paciente estiver se sentindo bem, com exames controlados, é importante conversar com a equipe médica sobre o inicio da atividade física e, se não houver qualquer problema clínico, o paciente poderá iniciar.

5. Pacientes no pós cirúrgico se beneficiam com a atividade física?

Desde que não tenham nenhuma contra indicação medica, o paciente poderá usufruir dos benefícios da atividade física. Porem, neste momento a atividade de escolha deve ser muito leve, como por exemplo, uma caminhada em ritmo lento, duas vezes na semana.




6. Quais os cuidados que o fisioterapeuta deve ter ao prescrever a atividade física para o paciente oncológico?

Devemos estar atentos aos pacientes com número baixo de plaquetas, de hemoglobina, o profissional deve estar sempre verificando estes exames para adaptar as atividades de acordo com as condições do aluno/paciente.

Os parâmetros laboratoriais e de imagem são importantes para isso, o programa de exercício deve basear-se nas características individuais de cada paciente e levar em conta a avaliação clinica e os resultados críticos dos exames laboratoriais.

7. Quais são as precauções para iniciar a atividade física?

  • Certifique-se que seus níveis sanguíneos estão adequados.
  • Não faça exercícios físicos se estiver com anemia. 
  • Se suas taxas sanguíneas estiverem baixas evite locais públicos. 
  • Não pratique atividades físicas se o nível dos minerais no sangue, como sódio e potássio, não estiverem normais. 
  • Se você se sente cansado e sem vontade de praticar exercícios físicos, tente pelo menos fazer 10 minutos de alongamento diariamente. 
  • Evite superfícies irregulares e exercícios que possam fazer você se machucar. 
  • Evite exercícios que provoquem muita tensão nos ossos, se você tem osteoporose, metástase óssea, artrite e lesões nos nervos. 
  • Se você tem problemas de equilíbrio, prefira a bicicleta ergométrica à esteira. 
  • Avise seu médico se ganhar peso sem motivo aparente, tiver falta de ar ao mínimo esforço, tontura, dores, inchaços e visão turva. 
  • Observe a ocorrência de sangramentos, especialmente se estiver tomando anticoagulantes. 
  • Evite piscinas com cloro se tiver feito radioterapia. 
  • Se você estiver usando um cateter, evite esportes aquáticos e outros riscos que podem causar infecções. Evite também treinos de resistência que exercitem os músculos na região do cateter. 
  • Atividade física deve ser prescrita, orientada, acompanhada por um profissional da área de saúde, de preferência pelo fisioterapeuta, e o paciente deve ser reavaliado com freqüência. 

8. A prática de atividade física ajuda a reduzir a fadiga?

Sim, a pratica regular de atividade física, por meio de exercícios aeróbicos, como a caminhada, associado ou não a exercícios resistidos, diminui a fadiga relacionada ao câncer durante o tratamento. A maioria dos pacientes com câncer percebe que tem muito menos energia do que antes. Durante o tratamento, cerca de 70% dos pacientes apresentam fadiga. Esse tipo de cansaço do corpo e do cérebro não melhora com o repouso. Para muitos, a fadiga é intensa e limita suas atividades. A inatividade leva à perda de massa muscular e perda de função. Um programa de exercícios aeróbicos pode ajudar a fazer você se sentir melhor, podendo inclusive ser prescrito como tratamento para fadiga em pacientes com câncer.

9. Mesmo a fadiga causada pelos efeitos da quimioterapia?

Sim. Dicas para reduzir a fadiga:
  • Estabeleça uma rotina que permita que você faça os exercícios diariamente. 
  • Exercite-se regularmente. 
  • Faça pausa entre as séries de exercício. 
  • A menos que seja indicado o contrário, mantenha uma dieta equilibrada, que inclua proteínas, e beba cerca de 8 a 10 copos de água por dia. 
  • Faça atividades que lhe dão prazer. 
  • Use técnicas de relaxamento e visualização para reduzir o estresse. 

10. Como devo iniciar a pratica da atividade física?

Embora haja muitas razões para ser fisicamente ativo durante o tratamento do câncer, o programa deve ser baseado no que é seguro, eficaz e agradável para cada paciente. O programa deve levar em conta os programas anteriores de exercícios que o paciente já costumava seguir antes da doença e também seus novos limites. Portanto, o programa de exercícios deve ser adaptado aos seus interesses e necessidades, iniciando sempre de forma lenta e através de exercícios leves.

Dicas para iniciar a atividade física:
  • Comece gradualmente; 
  • Faça regularmente (30 minutos de caminhada seis vezes na semana); 
  • Tente atividades suaves; 
  • Busque o prazer; 
  • Caso sinta-se melhor, faça em grupos; 
  • Não desista! 

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(*)Texto retirado do Site da Associação Brasileira de Fisioterapia em Oncologia em 22/08/2014. Kamila Favarao Adorni é Fisioterapeuta, com mestrado em Saúde da Mulher.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Trabalho: Amor feito visível




"Sempre vos disseram que o trabalho é uma maldição e o labor uma desgraça. Mas eu vos digo que, quando trabalhais, desempenhas uma missão que vos foi designada.

Disseram-vos que a vida é escuridão... 
No vosso cansaço, repetis o que os cansados vos disseram. 

E eu vos digo que a vida é realmente escuridão, 
exceto quando há um impulso...
E todo impulso é cego, exceto quando há saber...
E todo saber é vão, exceto quando há trabalho...
E todo trabalho é vazio, exceto quando há amor...

E quando trabalhais com amor, 
vós vos unis a vós próprios, e uns aos outros, e a Deus.
E que é trabalhar com amor? 

É tecer o tecido com fios desfiados de vosso próprio coração, 
como se vosso bem-amado fosse usar esse tecido...
É construir uma casa com afeição, 
como se vosso bem-amado fosse habitar essa casa...
É semear as sementes com ternura e recolher a colheita com alegria, como se vosso bem-amado fosse comer-lhe os frutos...
É pôr em todas as coisas que fazeis um sopro de vossa alma.

O trabalho é o amor feito visível...
O trabalho feito com amor provê não só as necessidades do corpo, mas também as da alma."

(Trechos extraídos do texto da Redação do Momento Espírita)

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segunda-feira, 17 de março de 2014

Sindrome da Banda Ilio-Tibial (Síndrome do Corredor)

(Por Charlotte Cazaban)


A Síndrome da Banda Ilio-Tibial, também designada “síndrome do corredor”, trata-se de um conjunto de sinais e sintomas ao nível da Banda Ilio-Tibial. Essa estrutura fibrosa, corresponde ao tendão que surge dos músculos grande glúteo e tensor da fáscia lata e insere-se numa região óssea designada por tubérculo de Gerdy, situada na parte externa da tíbia. Durante 20 a 30º de flexão do joelho (sempre que o joelho dobra aproximadamente na amplitude de movimento normal do passo) esta estrutura tendinosa fricciona (passa por cima) do epicôndilo externo (proeminência óssea do fémur).

Lesões desportivas de sobrecarga provocada por múltiplos movimentos repetidos, particularmente no movimento de flexão/extensão do joelho, podem desencadear esta síndrome. Reconhece-se também que as suas causas podem ter várias origens, sendo que as mais aceitas são encurtamentos ou fraqueza de músculos específicos (ex. tensor da fáscia lata, médio glúteo, adutores entre outros) ou alterações anatômicas estruturais, como diferenças de comprimento entre os membros inferiores (pernas), varismo dos joelhos (pernas arqueadas) e pronação excessiva do pé (pé plano). Para além destas, são descritas outras causas, como o uso de calçado inadequado ou desgastado, treinos com alterações bruscas de intensidade e velocidade, e alterações sucessivas das superfícies de treino (ex. pisos planos para pisos inclinados).

O Síndrome da banda ílio-tibial atinge fundamentalmente atletas ou populações fisicamente ativas, predominantemente os corredores de curta ou longa distância, devido à sobrecarga causada pela grande repetição do movimento. Do ponto de vista científico, resultados de alguns estudos referem que durante uma corrida de curta duração a banda ílio-tibial move-se (fricciona) cerca de 90 vezes por minuto ou 22.000 vezes durante uma corrida de longa duração (ex. maratona). Além de ser muito frequente em corredores (seja qual for o nível competitivo), atualmente também se têm registado inúmeros casos em ciclistas de estrada ou de BTT.

Geralmente os sintomas (dor) são sentidos em nível do compartimento externo do joelho (parte de fora do joelho), podendo difundir-se (estender-se) ao longo da face externa da coxa (perna). A dor pode surgir mais ou menos 10 minutos após o inicio do treino, de acordo com a duração e/ou intensidade do mesmo, e em situações muito severas (de muita dor) obriga à paragem total. Em fases avançadas / crônicas os sintomas podem permanecer após o fim do do treino, em atividades como: descer ou subir escadas ou após períodos prolongados na posição de sentado. Em certos casos são descritas sensações de crepitação e de irritabilidade.

Qual é o tratamento?

- Recomenda-se repouso da atividade e a alteração, sempre que possível, das rotinas ou intensidade da corrida o treino de bicicleta (solicite ao seu fisioterapeuta várias sugestões).

- Programas de exercícios de alongamento e/ou de fortalecimento que visam a melhorar a dinâmica de músculos específicos e relevantes,

- Dependendo da identificação da causa dos seus sintomas, podem ser necessárias avaliações específicas da postura e comportamento mecânico do seu pé; alteração do calçado e pisos de treino.

- Aplicação de gelo e de alguns agentes físicos que visem à diminuição os seus sintomas podem também ser recursos necessários.

- Indicação de cirurgia é raro, mas em casos particulares pode representar uma alternativa.


A prevenção do aparecimento da síndrome da banda ílio-tibial é feita por meio da manutenção de um programa de alongamentos específicos, da frequente adequação do calçado utilizado e do ajuste dos níveis de treino.

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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O Cigarro e a Boca

(Por Dr. Dráuzio Varella*)

Orlando Parise é médico cirurgião do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, especialista em cabeça e pescoço.



Alguns psiquiatras elaboraram longos estudos a respeito da sensualidade associada ao ato de fumar e estabeleceram uma relação entre o gestual de levar o cigarro à boca, o jogo dos lábios e as fases mais precoces da sexualidade.

Muitos são os motivos que podem levar uma pessoa ao hábito de fumar. No entanto, ninguém discute que a fumaça do cigarro e seus componentes – são mais de 4 mil substâncias nocivas – provocam ação deletéria não só na cavidade oral, mas em todo o organismo.


Agressividade da Fumaça do Cigarro

Drauzio – Quais os danos causados pela fumaça carregada de agentes químicos que o fumante joga na boca dezenas ou mesmo centenas de vezes ao dia?

Orlando Parisi – A primeira coisa a considerar é que na fumaça do cigarro não há apenas nicotina e alcatrão. Testes laboratoriais demonstram nela existirem centenas de compostos comprovadamente cancerígenos que agridem a mucosa da boca. Além disso, ela sai do cigarro muito quente. Portanto, os danos à mucosa não advêm apenas dos agentes químicos, mas também da agressão térmica resultante da alta temperatura em que a fumaça é absorvida.

Há, ainda, outra agravante. Associar tabaco a bebidas alcoólicas implica consequências dramáticas, porque o álcool ajuda a dissolver tanto a nicotina quanto as demais substâncias nocivas presentes no cigarro, aumentando sua concentração. Mais concentrados, esses compostos irritam a mucosa e favorecem o aparecimento de lesões na boca que, com o passar do tempo, podem tornar-se malignas. Quem já não viu um fumante, numa roda social, dar uma tragada, pegar um copo de uísque ou de outra bebida qualquer, levá-lo à boca, beber um gole, descansar o copo sobre a mesa e dar nova tragada sem dar-se conta do mal que está causando ao próprio organismo.

Drauzio – O cigarro é uma droga compulsiva, que provoca repetidas, intensas e desagradáveis crises de abstinência. Como ex-fumante, com toda a sinceridade, não acredito existir, hoje em dia, dependente de nicotina que não queira abandonar de vez o cigarro. Como orientar essas pessoas?

Orlando Parisi — De fato, deixar de fumar não é fácil. Já assisti a todos os tipos de tentativas e de fracassos. Por isso, encaminhamos essas pessoas para grupos de apoio nos quais encontrarão profissionais especializados para ajudá-las. Se já houver uma lesão pré-neoplásica, esse recurso assume valor inestimável, porque parar de fumar é questão de sobrevivência.

Lesões Predisponentes Para o Câncer de Boca

Drauzio – Você poderia começar falando das lesões pré-malignas que aparecem na boca?

Orlando Parisi – O câncer da boca basicamente incide sobre a população masculina, na proporção de três homens para cada mulher. Por isso, o cuidado maior deve recair sobre os homens na quarta década de vida e tabagistas. Neles, toda a lesão branca ou vermelha que surgir na boca precisa ser vista e acompanhada por um médico. O termo científico para tais lesões é leucoplasias com eritoplasias. São placas brancas, bem delimitadas, com aspecto mais ou menos característico.

Drauzio — Elas aparecem mais frequentemente em que lugar da boca?

Orlando ParisiAparecem na mucosa da bochecha, na língua ou no assoalho da boca e todo o fumante que notar sua presença deve procurar auxílio médico o mais depressa possível.

Gostaria de ressaltar, porém, que se atribui maior importância a essas lesões predisponentes para a gênese do câncer nos Estados Unidos e na Europa do que nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Aqui, talvez por falta de rastreamento populacional, em 85% dos casos, quando a doença é diagnosticada, o tumor está em fase avançada localmente na boca ou já atingiu os gânglios do pescoço. A terapia indicada nesse estágio da evolução pressupõe cirurgias mais radicais com impacto negativo no resultado final, no alto custo e no comprometimento da aparência física.

Drauzio – Essas lesões sangram necessariamente?

Orlando Parisi – Elas não sangram necessariamente. Na verdade, são muito heterogêneas na apresentação. Algumas formam um tumor na boca; outras, uma ferida ulcerada ou uma placa completamente assintomática. O aspecto é bastante variável. Por isso, qualquer coisa anormal que se note na boca, em especial na borda da língua, é motivo de preocupação e um médico deve avaliar o problema.

Drauzio – Os tumores de boca começam sempre por essas lesões ou eles podem instalar-se sem que elas surjam antes?

Orlando Parisi – Às vezes, eles se instalam diretamente sem que o doente perceba a presença de uma lesão pré-existente.

Exames Periódicos com Especialistas

Drauzio – O fumante, mesmo que não tenha nada, de quanto em quanto tempo precisa ir a um especialista para examinar a boca?

Orlando ParisiNo mínimo, uma vez por ano, de preferência a cada seis meses, o fumante deve submeter-se a exame rigoroso da cavidade oral. No Brasil, quem examina a boca quase sempre é o dentista. Infelizmente, nem todas as faculdades de odontologia preparam esses profissionais para identificar lesões que predispõem ao câncer. Por outro lado, quantas vezes a pessoa vai a um clínico geral que a examina com cuidado, mas não usa o abaixador de língua para olhar a boca o que é uma pena, pois talvez esse fosse o rastreamento populacional mais barato e simples de fazer, já que requer apenas uma lanterninha, o abaixador de língua e o olhar atento de um profissional.

Desse modo, não são raros os pacientes que, pouco tempo depois de uma consulta médica, perceberam alguma coisa estranha na boca durante a higiene oral, ou, pior, pessoas com lesões embaixo da dentadura que procuraram o dentista e tiveram a prótese desbastada para acomodar melhor o tumor que crescia.

Drauzio – Já vi casos de doentes com tumor embaixo da língua, acompanhados por otorrinolaringologistas, que nunca a tinham levantado para verificar se havia algo diferente naquele lugar.

Orlando Parisi – Porque isso pode acontecer, é sempre bom repetir que qualquer coisa estranha que apareça na boca, principalmente na dos fumantes, deve ser vista com muita seriedade.

Incidência do Câncer de Boca

Drauzio – No Brasil, o álcool é barato e muita gente bebe demais. É interessante notar, porém, que nem todos os fumantes têm o hábito de beber. No entanto, quem bebe, normalmente fuma muito. Qual o reflexo desse comportamento na ocorrência do câncer de boca?

Orlando Parisi – De modo geral, estima-se que aproximadamente 90% dos portadores de tumores malignos de cabeça e pescoço ligados ao consumo de tabaco e álcool sejam tabagistas e 70% ingiram álcool com frequência. Na verdade, existem três fatores de risco principais para essa doença: tabaco, álcool e má higiene oral.

Não sei se existem dados confiáveis no Brasil inteiro, mas, na região metropolitana da cidade de São Paulo, ocorre a segunda maior incidência de câncer de boca do mundo. Só perdemos para a Índia. Em termos estatísticos, isso significa que em cada cem mil pessoas, cerca de dezenove desenvolvem câncer de boca.

Outro dado interessante baseia-se nas lesões predisponentes para o câncer de boca. No Estado de São Paulo, a estimativa é que haja cinco mil novos casos de câncer de boca por ano. Se considerarmos que a cada caso correspondem outros cinco de lesões predisponentes que podem demorar 20 anos para transformar-se num câncer, é possível imaginar que, em algum momento dessa etapa evolutiva da carcinogênese no Estado, haverá seiscentas mil pessoas com risco de desenvolver câncer ou com a doença já instalada.

Drauzio – Haverá especialistas em número suficiente para atender tal demanda?

Orlando Parisi – Em termos estaduais, não sei avaliar, mas na cidade de São Paulo é grande o número de cirurgiões de cabeça e pescoço. O grande problema, porém, é que a população de risco pertence, em regra, a um extrato social economicamente mais desfavorecido, que enfrenta enormes obstáculos para receber um serviço de saúde de qualidade. Muitas vezes, quando esses pacientes são atendidos, as lesões já estão em fase bem avançada. Para se ter uma ideia, há números que evidenciam a gravidade da situação.

No norte da Europa e nos Estados Unidos, os programas de rastreamento populacional não obtiveram resultados significativos na redução da curva de mortalidade ou da incidência do câncer de boca, mas conseguiram diagnosticar 85% das lesões ainda na fase pré-maligna, evitando que muitas evoluíssem mal. Aqui, ao contrário, os mesmos 85% representam as lesões malignas que chegam para começar o tratamento em estágio avançado. Por isso, defendo que uma política firme e determinada de rastreamento alcançaria resultados importantes na prevenção do câncer de boca.

Autoexame e População de Risco

Drauzio – Você acha que o autoexame, isto é, a pessoa examinar a própria boca diante do espelho, abaixando a língua com uma colher e erguendo-a em seguida, ajudaria na prevenção da doença?

Orlando ParisiAcho útil, mas é pouco provável que o autoexame ajude a pessoa a diferenciar as lesões benignas das malignas por causa da heterogeneidade de aspecto dessas lesões. Em relação ao câncer de mama, por exemplo, é fácil explicar à mulher a importância de apalpar o próprio seio e, notando algum caroço, procurar imediatamente o médico. Na boca, entretanto, não existe um único sinal característico de lesão maligna. Por isso, insisto: percebendo alguma coisa anormal na boca, a pessoa deve procurar um médico.

Acredito, também, em campanhas de esclarecimento cujo objetivo seja convencer os fumantes acima de 40 anos e as pessoas com história de parentes próximos que tiveram câncer de cabeça, pescoço ou de boca, da necessidade de exames periódicos, uma vez que há certa propensão familiar para essa espécie de tumor.

Outra população particularmente de risco é a que já teve algum tipo de câncer de cabeça ou pescoço e está curada. A recidiva costuma ocorrer em mais ou menos 5% dos pacientes a cada ano que passa. Por isso, o acompanhamento médico tem de ser permanente nesses casos.

Drauzio – É importante frisar que Dr. Parisi está se referindo exclusivamente ao câncer nesse local. Isso não vale para outros tumores. Por exemplo, quem se curou de um tumor de estômago e está curado, dificilmente terá outro câncer gástrico. Nos tumores de cabeça e pescoço, em 5% dos casos ao ano, existe a possibilidade de um segundo tumor primário desenvolver-se nas proximidades do lugar que já foi tratado. Por isso, mesmo os pacientes já curados não podem descuidar-se.

Erradicação do Câncer de Boca

Drauzio O que aconteceria se, num passe de mágica, o cigarro desaparecesse da face da Terra?

Orlando Parisi – Na área médica, o desemprego seria muito grande, porque haveria menos doentes para atender, já que o cigarro responde pelo surgimento de inúmeras doenças.

No caso específico dos tumores de boca, sem dúvida, eles seriam muito raros. E isso é apenas parte da equação. Diminuiria, também, a incidência de câncer de pulmão e de doenças do aparelho cardiorrespiratório, para não mencionar as outras patologias decorrentes da adição do fumo.

Se todos levassem a sério os danos que causa à saúde, o cigarro estaria proibido no mundo inteiro. Mas há quem defenda a não intervenção sobre o tabagismo. O argumento está nos impostos que sobre ele incidem, uma fonte de arrecadação nada desprezível. A mais otimista das análises, porém, indica que para cada real gerado pelo tabaco, o governo gasta R$1,60 com a saúde dos fumantes. São cifras cruas que consideram tão-somente as despesas com saúde sem levar em conta outros gastos maiores. Por exemplo, quanto despendeu a sociedade para formar o indivíduo que morre de câncer no apogeu profissional, aos 50 e poucos anos? Quanto vale o tempo que os doentes perdem de trabalho produtivo?

Aparência da Boca do Fumante

Drauzio – Só de olhar a boca de uma pessoa, você é capaz de dizer se ela é fumante ou não?

Orlando Parisi Sempre há alterações significativas na boca do fumante. A primeira é a halitose. O mau hálito dos fumantes tem características muito peculiares. Depois existem os problemas dos dentes e das gengivas.

Basicamente, o cigarro provoca uma inflamação crônica na mucosa que, irritada, favorece o aparecimento de lesões predisponentes. Constatado o problema, a pessoa deve ser avisada do risco que está correndo se continuar fumando.

Drauzio – Você nota essas alterações mesmo em fumantes jovens de 18 ou 20 anos?

Orlando Parisi — É claro que as alterações são menores em quem fuma há pouco tempo. No entanto, quanto mais longa a exposição ao tabaco, mais evidentes elas serão. Cada indivíduo tem uma capacidade diferente para desenvolver ou não um câncer ligado à dependência de nicotina. Na realidade, já se tentou correlacionar linearmente tempo e exposição ao tabaco para justificar o surgimento de um tumor, mas não se chegou a nenhum resultado preciso, porque o metabolismo dos agentes carcinogênicos do cigarro difere de pessoa para pessoa. Sabe-se que certos indivíduos herdaram características genéticas que os tornam menos vulneráveis aos efeitos do cigarro. Todo doente, aconselhado a parar de fumar, conta a história de um tio que viveu até os 90 anos fumando dois maços por dia. Esse privilégio de alguns está longe de transformar-se numa regra e não garante, em hipótese alguma, que o risco não exista para os outros membros da família.



Uso de Próteses Dentárias

Drauzio – Além do cigarro e das concentrações de casos em certas famílias, há outras causas do câncer de boca? As próteses, que ferem repetidamente a boca, por exemplo, podem provocar o aparecimento de um tumor?

Orlando Parisi – Esse é um dado polêmico. Antigamente se acreditava que havia uma correlação linear entre o mau ajuste das próteses dentárias e o câncer de boca. Todavia, recentemente, foram divulgados estudos criteriosos que não conseguiram comprovar essa hipótese. Pessoalmente não acredito nela, uma vez que, suspendendo o atrito traumatizante, a ferida muitas vezes cicatriza. O problema está no fato de que, em geral, convive com prótese mal ajustada o indivíduo sem condições de usufruir assistência dentária adequada. Além disso, seu uso pode estar associado ao tabagismo e ao alcoolismo, estes, sim, fatores de risco para o câncer em geral e o câncer da boca em particular. A prótese defeituosa pode causar ferimentos que, continuamente expostos às agressões químicas e térmicas provocadas pelo cigarro, transformam-se em lesões predisponentes. Esse é um perigo real a que se expõem inúmeras pessoas.


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*Fonte: Esta matéria foi publicada no site do Dr. Dráuzio Varella


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